“Brain rot” (ou “deterioração cerebral”, na tradução do inglês para o português) é o nome dado ao processo de danificação do estado mental ou intelectual de uma pessoa, em razão do consumo excessivo de conteúdo trivial e pouco desafiador, nos dias atuais muito associado ao uso excessivo das telas. A condição ganhou destaque nos últimos anos com a consolidação das redes sociais como parte do cotidiano da população — em 2024, foi eleita a palavra do ano pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Percebido, sobretudo, entre os indivíduos mais jovens, que cresceram com acesso aos recursos digitais, o problema pode estar associado a sintomas de empobrecimento das funções cognitivas, como dificuldade de concentração, fadiga mental e desatenção. Assim, traz prejuízos à saúde física, além dos empecilhos socioemocionais.
Vídeo: “Brain Rot”: a internet está derretendo o seu cérebro?
Conheça três pontos para entender melhor o que é esse distúrbio e quais são seus possíveis impactos.
1. Como a internet afeta o funcionamento do cérebro?
Por meio de imagens impactantes e sons estimulantes, as redes sociais são uma grande armadilha para o sistema de recompensa cerebral. Não à toa, as pessoas podem passar horas navegando por essas plataformas, que desencadeiam no cérebro a liberação de dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer.
Essas “gratificações” imediatas reconfiguram a nossa rede neural, de modo que ela se torna menos tolerante a processos que demandam mais tempo e esforço. Dessa forma, mais do que dependente da internet, o indivíduo ainda pode ficar isolado, apático, incapaz de raciocinar criticamente ou mesmo tomar decisões por si próprio.
2. Como identificar os sinais de brain rot?
A velocidade acelerada que os aplicativos promovem no mundo digital gera nas pessoas mais inquietude, impaciência e irritabilidade. Com isso, elas deixam de tolerar os momentos de tédio e têm dificuldade para lidar com frustrações.
Além disso, considerando que informações alarmistas e conteúdos de conflito prendem mais a atenção, um possível reflexo é o aumento do estado de alerta. Isso, consequentemente, gera estresse e ansiedade.
A arbitrariedade do que é publicado nas redes sociais, em que a maioria dos indivíduos compartilha apenas aquilo que é “positivo”, como conquistas pessoais e profissionais, viagens etc., pode levar à sensação de inadequação. E a comparação com essas vidas “perfeitas” pode desencadear um estado de baixa autoestima e depressão.
Por fim, outros sinais de alerta para o brain rot incluem a redução de atividades prazerosas no mundo offline, a baixa capacidade de socialização, a dificuldade de sono e a indisposição ao acordar. Se esse for o seu caso, o mais recomendado é buscar ajuda profissional de um psicólogo e de um psiquiatra.
3. Como evitar o brain rot?
Adotar alguns hábitos saudáveis pode ajudar a evitar o problema, bem como seus prejuízos associados:
- Estabeleça limites de tempo de exposição às telas;
- Desative as notificações do seu celular;
- Faça suas refeições sem celular na mesa;
- Deixe os aparelhos eletrônicos de lado próximo do horário de dormir;
- Programe atividades fora das telas, especialmente as que exijam trabalho mental, como ler um livro ou montar quebra-cabeça.
Revisão técnica: Erica Maria Zeni (CRM 140.238/ RQE 75645 e 756451), clínica geral e médica paliativista do corpo clínico Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Possui graduação e residência Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e residência Medicina Interna pela Universidade de São Paulo (USP). Pós graduação em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium Latinoamérica Medicina Paliativa, Buenos Aires, Argentina.