A gripe aviária é uma doença que acomete aves e é causada pelo vírus Influenza A. Existem muitas cepas diferentes do vírus e a maioria não acomete as pessoas, mas existem quatro delas que raramente podem infectar seres humanos:
- H5N1 (desde 1997)
- H7N9 (desde 2013)
- H5N6 (desde 2014)
- H5N8 (desde 2016)
As cepas H7N9 e H5N1 são as responsáveis pela maioria dos registros de gripe aviária em seres humanos. Desde o início de 2013 até 2023, foram confirmados 1.568 casos de H7N9 em humanos. Desses, 616 casos foram fatais (39%). O último caso de infecção humana com H7N9 foi relatado à Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019.
Recentemente, no primeiro semestre de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil registrou dezenas de casos de gripe aviária de alta patogenicidade (vírus H5N1). Os focos da doença foram detectados em aves silvestres, sem registros em humanos, e se concentraram, principalmente, na região Sudeste.
Médico infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, Moacyr Silva Junior diz que a alta taxa de mortalidade é explicada pela falta de imunidade da população às cepas do vírus influenza A, que causam gripe aviária: “mesmo sendo influenza, o ser humano não teve muito contato com as cepas do vírus que causam a gripe aviária, então, nós não temos imunidade para elas, nem mesmo parcial”.
Como não há uma vacinação específica, a orientação é que as pessoas se vacinem contra a gripe comum, a da Influenza, que é oferecida nos postos de saúde. A vacina pode levar as pessoas que se vacinaram a desenvolver imunidade parcial, segundo o infectologista, uma vez que se trata de diferentes cepas do mesmo vírus. O imunizante contra Influenza também reduz o risco de infecção por gripe comum e aviária ao mesmo tempo.
Como uma pessoa se contamina?
A contaminação em pessoas acontece a partir da exposição à saliva, muco ou fezes de aves infectadas (vivas ou mortas).
A gripe aviária em humanos é mais rara pois, segundo o infectologista, nós não temos nas gargantas, narizes e vias respiratórias superiores, receptores suscetíveis às atuais cepas do vírus. No entanto, infecções humanas podem ocorrer quando uma quantidade suficiente de vírus entra nos olhos, nariz ou boca de uma pessoa ou é inalada. Pessoas com contato desprotegido próximo ou prolongado com aves infectadas ou locais contaminados por aves doentes ou suas mucosas, saliva ou fezes podem estar em maior risco de infecção pelo vírus da gripe aviária.
O Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) alertou que não é possível pegar gripe aviária comendo aves ou ovos devidamente preparados.
Como prevenir?
O Ministério da Agricultura e Pecuária recomenda que as pessoas evitem tocar em aves doentes ou em carcaças de aves mortas. Caso seja necessário manuseá-las, é importante utilizar equipamentos de proteção individual.
Além disso, a pasta pede que médicos veterinários e agentes ambientais informem imediatamente à Unidade Veterinária Local do Serviço Veterinário Oficial mais próxima ao identificar aves com sinais clínicos respiratórios (tosse, espirro, bico aberto, dificuldade respiratória), sinais nervosos (torcicolo, andar cambaleante, comportamento fora dos padrões) e sinais digestivos (diarreia), assim como em casos de alta mortalidade de aves. É importante que eles evitem o contato com aves doentes sem a proteção adequada.
Quais são os sintomas de uma pessoa com gripe aviária?
Os sintomas da gripe aviária em seres humanos são semelhantes aos da gripe comum: febre, dor de cabeça, tosse e nariz entupido. Segundo o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido, outros sintomas podem incluir:
- Diarreia
- Enjoos e dor de estômago
- Dor no peito
- Sangramento do nariz e gengivas
- Conjuntivite
Geralmente, leva-se de três a cinco dias para que os primeiros sintomas apareçam após a infecção. Poucos dias após o aparecimento dos sintomas, é possível desenvolver complicações mais graves, como pneumonia e síndrome do desconforto respiratório agudo.
Existe tratamento para seres humanos?
Medicamentos antivirais, os mesmos recomendados para tratamento de influenza, ajudam a reduzir a gravidade da doença, previne complicações e aumentam as chances de sobrevivência.
Há vacina para as aves?
Sim, mas o assunto não é unânime entre os especialistas. Cada país tem autonomia para decidir se seus criadores comerciais de aves devem ou não vacinar os animais. Por exemplo, países como China, México e Itália optam pela vacinação das aves, enquanto o Brasil, o Reino Unido e os Estados Unidos não adotam essa prática.
De acordo com as orientações do Ministério da Agricultura e Pecuária, a vacinação de aves reduz o aparecimento de sinais clínicos de doenças e a mortalidade, mas não necessariamente interrompe ou previne o processo de disseminação do agente infeccioso. Isso prejudica o sistema de vigilância, uma vez que os primeiros sinais clínicos da doença em aves podem não ser evidentes. Além disso, restrições comerciais são impostas quando a vacinação é utilizada, afetando a exportação de produtos da indústria avícola.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) tem discutido amplamente esse assunto. No Fórum Mundial de Saúde Animal, realizado em maio de 2023 em Paris, a entidade defendeu o uso da vacinação como uma ferramenta complementar no controle da doença e discutiu os desafios de sua implementação. Entre esses desafios, destacam-se os custos e a dificuldade logística de vacinar milhões de animais, além de manter as vacinas atualizadas, uma vez que os vírus sofrem mutações constantemente.
Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).