Muito mais complexo do que só uma “brincadeira”, o bullying é uma violência caracterizada por assédios morais e físicos direcionados a um indivíduo de maneira sistemática e repetitiva. Em geral, essa prática visa ferir, humilhar e excluir a vítima, em uma relação de claro desequilíbrio de poder – seja ele por força física, popularidade, idade ou até mesmo por pertencer a um grupo social marginalizado.
O bullying pode se manifestar em diferentes formatos. Uns são mais evidentes do que outros, mas todos são extremamente prejudiciais para as vítimas, sobretudo quando se tratam de crianças e adolescentes. Alguns exemplos incluem:
- Empurrões;
- Socos;
- Quebra ou roubo de objetos pessoais;
- Xingamentos;
- Ameaças;
- Apelidos pejorativos;
- Boatos;
- Exclusão social;
- Toques inapropriados;
- Comentários sobre o corpo da vítima.
Essas violências ferem a pessoa agredida profundamente e tendem a piorar com o tempo se não forem endereçadas o quanto antes. O bullying pode transformar radicalmente os espaços de aprendizado e amizade, como as escolas, em ambientes hostis, onde a vítima passa a se sentir constantemente ameaçada, inferiorizada ou invisível.
Nesse sentido, o problema fica ainda mais complexo quando a internet entra em cena, pois, à medida que a agressão migra para o digital, seu alcance também aumenta. Assim, ambientes que outrora eram de proteção da vítima, como o seu próprio lar, são violados.
Podcast “O que te trouxe aqui?” | Temporada 2, Episódio 3
O cyberbullying, como ficou conhecido, é uma extensão online do bullying. Ele envolve a criação e circulação de postagens ofensivas, montagens humilhantes e ameaças anônimas pelas redes sociais com o intuito de amedrontar ou intimidar a vítima.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 11% de todos os jovens em idade escolar já sofreram com episódios de bullying. As ocorrências de cyberbullying conseguem ser ainda maiores, com 15% dos adolescentes relatando já terem sofrido com esse tipo de violência.
Sinais do bullying
Nem sempre uma criança vai dizer que está sofrendo bullying. O medo de ser julgada, o sentimento de culpa, a vergonha ou a crença de que ninguém vai ajudá-la podem fazer com que ela se cale.
Por isso, é essencial que adultos do seu convívio – pais, responsáveis, familiares, professores, orientadores pedagógicos e médicos – estejam atentos a certos sinais físicos e emocionais:
- Hematomas, arranhões ou lesões que surgem com explicações vagas;
- Dores recorrentes sem causas médicas aparentes;
- Queda de cabelo e outros sinais de estresse extremo;
- Mudanças repentinas de humor;
- Isolamento social;
- Recusa em ir à escola;
- Alterações no sono (insônia, sono excessivo ou terror noturno);
- Ansiedade, tristeza profunda ou episódios de depressão;
- Baixo rendimento escolar;
- Desinteresse por atividades que antes traziam prazer.
Como agir diante da suspeita de bullying?
Diante da suspeita de bullying ou cyberbullying, é muito importante que os pais e responsáveis ajam de forma a acolher os jovens e a auxiliá-los no processo de acabar com esse ciclo de violência. Isso pode ser feito por meio de quatro ações:
1. Escuta ativa
A primeira atitude deve ser ouvir o jovem com empatia. Criar um espaço seguro e livre de julgamentos permite que a vítima se sinta acolhida e compreendida. A escuta ativa, sem interrupções ou invalidação de seus sentimentos, é um passo crucial para restaurar a autoestima da criança ou do adolescente.
2. Empoderar o jovem
Depois de ouvir os relatos, é preciso empoderar os pequenos e jovens. Elogios sinceros, reforço da coragem da vítima ao falar e a lembrança de que a culpa nunca é de quem sofre são atitudes importantes para reconstruir sua autoestima e sair do “fundo do poço”.
3. Envolva a escola
A escola sempre deve ser envolvida em um caso de bullying – mesmo quando os ataques ocorrem no ambiente virtual. É responsabilidade das instituições de ensino garantir a segurança e o bem-estar dos estudantes, o que inclui prestar acolhimento à vítima, responsabilizar os agressores e implementar políticas de combate à discriminação.
4. Busque apoio profissional
Por fim, o acompanhamento psicológico e médico é fundamental. Psicólogos ajudam na reconstrução da saúde emocional, à medida que auxiliam no processamento das situações traumáticas e no desenvolvimento de métodos para se blindar contra esses sentimentos negativos. Da mesma forma, pediatras ou psiquiatras podem contribuir com orientações para a saúde física e, se necessário, propor tratamentos com medicação.
Criminalização do bullying
Vale lembrar que a gravidade crescente desses problemas motivou mudanças recentes na legislação federal. Desde 12 de janeiro de 2024, o bullying e o cyberbullying são crimes previstos no Código Penal brasileiro.
Definidas como intimidações sistemáticas de crianças ou adolescentes, essas infrações podem resultar em multas, trabalho comunitário, vigilância assistida e até prisão. Se o caso envolver incitação de automutilação ou suicídio, o tempo de reclusão pode ser ampliado.