A saúde mental dos jovens tem se tornado um dos temas de maior preocupação da atualidade. Embora ainda seja difícil quantificar o impacto da internet no bem-estar psíquico desse grupo, sabe-se que tamanha exposição influencia diretamente no seu desenvolvimento emocional e social.
As redes sociais, por exemplo, os expõem a padrões estéticos inatingíveis, reforçam a prática de comparação e tornam o bullying uma ameaça que ultrapassa os portões da escola. Com isso, as novas gerações enfrentam violências que alteram o modo como se relacionam com outros indivíduos.
Podcast “O que te trouxe aqui?” | Temporada 2, Episódio 5
Em 2023, a incidência dos casos de ansiedade entre crianças e adolescentes superou aquela registrada em adultos, segundo dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), vinculados aos atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto a ansiedade se manifesta em 112 adultos a cada 100 mil pessoas, nas crianças esse número sobe para 126 por 100 mil; e entre os adolescentes, para 157 a cada 100 mil.
Fatores associados
As causas para esse aumento são multifatoriais. A ocorrência dos transtornos psicológicos pode estar associada a:
- Fatores genéticos;
- Ambiente familiar desestruturado, com violência, negligência ou falta de diálogo;
- Bullying;
- Exclusão social;
- Rendimento acadêmico abaixo do esperado;
- Expectativas exageradas dos pais e cuidadores;
- Sobrecarga de atividades extracurriculares.
Por isso é tão importante que os cuidadores estejam atentos às situações vividas pelos jovens. Isso ajuda a identificar de maneira precoce a ansiedade e outros distúrbios psicológicos que, às vezes, não seguem um padrão único, e variam a depender da idade e do desenvolvimento cognitivo de cada criança.
Nos mais jovens, os sinais costumam ser mais específicos, como medos intensos de objetos ou situações – fobia de escuro, agulhas e palhaços, por exemplo. À medida que crescem e começam a compreender a imprevisibilidade do mundo, eles podem desenvolver medos mais existenciais, como o temor da morte ou da perda de pessoas próximas.
Já na adolescência, a questão tende a aparecer nas interações sociais. Os sentimentos de inadequação, a vergonha e o medo de julgamentos dificultam a aproximação com outras pessoas, o que resulta em menos amizades e comportamentos de isolamento.
Como lidar com os episódios de crise?
Em contextos de crise, o papel dos adultos é essencial, mas delicado. Mais do que tentar “resolver” o problema rapidamente, o foco deve estar em acolher, escutar e orientar. Entre as principais estratégias estão:
- Validar sentimentos: não minimize a dor da criança ou do adolescente. Frases como “isso não é nada” ou “pare de drama” deslegitimam a vivência emocional e aumentam a sensação de isolamento;
- Sugerir alternativas de pensamento ou ação: ajude o jovem a focar em outras coisas para além dos gatilhos da crise. Lembrar de memórias, descrever o ambiente ou mesmo beber água faz com que o indivíduo, mesmo sem perceber, acalme-se;
- Colaboração e escuta ativa: a partir do momento em que a crise começa a ser contornada, é importante auxiliar o jovem a vislumbrar uma saída possível para o problema. Deve-se respeitar o ritmo e a autonomia de cada um, e só intervir se for do desejo da criança ou do adolescente;
- Prevenção a novas crises: o acompanhamento psicológico deve ser incentivado de forma a estimular o jovem a refletir sobre seus problemas. Os psicólogos são capacitados a auxiliar a criança e o adolescente no processo de aceitação e enfrentamento de suas batalhas.
Complicações fatais
Quando o sofrimento psíquico é silenciado ou negligenciado, ele pode evoluir para um quadro ainda mais grave. A autolesão, como cortes no próprio corpo, é uma das complicações que podem se desenvolver, bem como a ideação suicida.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre 2012 e 2021, cerca de mil crianças e adolescentes cometeram suicídio no Brasil – o equivalente a três por dia. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o suicídio já era a terceira principal causa de morte na faixa etária dos 10 aos 19 anos.
Caso você ou algum conhecido esteja sofrendo, procure ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional gratuito e sigiloso pelo telefone 188, em um serviço ininterrupto, 24 horas por dia.