Pesquisadores do Einstein descobrem novo vírus da febre hemorrágica

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Doença é rara e último caso no país foi registrado há mais de 20 anos. Novo vírus torna achado ainda mais surpreendente e descoberta só foi possível graças ao desenvolvimento de um teste inovador

Há mais de 20 anos o Brasil não registrava um caso de febre hemorrágica. Ontem, porém, o Ministério da Saúde confirmou a morte de um paciente provocada pela doença. Além da confirmação, outro diagnóstico inesperado foi anunciado: um novo vírus estava por trás do caso. A descoberta foi realizada por pesquisadores do Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Israelita Albert Einstein.

A febre hemorrágica é considerada extremamente rara e de alta letalidade, de acordo com o Ministério da Saúde. O último caso identificado da doença no Brasil ocorreu em 1994 no Jardim Sabiá, em Cotia, no interior de São Paulo, e ganhou o nome de Sabiá arenavírus.

Os arenavírus são vírus conhecidos por infectar roedores e, ocasionalmente, seres humanos e outros animais. Seus sintomas são diversos, mas muito parecidos com os da febre amarela. Podem ser transmitidos por contato com mucosas de pessoas infectada e a principal precaução é não entrar em contato com urina e fezes de ratos e roedores.

Dificuldade no diagnóstico

Os sintomas eram muito parecidos com os da febre amarela e o paciente, um homem de 52 anos, de Sorocaba, no interior de São Paulo, apresentava: febre, com hemorragia e confusão mental, além de hepatite, que pode ocorrer como uma complicação da febre amarela, doença causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti.

O paciente, que passou férias em Eldorado, no Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo, passou por hospitais do interior até chegar ao Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP). Para chegar a um diagnóstico conclusivo, a equipe de médicos do HC enviou amostras de sangue para o Laboratório de Técnicas Especiais do Einstein.

As duas instituições e mais uma dezena de centros de referência no país participam do projeto Estudo das características epidemiológicas e clínicas das hepatites virais agudas em serviços de saúde brasileiros, do Ministério da Saúde, por meio do programa PROADI-SUS.

No Einstein, todos os exames de sorologia e biologia molecular previstos pela iniciativa para identificar as causas da doença foram empregados. Todos deram negativo.  Um novo teste, então, foi utilizado.

Descoberta do Einstein

Graças ao novo método desenvolvido pelo Einstein, o viroma/metagenômica, foi possível identificar o novo vírus. A nova técnica diagnóstica funciona da seguinte forma: na primeira etapa do teste, chamada de bancada, pega-se a amostra e extrai-se todo o material genético. Ele é encaminhado para sequenciadores, que fazem sua identificação e a leitura de suas bases nitrogenadas.

“Esse resultado vai para a etapa seguinte, a de bioinformática”, explica o bioinformata Deyvid Amgarten, que participa da pesquisa. Pega-se essa sequência, que é como se fosse um código de barras para cada organismo, e busca-se um match nos bancos de dados, uma correspondência com o material genético depositado ali por outros pesquisadores do mundo todo.

Foi nessa fase que se identificou um arenavírus: o Mammarenavirus, gênero dos vírus da família Arenaviridae. O teste criado pelo Einstein é capaz de detectar vírus responsáveis por diversas doenças, como hepatites, sarampo, rubéola, dengue, Chikungunya, febre amarela, sarampo, caxumba e aids. Não só vírus: bactérias e parasitas também. Isso porque analisa o RNA desses microrganismos.

O novo teste de diagnóstico, semelhante a outros já utilizados no exterior, promete mudar a rotina de identificação dos agentes infecciosos. “O raciocínio clínico atualmente é pesquisar um por vez”, afirma João Renato Rabello Pinho, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Einstein. “Queremos tentar implementar esse novo teste como um substituto de vários outros.” Dessa forma, rastreiam-se diversos microrganismos de uma vez só.

“Sabemos que vírus e agentes patogênicos podem causar doenças muito parecidas. É muito difícil para um médico determina-las”, diz Rabello Pinho. “Estamos propondo no Einstein em casos muito graves partir para esse teste mais amplo e, assim, identificar o microrganismo por trás da doença e indicar o tratamento rapidamente.”

Novo vírus

Como suspeita-se que o último paciente tenha sido contaminado em Eldorado, a descoberta foi batizada de Eldorado arenavírus. Amostras dele serão enviadas para o Centers for Diseases Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, um dos principais centros epidemiológicos do mundo e também um dos poucos a dispor de laboratório com nível de segurança 4, onde ficam armazenados amostras dos vírus potencialmente letais, como o Ebola.

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