Você já assistiu ao filme Garota Interrompida, de 1999? Nele, a personagem é diagnosticada com Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Borderline (TPB), caracterizado pela instabilidade das emoções, impulsividade e muitos outros comportamentos.
Percebeu alguma semelhança com o transtorno bipolar? Ambos levam os pacientes a uma maior alternância de humor — de forma bem marcada. Por isso, é comum que muitos confundam um transtorno com o outro, o que prejudica o tratamento e traz estigmas.
Você ou alguém próximo recebeu o diagnóstico de Borderline, ou tem medo de sofrer com o transtorno? Nomear o problema é o primeiro passo para combatê-lo. Assim, continue a leitura e entenda melhor o funcionamento mental de pessoas com Borderline!
O que é Borderline?
Primeiro, saiba que se trata de um distúrbio de personalidade caracterizado por mudanças súbitas e bem opostas. Quer dizer, é comum que os pacientes lidem com estabilidade e calmaria, mas entram em um surto psicótico de repente.
Essas reações são mais frequentes nas relações sociais, vividas com muita intensidade. Assim, quando algo está bom, a sensação para quem tem Borderline é que ela é excelente. Se algo foge do controle e se torna desagradável, a percepção é que ocorreu uma catástrofe.
Você já ouviu a expressão ‘’fazer tempestade em um copo d’água’’? Ela resume como algumas pessoas transformam situações banais em tragédias. Outra expressão popular — dessa vez, mais comum entre os mais jovens — é ‘’ser emocionado’’, associado a pessoas afetuosas de forma desproporcional.
Por exemplo, alguém com quem você falava todos os dias e tinha muito afeto demorou para responder. Essa demora pode ser intensamente interpretada como um complô, desprezo, abandono e várias outras percepções negativas.
Se você se identificou com esse cenário, tenha calma: passar por isso não quer dizer que tenha Borderline ou qualquer outro transtorno mental!
Qual é a diferença entre Borderline e bipolar?
Além de Borderline ou apenas uma instabilidade normal, outra possibilidade é que você tenha transtorno bipolar. Afinal, os pacientes têm humores extremos, como disposição e euforia em um momento, alternados com impulsividade e adoção de comportamentos de risco pouco tempo depois.
No entanto, quem tem Borderline passa por instabilidades como essas em uma frequência bem maior, como em segundos, minutos ou horas. Enquanto isso, a bipolaridade, que atinge mais adolescentes e jovens, varia o humor em dias, semanas ou meses.
Além disso, o Borderline é um transtorno de personalidade, não de humor. Assim, as reações tendem a ser mais complexas e duradouras — principalmente, sem o tratamento adequado.
Isso porque o transtorno surge devido a uma desordem na estruturação psíquica, levando o indivíduo a viver sempre em extremos. Por isso, também é comum que os pacientes não saibam o que são e nem o que querem. Por outro lado, a bipolaridade não reflete em tantas crises de identidade.
Quais são os sintomas da síndrome de Borderline?
Os sintomas envolvem padrões de comportamento que identificam quem sofre de Borderline. Saiba mais sobre os principais:
- medo extremo de rejeição e abandono — podendo refletir em ameaças para evitar esses medos e enxergá-los como catástrofes;
- alternância intensa de valorização e desvalorização do outro — sentir amor doentio por alguém em um momento, e sentir ódio pela mesma pessoa logo depois;
- intensa instabilidade na identidade — por exemplo, seguir fielmente uma religião e, pouco depois, adotar valores totalmente opostos;
- impulsividade — coloca a integridade física e mental em risco, sendo refletida em atos de comer impulsivamente, fazer dívidas sem controle, dirigir sob efeito de drogas etc.;
- comportamentos nocivos e ameaças ou tentativas de suicídio — gestos como arranhões, batidas da cabeça na parede e cortes são alguns dos sinais;
- mudanças rápidas e extremas de humor — como se um único indivíduo tivesse múltiplas personalidades, que variam sem nenhum motivo aparente;
- sensação constante de vazio — não encontrar sentido nas ações, sentir tédio e melancolia frequentemente;
- ira descontrolada e desproporcional — maior propensão a entrar em discussões e sentir raiva, quando o mais esperado era outro sentimento negativo, como luto e tristeza;
- pensamentos paranoicos — como sentir-se fora de si, despersonalização etc.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
O diagnóstico do Borderline é feito por um psiquiatra, após a análise da presença de, pelo menos, cinco sintomas do transtorno de maneira constante e persistente. Ainda, a presença de ansiedade, depressão e compulsão alimentar também são indícios do problema de saúde.
O tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline é feito com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Esses profissionais podem solicitar medicamentos para controlar a agressividade e tratar doenças associadas, como depressão e ansiedade.
Além disso, psicólogos oferecem sessões psicoterápicas que ajudam os pacientes a controlar os impulsos e entender os comportamentos adotados. Muitas vezes, também é necessário contar com uma equipe multidisciplinar, que, além dos dois profissionais citados, envolve nutricionistas e cuidadores.
O tratamento de TPB é fundamental para os pacientes terem uma vida mais equilibrada, assim como melhores relações pessoais e profissionais. Não é possível ‘’tirar’’ o Borderline de quem recebeu o diagnóstico, sendo preciso conviver para sempre com ele. Logo, o mais recomendado é ter ferramentas aliadas ao controle de emoções e comportamentos.
Então, conseguiu tirar as dúvidas sobre Borderline? Como vimos, tratar adequadamente a doença é fundamental. Afinal, o tratamento pode garantir uma boa saúde mental e física para os pacientes.
Aproveite a visita ao blog para entender mais sobre a saúde mental e como preservá-la!
Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).