O medicamento donanemabe tem como objetivo auxiliar no tratamento de pessoas diagnosticadas com Alzheimer. Em testes clínicos, o produto se mostrou eficiente especialmente quando utilizado ainda nos estágios iniciais da doença, em que o comprometimento cognitivo ou a demência são mais leves.
O princípio ativo do donanemabe é capaz de frear o processo de formação das chamadas “placas de amiloide”. Elas são compostas por proteínas beta-amiloides, que nessa condição se acumulam no cérebro e impedem as sinapses, processo de comunicação entre os neurônios. A presença em grande quantidade dessas proteínas dificulta a consolidação de novas memórias, além de atrapalhar a formulação de pensamento e a regulação das emoções.
Em testes realizados a medicação atrasou a velocidade com que os neurônios são mortos, reduzindo a progressão da doença. Na prática, isso possibilita com que o indivíduo mantenha uma rotina de trabalho, estudos e hobbies por mais tempo do que o Alzheimer permitiria em outras circunstâncias. Os benefícios também podem ajudar na autoestima, já que prolonga a independência do paciente.
Como usar o donanemabe
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a comercialização do donanemabe está autorizada desde o dia 22 de abril de 2025. Classificado com tarja vermelha, ele só pode ser vendido mediante a apresentação de uma prescrição médica. Tal medida visa manter uma maior fiscalização sobre sua circulação, em razão dos seus efeitos colaterais.
A substância está disponível no formato de solução injetável, cuja aplicação deve ser feita mensalmente (em um intervalo de quatro semanas), após avaliação e indicação de um médico especialista no tema. Cabe à equipe médica definir a dosagem e o tempo de uso do medicamento.
Efeitos colaterais
Nos ensaios clínicos do donanemabe, verificou-se que suas reações adversas mais comuns estão relacionadas à sua infusão, incluindo febre, náusea, vômitos, dor de cabeça e outros sintomas, semelhantes aos da gripe.
Mais raramente, o paciente ainda pode apresentar inchaço temporário em uma ou mais áreas do cérebro, que pode evoluir para episódios de sangramentos que podem ser fatais. Pelos estudos com o princípio ativo, percebeu-se que esses casos agravados são mais comuns entre as pessoas portadoras do gene apolipoproteína E ε4 (ApoE ε4).
Localizado no cromossomo 19, o ApoE ε4 é o gene mais comumente associado à doença de Alzheimer, e é considerado um biomarcador do risco genético para a condição. O teste do gene ApoE permite verificar a predisposição de um indivíduo de desenvolver a doença.
Vale salientar que esse risco de sangramento cerebral foi o que levou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) a negar a autorização de venda do donanemabe na União Europeia. Segundo a EMA, os benefícios do remédio não são suficientes para amenizar e compensar os riscos de eventos potencialmente fatais.
Assim como a Anvisa, porém, outras autoridades de saúde julgaram o medicamento seguro. Em decisão favorável ao princípio publicada em fevereiro de 2024, a Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos destacou a restrição do produto a pessoas em estágio leve de Alzheimer e sua contraindicação a pessoas com o gene ApoE ε4.
Contraindicações
Além de pessoas com fatores de risco genético, o medicamento deve ser evitado por indivíduos com histórico de reação alérgica a qualquer ingrediente de sua formulação. Seu uso deve ser sempre ponderado e indicado por um especialista.
Revisão técnica: João Roberto Resende Fernandes (CRM-SP 203006/RQE 91325), médico do Pronto Atendimento e Corpo Clínico, especialista em Clínica Médica do Hospital Israelita Albert Einstein.