Quando há uma produção exagerada das células brancas tumorais (glóbulos brancos ou leucócitos) na medula óssea, a formação das outras células sanguíneas (glóbulos vermelhos/hemácias/heritrócitos e plaquetas) acaba prejudicada. Como consequência, a pessoa pode desenvolver quadros de anemia (deficiência da hemogloblina), plaquetopenia (baixa quantidade de plaquetas, responsáveis pela coagulação sanguínea) é a chamada leucemia.
A leucemia é uma doença hematológica (do sangue) maligna que surge a partir de uma mutação genética, e se divide em duas linhagens, de acordo com o tipo de glóbulo branco que é acometido: mieloide e linfoide.
A doença também se diferencia entre as versões crônica e aguda. No primeiro caso, os glóbulos brancos que se reproduzem de forma anômala são maduros e funcionais; e, no segundo, são imaturos (blastos) e não funcionais.
Apesar de existir 12 tipos diferentes da doença, os quatro principais são, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA):
- Leucemia mieloide aguda;
- Leucemia mieloide crônica;
- Leucemia linfocítica aguda;
- Leucemia linfocítica crônica.
“As leucemias crônicas são diagnosticadas principalmente em exames de sangue de check-up. Já as leucemias agudas são de apresentação mais grave, requerendo internação hospitalar e tratamento imediato. No caso das leucemias linfoides crônicas, elas podem não necessitar tratamento por vários anos, mas exigem acompanhamento periódico para iniciar terapêutica tão logo seja necessária”, explica Nelson Hamerschlak, médico hematologista e coordenador do setor de Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Por que surge a leucemia?
Algumas situações podem agir como gatilhos para mutações e a produção exagerada dos glóbulos brancos. São elas:
Fatores ambientais: exposição crônica ao benzeno (substância encontrada na gasolina e na indústria química), aos herbicidas, pesticidas, radiação ionizante, quimioterapias e o uso de cigarro (tabagismo).
Fatores genéticos: casos da doença na família podem influenciar, mas o real impacto no desenvolvimento da doença ainda não está determinado.
Outras doenças que podem predispor à leucemia: Síndrome de Down, Síndrome de Bloom, Anemia de Fanconi, Neurofibromatose, Síndrome de Kostmann, Síndrome de Wiskott-Aldrich, Síndrome de ataxia-teleangiectasia, Klinefelter (XXY) e Patau (trissomia do cromossomo 13).
No entanto, na maior parte dos pacientes não se identifica qualquer fator causal.
Quais são os sintomas?
Os sintomas da leucemia se diferenciam de acordo com os tipos:
As crônicas podem não apresentar sintoma nenhum. Ou, ainda, são sinais inespecíficos, como cansaço, febre que surge no fim do dia (vespertina), suor noturno, entre outros.
No caso das leucemias agudas, os pacientes apresentam um quadro bastante aflorado de anemia, com palidez e cansaço; redução na quantidade de glóbulos brancos funcionantes, gerando febres e infecções; e baixa nas plaquetas, com ocorrência de hemorragias e manchas pelo corpo.
Em casos mais complexos, os pacientes podem manifestar distúrbios graves de coagulação, comprometimento do sistema neurológico, hepático (fígado) e renal (rins).
Tratamento
O tratamento das leucemias, dependendo do tipo, pode ser realizado com quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, a chamada terapêutica alvo (voltada a uma modificação específica na célula leucêmica, transplante de medula óssea ou com terapia com células geneticamente modificadas (catr T Cells).
“Com relação ao transplante de medula óssea, ao contrário do transplante de outros órgãos (que é realizado por meio de uma cirurgia), o paciente recebe quimioterapia e/ou radioterapia para aniquilar as células doentes e abrir espaço para receber as novas”, explica Hamerschlak.
Essas células novas podem vir de diferentes fontes, como a medula óssea, sangue periférico e do cordão umbilical. O doador pode ser tanto autólogo (do paciente para ele mesmo); alogênico aparentado (irmãos, por exemplo); alogênico não aparentado (do registro de doadores); haploidêntico (quando a compatibilidade é de 50% e geralmente é entre irmãos, pais e filhos).
As células são aplicadas em uma veia, via cateter, e por meio do mecanismo de homing (ir para casa) elas se dirigem à medula óssea, onde vão dar origem a novas versões não cancerígenas. “A importância do transplante de medula óssea está no fato de que esse pode tornar curável a leucemia em pacientes que somente com o tratamento inicial não conseguiriam se curar”, destaca o especialista.
Como prevenir a leucemia?
Não há uma regra direta para a prevenção da leucemia, mas manter hábitos saudáveis de vida contribui para diminuir os riscos. Isso envolve uma alimentação e sono adequados, exercícios físicos regulares e evitar o tabagismo.
De acordo com dados do INCA, estima-se 5,9 mil casos da doença em homens e 4,8 mil casos em mulheres para cada ano, no Brasil, no triênio 2020-2022. São 5,67 novas ocorrências a cada 100 mil homens, e 4,56 a cada 100 mil mulheres.
“A leucemia linfoide aguda é mais frequente na infância, com altíssimas taxas de cura. A leucemia mieloide crônica é mais frequente no adulto. As leucemias mieloide aguda e linfoide crônica têm maior ocorrência nos idosos”, destaca Hamerschlak.
Apesar de o senso comum achar que a leucemia é uma doença incurável, isso não é verdade, segundo o especialista. “As taxas de cura, mesmo dos casos mais graves, variam de acordo com o tipo de leucemia e idade em 70 a 90%”, conclui.