Embora a presença de doenças cardíacas na gravidez ocorra em apenas 1% a 4% das mulheres, a cardiopatia é considerada a causa não obstétrica mais comum de mortalidade materna
Por Dr. Eduardo Cordioli, ginecologista e obstetra, / CRM SP 90 587 e Dr. Daniel Born, cardiologista / CRM SP 30 922, ambos do Hospital Israelita Albert Einstein
A gravidez é um período de vários ajustes fisiológicos de todos os sistemas do organismo da mulher. Naquelas com doença cardíaca, as alterações cardiocirculatórias podem demonstrar cardiopatias não diagnosticadas ou até causar e/ou agravar a insuficiência cardíaca, com risco de morte.
O Dr. Daniel Born, cardiologista do Einstein, relata que, no Brasil, a doença reumática é a causa mais frequente de cardiopatia na gravidez e sua incidência é estimada em 50% das cardiopatias em gestantes. Outros fatores que estão relacionados às cardiopatias em grávidas são hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, antecedentes de tromboembolismo e endocardite infecciosa (infecção por micro-organismos, tanto bactérias quanto fungos, no coração).
Para o bebê de uma mãe cardiopata, o risco de má-formação, mortalidade e morbidade também é aumentado. Por isso, é importante que a gestante portadora de cardiopatia congênita seja submetida ao ecocardiograma fetal em torno da 20.ª semana de gravidez, além do exame morfológico para se chegar a um diagnóstico precoce, e exames de vitalidade fetal, como dopplerfluxometria. “Contudo, nem todo bebê de mãe cardiopata vai apresentar alguma doença do coração ou restrição de crescimento”, afirma o cardiologista.
Os riscos de uma gravidez em mulheres cardiopatas são:
• Trabalho de parto prematuro
• Restrição de crescimento do feto
• Alterações da vitalidade fetal
• Bolsa rota (quando rompe a bolsa gestacional e há perda de líquido aminiótico)
A importância do pré-natal multidisciplinar
Toda mulher que deseja engravidar deve antes fazer um check-up completo, garantindo que sua saúde esteja normal. Infelizmente, este não é o cenário atual. Segundo especialistas, muitas mulheres só vão perceber que possuem alguma doença do coração quando já estão grávidas. E isso ocorre em função do aumento do volume de sangue que circula no coração, o que leva ao início ou ao aumento dos sintomas que antes passavam despercebidos. Essa situação é um risco enorme tanto para a saúde da mãe quanto para a do bebê.
De acordo com o Dr. Eduardo Cordioli, ginecologista e obstetra do Einstein, a maioria das cardiopatias possui alguns sintomas. “Se a mulher, ocasionalmente, apresenta falta de ar ao esforço ou na hora de dormir, palpitações, e se existe algum sinal de mais cansaço do que o normal, antes de pensar em engravidar ela deve relatar esses sintomas ao seu obstetra para que ele peça uma avaliação cardiológica e possa corrigir possíveis doenças do coração antes de engravidar”, aconselha o obstetra.
“O acompanhamento em casos de grávidas cardiopatas deve ser feito sempre pelo obstetra e pelo cardiologista. E exames como eletrocardiograma, ecocardiograma e exames de medicina fetal precisam ser feitos regularmente”, afirma o Dr. Born.
Se estiver tudo bem com a saúde da mãe e do bebê, as consultas são feitas da seguinte forma:
• Do primeiro ao sexto mês, consultas mensais
• Entre o sétimo e o oitavo mês, consultas quinzenais
• Após o oitavo mês, consultas toda semana
Formas de tratamento
Tudo é feito para salvar tanto a mãe quanto o bebê. Algumas mulheres são operadas para tratar suas cardiopatias mesmo durante a gravidez. Sendo o período entre a 16.ª e a 24.ª semana o mais indicado para a cirurgia.
“Hoje, os tratamentos para cardiopatias em mulheres grávidas são minimamente invasivos, sem a necessidade de se fazer grandes cirurgias, como era antigamente. Já é possível fazer cirurgias cardíacas por hemodinâmica, em que são introduzidos cateteres na veia femural e, guiado por raio X, o médico consegue tratar o coração da paciente”, explica o Dr. Cordioli.
Em mulheres que têm cardiopatias diagnosticadas há tempo e são tratadas com anticoagulantes orais, é de suma importância que ela planeje a sua gravidez com bastante antecedência, pois este tipo de medicamento pode levar à má-formação no feto. “Neste caso, recomendamos que essas mulheres passem a fazer uso dos anticoagulantes injetáveis, que não oferecem risco para a saúde do bebê”, afirma o obstetra.
Por fim, os médicos afirmam que o melhor tipo de parto para uma grávida cardiopata é o parto vaginal, com analgesia (a dor aumenta o esforço do coração e os batimentos cardíacos) e, quando necessário, com a ajuda de fórceps de alívio. No parto vaginal, a mulher perde menos sangue e de forma mais lenta do que num parto de cesárea, e isso para uma mulher cardiopata é crucial, finaliza o Dr. Cordioli.