O desogestrel, também conhecido como “pílula só de progestogênio” ou “minipílula”, é um tipo de anticoncepcional baseado em progesterona que inibe o processo da ovulação. Sua taxa de eficácia contra a gravidez pode ser superior a 99%, se utilizado da maneira correta.
No geral, os comprimidos anticonceptivos mais comuns, chamados tecnicamente de contraceptivos orais combinados (COCs), têm em sua composição uma mistura de uma progesterona (como o desogestrel) com um estrogênio (etinilestradiol ou estradiol).
A opção com apenas o primeiro hormônio pode ser utilizada por mulheres que não respondem bem aos estrogênios ou que estejam amamentando, já que esses hormônios podem exercer um efeito supressor na produção de leite.
Efeito na endometriose
O desogestrel age bloqueando a atividade hormonal típica do ciclo menstrual, o que pode impedir o crescimento anormal do endométrio, tecido que reveste internamente o útero. A expansão do endométrio para além da área interna uterina leva o nome de endometriose.
Essa doença inflamatória afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). Só no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou mais de 260 mil atendimentos a pacientes com esse problema entre 2023 e 2024, de acordo com o Ministério da Saúde.
Como usar o desogestrel
Assim como acontece com alguns COCs, as pílulas só de progestogênio devem ser tomadas diariamente, sempre no mesmo horário. Cada cartela contém 28 comprimidos e, ao terminá-la, deve-se iniciar uma nova logo no dia seguinte. Fazer pausas no tratamento diminui sua eficácia anticoncepcional.
Se você começar a tomar o desogestrel entre o primeiro e o quinto dias do seu ciclo menstrual, antes da ovulação, o efeito na fertilidade começa imediatamente. No entanto, se o tratamento for iniciado depois dessa janela, a proteção contra a gravidez pode ocorrer apenas dois dias após a primeira dose.
No caso de pessoas que acabaram de passar por um parto, a recomendação é começar o uso da pílula só de progestogênio nos primeiros 20 dias após dar à luz. Se iniciar os cuidados com o medicamento depois de 21 dias ou mais, também será necessário aguardar dois a sete dias para seus efeitos valerem. Até lá, não se esqueça do preservativo — e lembre-se: o anticoncepcional não protege contra infecções sexualmente transmissíveis.
Diante da escolha de interromper o tratamento com o desogestrel, estima-se que seu efeito cesse cerca de um mês após a última dose, mas também pode ser antes desse prazo. Com isso, a pessoa volta a apresentar sua fertilidade natural.
Vale lembrar que o desogestrel é classificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com tarja vermelha. Isso significa que ele só pode ser comercializado mediante a apresentação de uma receita médica assinada.
Efeitos colaterais
Dentre os efeitos colaterais mais comuns da pílula de desogestrel estão:
- Alteração na menstruação (que pode vir mais leve, frequente ou até mesmo parar);
- Sangramento entre as menstruações;
- Acne;
- Oscilação de humor;
- Ganho de peso;
- Mudança na libido.
Mais raramente, o remédio pode levar ao desenvolvimento de cistos ovarianos. Esses formações são benignas e não precisam ser removidas, já que, muitas vezes, desaparecem sozinhas. No máximo, podem causar um pouco de incômodo na parte inferior da barriga.
Contraindicações
O desogestrel pode não ser adequado para todas as pessoas. Assim, antes de utilizá-lo, avise seu médico caso você já tenha sido diagnosticada com:
- Doença cardiovascular;
- Cirrose;
- Câncer de mama;
- Problemas nos rins.
Alguns medicamentos podem afetar o funcionamento da pílula só de progestagênio, diminuindo sua eficácia. Por isso, evite usá-la caso já esteja em tratamento contra tuberculose, epilepsia ou HIV.
Desogestrel no SUS
Assim como o dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel (DIU-LNG) e o implante contraceptivo, o desogestrel também foi oficialmente incorporado ao SUS em 2025, por meio das Portarias nº 41 e 43, após recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
É importante frisar, porém, que a oferta nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) não é imediata, e ainda depende de etapas administrativas e logísticas, como a capacitação de equipes e a aquisição dos dispositivos. Por isso, não há prazo definido para o início da sua distribuição gratuita.
Até lá, o SUS continuará oferecendo outras opções de tratamento para a endometriose e métodos contraceptivos. Dentre eles, os anticoncepcionais orais combinados, os medicamentos análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que diminuem a inflamação típica da endometriose, e os anti-inflamatórios e analgésicos para o controle da dor.
Revisão técnica: Alessandra Bedin Pochini (CRM 90562/RQE 0023/2020/RQE 193831), ginecologista e nutróloga do Einstein Hospital Israelita.