Cuidar da saúde é um aprendizado contínuo. Desde os primeiros anos de vida, as crianças devem ser incentivadas a desenvolver uma relação de respeito e responsabilidade com seu próprio corpo e bem-estar mental. Esse processo de conscientização não se resume à transmissão de informações — ele envolve diálogo, exemplo e, principalmente, a construção de autonomia.
O objetivo principal da educação em saúde é empoderar as pessoas para que elas tenham uma visão crítica sobre o que contribui ou prejudica seu bem-estar físico, mental, emocional e até social. Isso vai desde as escolhas alimentares até a capacidade de reconhecer e comunicar emoções, compreender limites corporais e desenvolver hábitos de convivência.
Podcast “O que te trouxe aqui?” | Temporada 2, Episódio 14
Guiar os jovens em uma trajetória de autocuidado também é ensiná-los a zelar pelos outros e pelo ambiente em que vivem. A saúde individual está profundamente conectada à saúde coletiva. Quando uma criança aprende a higienizar as mãos, a se alimentar de forma equilibrada e a respeitar o espaço dos outros, ela também contribui para um ambiente mais saudável.
Essa abordagem amplia o conceito de saúde para além do corpo, provocando reflexões sobre o bem-estar coletivo com base no respeito e na empatia. Nesse contexto, a autonomia aparece não apenas como a independência de fazer escolhas sozinho, mas também ser capaz de pensar criticamente sobre elas e entender seus possíveis impactos.
Tarefa de todos
A responsabilidade por promover a educação em saúde não deve recair apenas sobre a família. Para formar indivíduos saudáveis e autônomos, é necessário um esforço conjunto entre governo, escolas, associações comunitárias, além dos próprios familiares.
O acesso à informação de qualidade é um ponto de partida, mas deve ser acompanhado de ações concretas e integradas. As políticas públicas de saúde e a educação devem caminhar juntas, de forma a manter programas e campanhas interdisciplinares com foco no desenvolvimento socioemocional.
Além das aulas de ciências ou educação física, é importante oferecer práticas interativas e significativas para os jovens. Montar hortas, criar oficinas de culinária nutritiva, promover rodas de conversa sobre sentimentos ou convidar profissionais da saúde para conversas tornam o aprendizado mais palpável e envolvente.
Por onde começar a educação em saúde?
Algumas práticas simples, mas consistentes, podem ter grande impacto na formação de crianças e adolescentes. Mais do que discursos, os jovens aprendem pelo exemplo e pela vivência.
Por isso, práticas educativas que envolvem o corpo, a mente e a convivência são fundamentais para consolidar esses aprendizados. Conheça seis exemplos a seguir.
1. Dieta equilibrada desde cedo
O ato de comer vai além da nutrição: também é uma forma de construir identidade, cultura e saúde. Ensinar as crianças a montar um prato equilibrado, conhecer os alimentos e entender a diferença entre alimentos saudáveis e produtos ultraprocessados contribui para decisões mais conscientes.
A ideia não é criar uma obsessão por uma dieta restritiva, mas sim estimular reflexões sobre os hábitos de consumo. A leitura de rótulos para identificar produtos com excesso de sal ou açúcar, por exemplo, pode ser uma atividade lúdica e que desperta o olhar crítico sobre a alimentação.
2. Rotina de sono
Ter horários regulares para dormir, acordar e cuidar do corpo reforça a noção de autocuidado. Além de melhorar a disposição física, o sono adequado regula o humor, fortalece a memória e diminui o risco de doenças.
Vale lembrar que, para dormir, não basta deitar-se na cama e fechar os olhos. É importante praticar a chamada higiene de sono, que inclui práticas como reduzir a incidência de luz e se afastar das telas — especialmente, a do celular.
3. Educação emocional
Aprender a reconhecer, nomear e expressar emoções é uma habilidade que impacta diretamente na saúde mental. Crianças que sabem identificar quando estão tristes, com raiva ou ansiosas têm mais facilidade para buscar ajuda, resolver conflitos e desenvolver empatia.
Atividades como rodas de conversa, desenhos de sentimentos, meditação guiada e dinâmicas de escuta ativa contribuem para esse processo. Caso seja necessário, também é possível buscar ajuda profissional com sessões de terapia com psicólogos e consulta com psiquiatra.
4. Sem tabus
Falar sobre o corpo com naturalidade e responsabilidade é fundamental para prevenir abusos e fortalecer a autoestima. Ensinar que algumas partes do corpo são íntimas e não podem ser tocadas sem consentimento é uma forma eficaz de empoderar a criança.
Da mesma forma, a educação sexual deve ir além da biologia, incluindo temas como respeito, consentimento, diversidade e prevenção de doenças. O mesmo cuidado deve ser feito em relação ao álcool e outras drogas. Pais e responsáveis precisam atuar como acolhedores e aconselhadores, sem julgamentos.
5. Uso responsável da internet e redes sociais
As tecnologias fazem parte da vida das novas gerações, mas é preciso aprender a usá-las com equilíbrio. Ensinar sobre tempo de tela, privacidade, cyberbullying, desinformação e os riscos do conteúdo inadequado é essencial. Mais do que proibir, o papel dos adultos é orientar e dialogar, ajudando os jovens a desenvolverem senso crítico digital.
6. Incentivo ao movimento
Atividades físicas devem ser incentivadas não como obrigação, mas como fontes de prazer e bem-estar. Esportes, danças, brincadeiras ao ar livre e caminhadas em família contribuem para o desenvolvimento motor, reduzem o estresse, fortalecem vínculos sociais e previnem o sedentarismo. O importante é que a criança encontre uma modalidade que faça sentido para ela.