A demência por corpos de Lewy (DCL) é considerada uma das formas mais complexas e desafiadoras de neurodegeneração. Apesar de menos conhecida do que as doenças de Alzheimer e Parkinson, essa condição afeta milhares de pessoas e, segundo a organização Alzheimer’s Disease International (ADI), representa cerca de 10% a 15% de todos os casos de demência no mundo. Recentemente, o cantor Milton Nascimento foi diagnosticado com a condição.
Seu nome faz menção aos “corpos de Lewy”, depósitos anormais da proteína alfa-sinucleína, tipicamente formados sobre o córtex cerebral. Esses aglomerados afetam diretamente a comunicação entre os neurônios, o que pode comprometer funções como memória, aprendizado, humor e movimento. A longo prazo, esse processo mata as células nervosas, prejudicando a cognição de maneira irreversível.
Causa desconhecida e fatores de risco
A causa exata da DCL ainda é desconhecida. Mas acredita-se que a condição pode estar associada à perda de neurônios produtores de neurotransmissores como a acetilcolina (ligada à memória e ao aprendizado) e a dopamina (relacionada a motivação, humor e movimentos).
Geralmente, a condição começa a se manifestar após os 50 anos, e os homens são mais afetados por ela do que as mulheres. Entre os sinais precoces da doença estão o distúrbio comportamental do sono REM e perda do olfato.
Embora alguns casos apresentem predisposição familiar, a DCL não é considerada uma doença hereditária. Da mesma forma, tampouco há evidência de fatores diretos envolvendo o estilo de vida, no entanto, hábitos saudáveis, como praticar exercícios regularmente, evitar o tabagismo e manter uma dieta equilibrada, parecem reduzir o risco geral de demências.
Como essa demência se manifesta
Assim como em outros casos de neurodegeneração, a DCL compromete a capacidade cognitiva. Seus sintomas mais comuns podem incluir:
- Flutuações na atenção e no estado de alerta;
- Dificuldade de raciocínio;
- Problemas de percepção visual;
- Alucinações realistas (frequentemente de pessoas ou animais);
- Rigidez muscular;
- Lentidão;
- Tremores;
- Dificuldades de equilíbrio, que podem levar a quedas frequentes;
- Distúrbio do sono REM;
- Sonolência diurna;
- Insônia;
- Depressão;
- Apatia;
- Ansiedade;
- Agitação;
- Delírio;
- Paranoia;
- Queda na pressão arterial ao se levantar;
- Constipação;
- Incontinência urinária;
- Disfunção sexual.
Como detectar
Identificar a DCL pode ser uma tarefa difícil, já que os sintomas se confundem com os de outros problemas, como Alzheimer e Parkinson. Não existe um exame definitivo em vida — a confirmação só pode ser feita após a morte, por meio de análise do tecido cerebral.
Ainda assim, médicos utilizam recursos como exames de imagem, estudos do sono e testes neuropsicológicos para apoiar o diagnóstico. Esse processo costuma ser feito por neurologistas especializados em demências ou distúrbios do movimento.
Existe tratamento?
Atualmente, não há uma cura para a demência por corpos de Lewy. Por isso, seu tratamento é baseado em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Essa abordagem envolve:
- Emprego de medicamentos comumente utilizados para controlar o Alzheimer e o Parkinson, que podem ajudar a melhorar funções cognitivas, a rigidez e a lentidão;
- Adoção de medidas de apoio para promover rotinas estruturadas, ambientes seguros e atividades físicas e cognitivas adaptadas, que ainda possibilitam uma maior autonomia do indivíduo;
- Acompanhamento multiprofissional, como neurologistas, psiquiatras geriátricos, psicólogos, fisioterapeutas e especialistas em sono.
Estilo de vida importa
Uma vez que a ciência ainda não consegue definir as causas e os fatores de risco da DCL, também não se tem certeza sobre as melhores formas de preveni-la. Entretanto, acredita-se que manter hábitos saudáveis e estímulo mental durante todo o processo de envelhecimento pode reduzir o risco de desenvolver problemas cognitivos.
Revisão técnica: Mariana Jancis Unelo Rigolo (CRM 198725), membro do corpo clínico e da unidade de pronto-atendimento do Einstein Hospital Israelita. Residência em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina do ABC e especialização em Geriatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.