Diferentemente das gerações passadas, as crianças e os adolescentes de hoje cresceram em meio à internet. O acesso facilitado a informações e pessoas fora do núcleo familiar faz com que tenham uma percepção um pouco diferente sobre si mesmos e suas relações interpessoais – o que pode afetar diretamente no processo de iniciação sexual.
Esse processo não se refere apenas à perda da virgindade, mas, sim, a todo o processo de compreensão da sexualidade. Envolve, por exemplo, entender a biologia por trás do sexo, identificar aquilo que atrai, explorar o próprio corpo, refletir sobre sua orientação sexual e dar os primeiros passos para se envolver romântica e sexualmente com outro indivíduo.
É desse ponto que parte a chamada educação sexual, que busca oferecer orientação e conhecimento para que os jovens comecem a vida sexual de maneira saudável.
Isso pode se dar por meio de palestras, rodas de conversa, tira-dúvidas e materiais didáticos focados em educar sobre mudanças corporais ao longo da vida, especialmente durante a puberdade. Além disso, busca-se criar um espaço seguro para discutir as práticas sexuais (beijo, toque e sexo) como algo natural, sem tabus, mas que exige responsabilidade e cuidado.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece esse esforço como um direito fundamental para garantir o bem-estar da população, e recomenda que ele seja iniciado a partir dos 5 anos. Esse processo deve ser feito de maneira gradual, com informações precisas e adequadas a cada idade. Por isso é tão importante que tanto as escolas quanto as famílias contribuam nesse diálogo.
Mas como promover a educação sexual? Conheça, a seguir, sete estratégias:
1. Nomear os órgãos sexuais
Ensinar as crianças a nomear corretamente seus órgãos genitais (pênis e vulva) é o primeiro passo para uma relação mais saudável com o próprio corpo. Ainda que apelidos infantis, como “pipi” ou “pepeca”, possam parecer mais confortáveis, os nomes científicos ajudam a criança a naturalizar o fato de que a genitália é apenas mais uma parte do corpo, como os braços ou os olhos.
Fazer isso evita constrangimentos e facilita a comunicação com adultos de confiança, como pais, responsáveis legais e médicos. Tal comportamento também ajuda a lidar com situações de desconforto ou abuso.
2. Estabelecer limites ao toque alheio
É essencial que a criança aprenda desde cedo que seu corpo não deve ser tocado sem permissão, e que nem ela deve tocar os outros sem o devido consentimento. Alimentar essa consciência corporal é um importante mecanismo de prevenção ao abuso sexual e ao desrespeito nas relações interpessoais.
3. Responder às perguntas
Por mais desconcertantes que algumas perguntas possam ser, é importante que crianças e adolescentes sintam que têm um canal aberto com seus responsáveis para tirar dúvidas e esclarecer coisas que ouviram de amigos ou em filmes, por exemplo. E, sim, isso quer dizer responder com sinceridade o clássico questionamento sobre de onde os bebês vêm.
As explicações devem ser adaptadas de forma honesta, considerando a idade de cada um. Não adianta tentar explicar todo o processo reprodutivo para uma criança pequena, mas contar mentiras ou histórias fantasiosas (como a de que a entrega dos recém-nascidos é feita por cegonhas) pode mais atrapalhar do que ajudar nesses casos.
Omissões tendem a aumentar a curiosidade do jovem e levá-lo a buscar informações mais detalhadas em outros lugares, como a internet. Aí sim, o risco de ele se deparar com materiais impróprios é maior.
4. Incentive o acompanhamento médico especializado
Além das consultas com o pediatra, é importante que os adolescentes tenham acesso a profissionais de saúde especializados. Busque um ginecologista ou urologista para orientar seu filho ou sua filha em relação às questões do início da vida sexual.
Esses médicos são capacitados para fornecer apoio e orientações sobre as mudanças provocadas pela puberdade e preparar os jovens para os primeiros contatos sexuais — alertando, inclusive, sobre a prática do sexo seguro, que evita a gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
5. Converse sobre consentimento
Na adolescência, é esperado que ocorram os primeiros namoros e interações sexuais. Por isso, o consentimento deve ser tratado como tema central das conversas em casa.
É fundamental que os jovens compreendam que cada passo na intimidade exige acordo mútuo, e que permitir uma situação não significa abrir mão de todos os limites. Aceitar dar um beijo não libera a pessoa de tocar outras regiões do corpo, por exemplo.
Respeitar a vontade do outro e saber dizer “não” são lições indispensáveis para relações saudáveis.
6. Informe sobre os riscos do sexo desprotegido
A educação sexual não pode ignorar os perigos de relações sem proteção. Conversas francas sobre gravidez na adolescência e ISTs são fundamentais. O uso de preservativos deve ser incentivado independentemente da identidade de gênero e orientação sexual.
O uso de preservativos, pílulas diárias, dispositivos intrauterinos (DIUs) e tantos outros métodos contraceptivos podem ser discutidos junto a um médico especialista.
7. Mantenha atenção à saúde mental
Por fim, em tempos de hiperconectividade, é preciso estar atento aos impactos da sexualização nas redes sociais. Imagens idealizadas de corpos irreais e comportamentos reforçados pela pornografia têm gerado sofrimento psíquico em muitos jovens.
As pressões para perder a virgindade, enquadrar-se em padrões estéticos e manter um certo desempenho sexual podem contribuir para quadros de ansiedade e depressão. Nos casos mais extremos, isso pode até evoluir para quadros de automutilação e ideação suicida.
Dessa forma, o apoio psicológico aparece como um fator crucial para lidar com essas demandas e proteger o bem-estar emocional de crianças e adolescentes.