Quando fazemos um exame de sangue de rotina para avaliar a saúde do coração, os primeiros resultados que costumamos conferir são os que apontam os níveis de colesterol (que indica risco de aterosclerose e, consequentemente, de infarto) e a hemoglobina glicada (que sinaliza o risco de desenvolver diabetes tipo 2, um fator de risco cardiovascular bastante conhecido).
Os cinco exames clássicos avaliados são colesterol, glicemia (níveis de açúcar no sangue), peso corporal ou medida da cintura (para determinar obesidade), hipertensão arterial e, mais recentemente, a qualidade e duração do sono.
Mas existem outros indicadores importantes para a saúde cardíaca, que muitas vezes são deixados de lado e podem ser úteis para determinar mudanças de estilo de vida ou até abordagens clínicas para prevenção. São eles: colesterol não-HDL, creatinina, enzimas hepáticas (TGO e TGP) e lipoproteína (a). São parâmetros conhecidos como “fatores de risco cardiovascular emergentes”.
Entenda abaixo a importância de cada um deles:
1 – Colesterol não-HDL:
O colesterol é um tipo de gordura que, quando está em níveis adequados, é essencial para o funcionamento do nosso organismo. O exame de sangue normalmente calcula o colesterol total e frações: LDL (colesterol ruim) e HDL (colesterol bom). O exame colesterol não-HDL nada mais é do que pegar a medida do colesterol total e subtrair o HDL, que é o colesterol bom.
Esse indicador tem ganhado mais importância do que olhar isoladamente os níveis do colesterol LDL (colesterol ruim) porque existem outros fragmentos que também podem aumentar o risco cardiovascular, mas não aparecem explícitos no exame de sangue.
2 – Lipoproteínas:
A lipoproteína (a), conhecida pela abreviação Lp(a), é um tipo de partícula presente no sangue, similar ao colesterol LDL (colesterol ruim), que também se acumula nas artérias e aumenta o risco cardiovascular. Mas trata-se de um fator genético, e não um fator causado pelo estilo de vida. A lipoproteína (a) é única devido à sua estrutura específica.
A American Heart Association (AHA) estima que cerca de 1 a cada 5 pessoas em todo o mundo tem níveis elevados de lipoproteína (a). Estudos recentes têm mostrado a associação independente da lipoproteína (a) com o risco aumentado de doenças cardiovasculares, além de fatores tradicionais como colesterol alto, hipertensão e diabetes. Assim, sua medição poderia ser um fator único para ajudar a identificar pessoas com risco elevado de doença cardiovascular.
Até pouco tempo atrás, essa molécula não era dosada. Agora, esse exame está disponível e a recomendação é que a lipoproteína (a) seja dosada pelo menos uma vez na vida de um paciente adulto para estimar o seu risco cardiovascular, especialmente daqueles com forte histórico familiar. Como ela é determinada geneticamente, não existem intervenções para reduzi-la. Mas ela serve como um importante marcador de risco que acompanhará o paciente por toda a vida.
3 – Creatinina:
O nível de creatinina, um resíduo formado pela digestão de proteínas, é um marcador da função renal e é um exame bastante comum – embora não seja muito usado para a análise de risco cardiovascular. Apesar de não ser um marcador novo, a monitoração da função renal é extremamente importante para avaliar a saúde do coração.
Isso porque as trocas entre o coração e os rins são muito frequentes. Um paciente que sofre do coração pode ter problemas renais, e vice-versa. Pacientes com problemas cardiovasculares chegam a ter de três a quatro vezes mais risco de desenvolver complicações renais.
4 – Enzimas hepáticas (TGO e TGP):
Os testes para as enzimas hepáticas conhecidas como TGO e TGP podem indicar função hepática prejudicada ou depósitos de gordura prejudiciais à saúde no fígado. Fundamentalmente, essas enzimas refletem a saúde do fígado por conta da esteatose hepática não alcoólica, popularmente chamada de gordura no fígado. Esse acúmulo de gordura no fígado é um distúrbio metabólico importante e que está cada vez mais associado aos riscos de problemas no coração.