A imunidade de uma pessoa é definida pela capacidade de seu sistema imunológico manter as células de defesa ativas para reconhecer e combater bactérias, vírus, fungos, parasitas ou até mesmo células cancerígenas. Essa “habilidade” do organismo pode ser adquirida tanto naturalmente, por exposição prévia, quanto por meio da imunização.
Nosso sistema imune é dividido em inato — primeira linha de defesa, que inclui barreiras como a pele e mucosas — e adaptativo, aquele que se adquire com o tempo e exposições do indivíduo, seja por infecções ou por vacinação. Existe também a imunidade passiva, na qual ocorre a transferência de anticorpos entre indivíduos, como nos bebês que recebem os anticorpos da mãe durante a gestação.
Em geral, não há necessidade de se monitorar a imunidade. Manter uma boa alimentação, fazer exercícios físicos regularmente e dormir bem já resultam nesse equilíbrio do organismo.
Eventuais problemas devem ser diagnosticados corretamente para estabelecer um tratamento adequado. Por exemplo: pessoas que apresentem sintomas como resfriados e gripes muito frequentes, muito estresse, problemas gastrointestinais recorrentes, feridas que demoram a cicatrizar, infecções sucessivas ou cansaço excessivo podem ter imunidade baixa.
Nesses casos, deve-se procurar um médico, e não recorrer a soluções supostamente fáceis e milagrosas. A seguir, conheça alguns dos principais mitos e verdades acerca da imunidade:
1. A suplementação de vitaminas é importante para melhorar a imunidade
MITO. Pessoas saudáveis, que se alimentam bem e de forma equilibrada, não precisam fazer suplementação de vitaminas – nem por comprimidos, nem por meio de soros. A menos, claro, que alguma deficiência seja constatada em exames. Aí, sim, a suplementação pode ser indicada, sempre com a orientação de um profissional da saúde e de acordo com as necessidades individuais.
Não há evidências de que o uso de altas doses de uma única vitamina ou de suplemento polivitamínico ajude o sistema imune. Além disso, certos nutrientes podem ser tóxicos ao organismo quando consumidos em excesso.
2. Fazer exercícios regularmente ajuda o sistema imune
VERDADE. Estudos mostram que exercícios físicos moderados melhoram a resposta imune, reduzindo mediadores inflamatórios, diminuindo o risco de doenças cardiorrespiratórias e doenças crônicas metabólicas (como diabetes e obesidade).
A atividade física moderada melhora a circulação sanguínea e linfática, aumentando a circulação das células do sistema imune e facilitando a eliminação de patógenos. Isso ajuda também a blindar contra bactérias das vias aéreas e dos pulmões.
Além disso, o aumento da temperatura corporal durante o exercício físico reduz o crescimento bacteriano. Já a liberação mais lenta de hormônios do estresse reduz o risco de contrair doenças.
Por outro lado, o treino prolongado de alta intensidade pode suprimir o sistema imune e aumentar a frequência de infecções respiratórias, por exemplo. Por isso, ao fazer exercícios, é importante deixar tempo suficiente para o organismo se recuperar.
3. A alimentação influencia na capacidade de reagir a patógenos
VERDADE. Ter uma dieta equilibrada e variada é importante para uma vida saudável, em qualquer idade. O consumo de alimentos naturais — como frutas, hortaliças, oleaginosas, sementes, grãos integrais e legumes — fornece antioxidantes e outros nutrientes que reduzem a inflamação do organismo.
Um cardápio variado também garante vitaminas A, C, E e D, além de minerais que ajudam a manter o sistema imune funcionando adequadamente. Evite que produtos ultraprocessados e preparações com excesso de gordura, açúcar e sódio, como fast-foods, predominem na sua rotina alimentar.
4. É importante suplementar vitamina C para garantir uma saúde mais forte
MITO. A vitamina C de fato desempenha um papel importante no funcionamento do sistema imunológico. Sabe-se que a deficiência devido a uma baixa ingesta nutricional pode aumentar a suscetibilidade a infecções. Porém, não há comprovação científica de que a suplementação seria benéfica para a função imunológica de indivíduos saudáveis. Pelo contrário, estudos enfatizam que essa prática é ineficaz na prevenção do resfriado comum e de infecções virais na maioria das pessoas.
5. Mel com própolis turbina o sistema imune
MITO. Apesar de o mel e o própolis terem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e imunomoduladores, ainda não existem estudos robustos que confirmem que seu uso regular ajuda a aumentar a imunidade.
6. Pessoas mais velhas têm baixa imunidade
NEM SEMPRE. O envelhecimento realmente modifica o sistema imune, que pode ser menos responsivo em certos aspectos. Mas alguns hábitos e práticas podem minimizar isso, principalmente boa alimentação, prática de exercícios físicos e sono reparador. Além de um estilo de vida equilibrado, pessoas idosas devem manter a caderneta de vacinação atualizada de acordo com sua faixa etária.
7. Hidratação é essencial para uma boa saúde
VERDADE. A hidratação é importante para o funcionamento de todo organismo, afinal, a água representa entre 60% e 70% da composição do corpo humano. Ela auxilia no transporte de nutrientes, na eliminação de substâncias, além de lubrificação, regulação da temperatura, dentre outras funções.
8. Vitamina D é fundamental para o sistema imunológico
DEPENDE. Todas as vitaminas exercem algum papel na resposta imune em geral, daí porque é importante manter um balanço nutricional adequado. Deficiências realmente podem prejudicar o mecanismo de defesa do nosso corpo.
Entretanto, é importante que esse déficit seja diagnosticado por um profissional de saúde, que vai orientar sobre a necessidade (ou não) de suplementação. É importante ressaltar que a administração de doses altas de vitamina D por conta própria pode causar efeitos adversos e riscos à saúde.
9. O estresse pode baixar a resistência a infecções
VERDADE. Há cada vez mais evidências de que o estresse contribui para a baixa imunidade. Essa observação está associada a estudos que comprovam o prejuízo da imunidade nas situações de estresse, portanto, o equilíbrio deve ser buscado.
10. Vacinas enfraquecem o sistema imunológico
MITO. É exatamente o contrário: as vacinas representam um avanço para a defesa contra infecções e fortalecem a resposta imune, estimulando a reação do organismo contra agentes infecciosos.
A recomendação é seguir o calendário vacinal, estabelecido com base em dados epidemiológicos, isto é, que consideram a idade de maior ocorrência de certas infecções e a resposta imune do indivíduo. Isso vale inclusive para os reforços vacinais, necessários após um certo período, dependendo do imunizante.
Fontes: Cristina Kokron, imunologista do Hospital Israelita Albert Einstein; Anete Grumach, imunologista membro do Departamento Científico de Erros Inatos da Imunidade da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).