Em 2025, a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) reconheceu oficialmente uma nova versão da doença: o diabetes tipo 5, associado à desnutrição. Embora tenha sido descrito pela primeira vez há quase 70 anos, esse tipo de diabetes ainda é subnotificado e pouco compreendido.
Quais as diferenças?
Ao contrário do diabetes tipo 2 — que está fortemente ligado a excesso de peso, maus hábitos alimentares e sedentarismo —, o tipo 5 afeta principalmente indivíduos muito magros e com deficiências nutricionais severas. De acordo com a IDF, estima-se que entre 20 milhões e 25 milhões de pessoas no mundo convivam com essa condição, sobretudo em países da Ásia e da África.
É uma doença que afeta jovens de muito baixo peso, normalmente com índice de massa corporal (IMC) abaixo de 19, antes dos 30 anos. Por essas características, a condição era frequentemente confundida com o diabetes tipo 1, que também ocorre em pessoas jovens e magras.
No entanto, há diferenças importantes entre a condições: enquanto o tipo 1 é uma doença autoimune que destrói rapidamente a produção de insulina pelo pâncreas, o tipo 5 está relacionado a uma menor formação de células beta pancreáticas, muitas vezes devido a desnutrição na gestação ou na primeira infância, fases importantes de formação e desenvolvimento dos órgãos.
Embora o mecanismo exato da doença ainda não seja totalmente conhecido, uma das hipóteses é que esteja associada a pouca massa de células pancreáticas. Por isso, a capacidade de secreção de insulina dessas pessoas é menor; mas, ao mesmo tempo, maior do que em quem tem o tipo 1 da doença.
Como identificar?
Para diferenciar os dois tipos, dois exames são essenciais: a dosagem de anticorpos contra o pâncreas (presentes no tipo 1) e a análise da reserva de insulina, medida pelo peptídeo C.
No tipo 1, essa reserva se esgota rapidamente; já no tipo 5, ainda há alguma produção de insulina – quantidade insuficiente para controlar a glicose, mas suficiente para evitar complicações graves como a cetoacidose diabética, que pode ser fatal quando não tratada no tipo 1. Essa produção residual de insulina é uma das principais características que distinguem o diabetes tipo 5 do tipo 1.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), ainda não há dados oficiais sobre a prevalência do novo tipo de diabetes no país. Por isso, muitos casos podem estar sendo erroneamente classificados como tipo 1.
Como tratar?
Além da reposição de insulina, também é importante oferecer uma reestruturação nutricional adequada para os pacientes com diabetes tipo 5, com reposição de proteínas, carboidratos, micronutrientes, eletrólitos e outros nutrientes essenciais para o funcionamento do organismo.
Mais comum em homens
A IDF também observou que o diabetes tipo 5 atinge mais homens do que mulheres, especialmente os que vivem em áreas rurais, onde o acesso a diagnóstico e tratamento é mais limitado.
Sem diagnóstico correto, muitos dos pacientes acabam sem o acompanhamento necessário e sem a reposição adequada de insulina, o que eleva o risco de complicações como cegueira, amputações e doenças renais.
Fontes consultadas: Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Einstein Hospital Israelita; Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), em São Paulo.