O consumo de bebidas alcoólicas é considerado uma prática relativamente comum em diferentes contextos culturais mundo agora — de rituais religiosos a confraternizações com amigos. A substância psicoativa favorece a desinibição e o relaxamento, o que faz o álcool ser encarado como um facilitador das relações sociais.
Contudo, esse suposto “benefício” não vem sem cobrar um preço alto. Como indica a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), beber álcool é um fator de risco para mais de 200 problemas de saúde. Ele está associado, por exemplo, ao desenvolvimento de lesões resultantes de acidentes de trânsito e doenças não transmissíveis graves (como cirrose hepática, alguns tipos de câncer e problemas cardiovasculares).
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O abuso de bebidas alcoólicas ainda pode levar a um quadro de dependência química, popularmente conhecido como alcoolismo, que oferece riscos tanto ao indivíduo em si quanto às pessoas de seu convívio. Isso ocorre porque a substância estimula a liberação de neurotransmissores no cérebro que levam a uma viciante sensação de prazer e bem-estar.
Sem a dopamina, a serotonina e outros neurotransmissores secretados por meio do uso do álcool, a pessoa passa a apresentar sintomas de abstinência. Daí a importância de se manter atento às quantidades consumidas, assim como à possível relação compulsiva estabelecida com a bebida.
A seguir, confira em quatro pontos importantes sobre o consumo alcoólico:
1. Não existe um limite seguro de álcool
A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara: quanto menos, melhor. Para pessoas com doenças crônicas – especialmente as relacionadas ao fígado –, a OMS indica, inclusive, eliminar completamente a ingestão alcoólica.
Inclusive, a ideia amplamente divulgada de que uma taça de vinho por dia faz bem ao coração não é um benefício confirmado pela ciência. Os estudos que primeiro sugeriram essa correlação eram bastante limitados, e não consideravam em seus resultados outros hábitos, como a prática de exercícios e a manutenção de uma rotina de sono regulada, o que pode ter influenciado nas conclusões das pesquisas.
Mais do que isso, eles não colocavam na balança os riscos que o consumo regular de álcool poderia oferecer ao fígado e a outros órgãos.
2. Uma relação desequilibrada com o álcool reflete sinais típicos
Cada organismo reage de maneira distinta ao álcool, e os riscos à saúde aumentam proporcionalmente à frequência e à quantidade consumida. Uma relação desequilibrada com o álcool pode se manifestar de diferentes formas. Entre os principais sinais de alerta estão:
- Falta de consciência sobre a quantidade ingerida;
- Comentários de amigos ou familiares sobre mudanças de comportamento;
- Problemas de memória e de socialização;
- Sintomas físicos graves, como dores no fígado;
- Episódios de abstinência.
3. As complicações do abuso do álcool são diversas
A longo prazo, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode desencadear uma série de complicações que afetam não apenas a saúde física e mental, mas também a vida social e familiar do indivíduo. Conhecer essas consequências é fundamental para compreender os reais impactos do hábito. São eles:
Danos ao fígado
O fígado é um dos órgãos mais diretamente afetados pelo álcool. O consumo constante e em grandes quantidades pode provocar inflamações hepáticas, como esteatose (acúmulo de gordura), hepatite alcoólica e, nos quadros mais graves, a cirrose – uma condição crônica e irreversível, em que o tecido hepático saudável é substituído por cicatrizes. A cirrose pode evoluir para falência hepática, exigindo transplante de fígado e, em muitos casos, levando à morte.
Problemas psicológicos
O álcool afeta diretamente o sistema nervoso central e pode agravar transtornos psiquiátricos pré-existentes, como depressão, ansiedade e bipolaridade. Em indivíduos que estejam passando por momentos de maior vulnerabilidade emocional, a substância pode até desencadear novos quadros clínicos.
Seu uso frequente também está associado a dificuldades cognitivas, alterações de humor, perda de memória e prejuízo na tomada de decisões, comprometendo o desempenho acadêmico e profissional.
Consequências sociais e familiares
A bebida em excesso não afeta apenas quem a consome. Muitas vezes, o álcool está no centro de conflitos familiares, agressividade, negligência parental e até episódios de violência doméstica. Problemas nos relacionamentos, afastamento de amigos e isolamento social também são consequências comuns, tornando o consumo uma questão de saúde pública, não apenas individual.
Risco de dependência
O consumo regular de álcool pode evoluir para dependência química, condição caracterizada pela necessidade compulsiva de beber. A doença compulsiva causa tolerância (necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito) e sintomas de abstinência quando o uso é interrompido, como tremores, ansiedade, sudorese e insônia.
Efeitos físicos imediatos
Mesmo em curto prazo, o consumo excessivo pode gerar intoxicação alcoólica, com sintomas como náuseas, vômitos, confusão mental, perda de coordenação motora e inconsciência. Esses efeitos aumentam o risco de acidentes de trânsito, quedas, comportamentos violentos e relações sexuais desprotegidas.
Impacto no sistema imunológico
Por fim, o álcool em grandes quantidades ainda prejudica o sistema imunológico, reduzindo a capacidade do corpo de combater infecções. Pessoas que consomem essas substâncias regularmente têm maior propensão a desenvolver doenças respiratórias, como pneumonia, e infecções bacterianas e virais em geral.
4. Conscientização é a chave para a prevenção
Conversar abertamente com as pessoas, sobretudo adolescentes e idosos, sobre os riscos do álcool é uma das formas mais eficazes de prevenção. A informação clara e baseada em evidências ajuda a desconstruir mitos e promover escolhas mais conscientes e saudáveis.
Para aqueles que escolhem beber, algumas práticas podem minimizar os riscos:
- Estabelecer limites aceitáveis e respeitá-los;
- Beber com moderação e intercalar o álcool com copos de água;
- Nunca beber de estômago vazio;
- Evitar o consumo em situações de vulnerabilidade emocional.
Revisão técnica: Sabrina Bernardez Pereira (CRM 154.981/RQE 45120), médica Escritório de Valor em Saúde Einstein. Doutorado em Ciências Cardiovasculares UFF, título de especialista em Cardiologia SBC/AMB.