Visão borrada, fotofobia, manchas escuras no campo visual e uma névoa que vai se espalhando até apagar completamente a capacidade de enxergar. São esses alguns sinais de perigo para quem consome, sem saber, bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. Entre os efeitos dessa substância altamente tóxica no organismo está o ataque direto ao nervo óptico, estrutura essencial para a visão.
Esse nervo funciona como um cabo que conecta a retina ao cérebro, onde as imagens são processadas. Se for danificado, a transmissão falha e a visão pode ser perdida. Estudos apontam que a ingestão de apenas 10 ml de metanol diluído em um litro de bebida é suficiente para causar lesões neuro-oftalmológicas, incluindo cegueira permanente. O consumo de 30 ml pode levar à morte.
O risco de perda da visão está relacionado à forma como o organismo processa essa substância. Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado pelo fígado e transformado em formaldeído e ácido fórmico, extremamente tóxicos. Esse último interfere diretamente na produção de energia das mitocôndrias, estruturas celulares fundamentais para o funcionamento das células nervosas do nervo óptico.
Sem energia suficiente, essas células não funcionam corretamente e podem entrar em colapso, causando inchaço e pressão dentro do nervo.
Sintomas de intoxicação por metanol
Os sintomas visuais associados à intoxicação por metanol não aparecem imediatamente. Eles podem surgir entre seis e 24 horas após a ingestão e, muitas vezes, começam com sinais confundidos com uma simples ressaca: tontura, fraqueza, náusea e dor de cabeça.
Com a progressão do quadro, a visão pode ficar embaçada, surgem manchas escuras (escotomas), maior sensibilidade à luz e até visão dupla. O diagnóstico do grau de lesão do nervo óptico envolve exames como a acuidade visual, que mede a capacidade de enxergar detalhes; a avaliação do campo visual, que verifica a visão periférica ou “de canto de olho”; e testes de resposta da pupila à luz e percepção de cores.
Além de provocar danos irreversíveis ao nervo óptico, o ácido fórmico também pode afetar outras áreas do sistema nervoso central e causar acidose metabólica grave (acúmulo de ácido no organismo), levando à perda de consciência, coma e até à morte.
Atendimento médico imediato é fundamental para tentar conter os danos. O tratamento inclui medidas de suporte e o uso de etanol como antídoto, já que ele “compete” com o metanol pela enzima que o transforma em ácido fórmico. Também pode ser necessário corrigir a acidose metabólica e, em casos graves, realizar hemodiálise para eliminar o metanol da circulação sanguínea.
O que fazer em caso de suspeita
Pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas e manifestem qualquer um dos sintomas associados à intoxicação por metanol devem buscar imediatamente algum serviço de emergência médica.
Se conhecer outras pessoas que ingeriram o mesmo produto, elas também devem procurar atendimento de saúde. Em comunicado, o governo federal orienta a entrar em contato com pelo menos uma destas instituições:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
- CIATox da sua cidade para orientação especializada;
- Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 de qualquer lugar do país.
Fonte consultada: Claudio Lottenberg, oftalmologista e presidente do Conselho Deliberativo do Einstein.