Procedimentos cirúrgicos feitos em regiões da cabeça e do pescoço podem ser sensíveis. Dessa forma, são maiores os riscos de complicações, sequelas e de um pós-operatório que exige não apenas mais cuidados, como mais tempo para uma plena recuperação.
Nesse sentido, o avanço das técnicas de cirurgia robótica de cabeça e pescoço pode ser uma solução para reduzir riscos e ampliar a eficiência de uma série de intervenções.
Em todo caso, é preciso considerar de que forma esse tipo de cirurgia é conduzida e quais são as indicações desse procedimento. Assim como qualquer outro recurso da medicina, cada quadro deve ser avaliado de forma individual, em busca da melhor solução.
Por isso, confira mais detalhes sobre as aplicações das cirurgias robóticas de cabeça e pescoço, nos tópicos a seguir.
Como funciona uma cirurgia robótica de cabeça e pescoço?
As cirurgias robóticas são técnicas inovadoras, utilizadas há alguns anos em diferentes especialidades da medicina. Dessa forma, não seria diferente com procedimentos na cabeça e pescoço. Para isso, é utilizado um equipamento — ou seja, o robô em si — com “braços” que ficam acoplados em uma plataforma.
Todo movimento é realizado pelo próprio cirurgião, que fica na sala cirúrgica, mas sentado no console do dispositivo. Assim, ele consegue controlar toda a articulação do robô por meio de joysticks similares aos de um videogame — ou seja, o cirurgião insere os comandos, enquanto o robô executa a cirurgia.
Na extremidade dos braços, o robô conta com utensílios que lembram pinças. Eles são inseridos no paciente por meio de incisões mínimas e fazem todo o trabalho de manipulação dos tecidos. Logo, diferente do que aconteceria em uma cirurgia tradicional, não é preciso “abrir” a área operada.
Para acompanhar e conduzir o procedimento, o cirurgião tem disponível um monitor com imagens tridimensionais e em alta definição. A partir delas, ele tem um campo maior de visão, garantindo a amplitude e a precisão dos movimentos transmitidos ao robô.
Para reduzir a chance de erros — principalmente aqueles gerados por tremores, por exemplo —, todos os movimentos do cirurgião são filtrados pelo dispositivo.
Quais são as indicações para esse tipo de procedimento?
Como o próprio nome indica, as cirurgias de cabeça e pescoço são indicadas para a realização de intervenções exigidas no tratamento de condições que atingem estruturas dessa parte do corpo.
Exemplo disso são a face, as fossas nasais, a boca, a laringe, a faringe, a tireoide, as glândulas salivares, os tecidos moles e os linfonodos do pescoço ou no couro cabeludo.
As doenças que mais podem se beneficiar de procedimentos intermediados por robôs são:
- câncer de laringe e faringe;
- ressecção de linfomas ou tumores na região do pescoço;
- problemas de tiroide;
- procedimentos de correção de apneia obstrutiva do sono.
As prescrições de cirurgia de cabeça e pescoço são feitas com base em avaliações individuais cuidadosas. Deve-se garantir que o problema possa ser resolvido por meio de acessos feitos com incisões mínimas. Ou seja, em muitos casos, as opções cirúrgicas convencionais podem ser uma opção mais interessante do ponto de vista clínico, garantindo maior chance de resolução do problema identificado.
Além disso, é preciso considerar a disponibilidade do recurso — o estabelecimento de saúde deve disponibilizar não apenas o equipamento, como também os profissionais capacitados para operá-lo.
Quais são os tipos de cirurgia robótica de cabeça e pescoço?
Existem várias técnicas para conduzir uma cirurgia robótica de cabeça e pescoço. Elas variam conforme a via de acesso utilizada para realizar o procedimento e a finalidade com a qual ele está sendo realizado.
TORS (Cirurgia Robótica Transoral)
As cirurgias transorais (conhecidas também como TORS, da sigla em inglês para Cirurgia Robótica Transoral) são recomendadas, sobretudo, para o tratamento de tumores benignos e malignos na região da garganta — como aqueles alojados na laringe e faringe.
Como o próprio nome indica, esse tipo de cirurgia é feito com acesso por meio da boca. Assim, ela reduz a chance de traumas ou sequelas provocados pela cirurgia e dispensa a necessidade de traqueostomias e sondas para alimentação, por exemplo.
Esvaziamento cervical e retirada de tumores do pescoço
Nesses quadros, a incisão para o acesso costuma ser feita atrás das orelhas — por isso, esse tipo de procedimento também é chamado de retroauricular.
Independentemente do tamanho da incisão, essa opção torna eventuais cicatrizes praticamente imperceptíveis, uma vez que elas ficam escondidas pelo couro cabeludo e pela própria orelha.
Além da retirada de linfomas (esvaziamento cervical) e tumores na região da cabeça e pescoço, em alguns casos, esse acesso pode ser utilizado para procedimentos na tireoide.
Tireoidectomia
Essa forma de cirurgia é feita para a remoção total ou parcial da tireoide — glândula localizada na altura do pescoço —, principalmente quando ela é atingida por tumores.
Essa alternativa garante um procedimento sem cicatrizes visíveis, uma vez que as incisões são feitas a partir da boca, na região interna dos lábios.
Quais são os benefícios dessa alternativa?
Sem dúvida alguma, o aspecto estético é uma vantagem e tanto das cirurgias robóticas de cabeça e pescoço. Graças às incisões mínimas e aos acessos variados, são grandes as chances de passar pelo procedimento e não ficar com qualquer marca visível.
Além disso, a alta sensibilidade do equipamento reduz os riscos de lesões a nervos, vasos sanguíneos e outras estruturas da região, reduzindo a chance de sequelas.
No mais, a opção pela cirurgia robótica garante menor tempo de recuperação. Para quem está tratando um câncer, por exemplo, o intervalo pós-operatório reduzido contribui com o tratamento, já que é comum que pacientes com esse quadro dependam de sessões de quimioterapia ou radioterapia após a cirurgia para garantir que o tumor não retorne.
Para os cirurgiões e demais profissionais de saúde, o emprego dos recursos robóticos garante uma cirurgia otimizada, com menor duração média. Além disso, o equipamento proporciona maior ergonomia do que as cirurgias tradicionais, reduzindo o desgaste e o cansaço.
Com a devida indicação, a cirurgia robótica de cabeça e pescoço oferece benefícios que certamente contribuem com o sucesso do tratamento proposto. As técnicas empregadas avançam e a expectativa é de que esse recurso se torne cada vez mais acessível.
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Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).