Muitas vezes negligenciado, o sono é tão fundamental para o bom funcionamento do corpo humano quanto uma alimentação equilibrada e uma rotina de atividades físicas. Sobretudo quando se trata do desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Durante o sono, o cérebro não “desliga” — ele entra em ciclos intensos de atividade que são responsáveis por processos como consolidação das memórias, regulação emocional e liberação de substâncias cruciais para o amadurecimento, como o hormônio do crescimento (GH).
Podcast “O que te trouxe aqui?” | Temporada 2, Episódio 9
Entre os jovens, a privação de sono — isso é, a redução na quantidade de tempo de descanso — afeta diretamente as áreas do cérebro ligadas a tomada de decisões, controle de impulsos e processamento emocional.
Isso gera, por exemplo:
- Déficit de atenção e dificuldade de aprendizagem;
- Oscilações de humor, podendo ainda apresentar maior irritabilidade e sintomas de ansiedade ou depressão;
- Sistema imunológico debilitado;
- Obesidade e distúrbios metabólicos pela desregulação das sensações de fome e saciedade.
Problema associado à adolescência
Um estudo publicado em 2024 no European Journal of Pediatrics indica prevalência do transtorno de insônia crônica em 15% a 30% entre crianças pequenas (3–5 anos), de 11% a 15% em idade escolar (6–12 anos) e de 20% a 30% em adolescentes. Essa incidência elevada na adolescência não se dá apenas por uma escolha ou má vontade, mas sim por mudanças biológicas naturais no corpo.
Nessa fase, o relógio biológico sofre uma mudança natural chamada de “atraso de fase do sono”, em que o corpo começa a liberar melatonina (o hormônio responsável por induzir o sono) mais tarde.
Com o início das aulas escolares ocorrendo a partir das 7h, por exemplo, pode haver uma desconexão do ritmo biológico. Entre as consequências estão mau-humor, dificuldade de atenção, sonolência diurna e pior desempenho.
Educação do sono
Assim como se ensina higiene pessoal e alimentação saudável, é essencial promover a educação sobre o sono desde a infância, tanto nas escolas quanto no ambiente familiar.
A adoção de algumas ações práticas pode ajudar a promover uma relação mais saudável com o sono. Elas incluem:
- Estabelecer uma rotina regular de sono e despertar, mesmo nos fins de semana;
- Reduzir a exposição a telas até duas horas antes de dormir;
- Criar um ambiente propício ao sono, mais escuro, silencioso e sem grandes estímulos visuais e sonoros;
- Evitar o uso de estimulantes (como refrigerantes, café e energéticos) no fim do dia;
- Valorizar o descanso, e não cedê-lo em prol de mais tempo de trabalho ou estudo.