Displasia é o termo usado para descrever o desenvolvimento celular anormal que pode resultar em malformações nos tecidos e órgãos em qualquer parte do corpo. Na displasia cervical, o problema ocorre no colo do útero (canal endocervical), que conecta a cavidade uterina à vagina.
A displasia do colo do útero também é conhecida como neoplasia intraepitelial cervical (NIC) e está fortemente associada à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido principalmente por via sexual. É mais comum em mulheres com menos de 30 anos, mas pode se desenvolver em qualquer idade.
O prognóstico é positivo para mulheres com displasia cervical que recebem acompanhamento e tratamento médico adequados. No entanto, quando não tratadas, as lesões mais avançadas podem evoluir para um câncer cervical.
Quais os tipos de displasia cervical?
A displasia do colo do útero é classificada de acordo com seu grau de evolução, podendo ser leve, moderada ou grave. Isso depende do número de células afetadas e da progressão das lesões.
A displasia leve, em alguns casos, resolve-se sem tratamento, necessitando apenas de acompanhamento médico e de exames como o teste de Papanicolau. Esse exame citopatológico é realizado durante a consulta médica, por meio de um exame ginecológico no qual material do colo uterino é coletado e enviado para análise. No entanto, quando a doença avança, é necessário realizar um tratamento para eliminar as células anormais e, assim, reduzir o risco de câncer cervical.
O que está por trás da displasia cervical
A infecção crônica por certos tipos de HPV é a principal causa da displasia cervical, especialmente nas formas moderada e grave. Nas mulheres, o risco aumentado de infecção persistente por HPV está associado ao início precoce da atividade sexual, à prática de relações sexuais com homens não circuncidados (procedimento cirúrgico de remoção do prepúcio, membrana que envolve a extremidade do pênis), ao histórico de múltiplos parceiros sexuais e/ou ao relacionamento com parceiros que tiveram várias parceiras(os) sexuais.
Além disso, a infecção crônica por HPV e a displasia cervical estão associadas a fatores que afetam o sistema imunológico, tais como alterações hormonais, alimentação inadequada, sedentarismo, estresse, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tabagismo, tratamentos com drogas imunossupressoras para certas doenças, pós-operatório de transplante de órgãos e infecção pelo HIV.
Tabagismo aumenta chances do desenvolvimento
Entre as mulheres com infecção crônica por HPV, aquelas que fumam têm o dobro de chances de desenvolver displasia cervical grave em comparação com as não fumantes.
Como é feito o diagnóstico?
Como não provoca sintomas como dor, coceira, corrimento e odor fora do normal, frequentemente a displasia cervical é descoberta pelo exame Papanicolau de rotina. Embora o Papanicolau sozinho possa identificar a displasia cervical (em caso de suspeita, o médico costuma repetir o teste), exames de avaliação adicionais podem ser solicitados, como:
- Colposcopia – Exame ampliado do colo do útero para detectar células anormais seguido ou não por biópsia;
- Curetagem endocervical – Conhecida popularmente como “raspagem do colo do útero”, é um procedimento para verificar se há células anormais no canal cervical;
- Biópsia em cone – Tipo de biópsia que também é conhecido como conização, em que o médico remove uma amostra de tecido cervical em formato de cone que é então enviada para exames laboratoriais. O procedimento por ser realizado com um bisturi elétrico de baixa voltagem e alta frequência de corrente (LEEP, na sigla em inglês) ou com um bisturi tradicional (biópsia em cone a frio);
- Teste de DNA do HPV – Exame cujo objetivo é identificar se a infecção tem algumas das cepas relacionadas ao câncer cervical.
Qual é a conduta terapêutica para o tratamento?
O tratamento da displasia cervical depende da gravidade do quadro, idade e estado geral de saúde da paciente. Na displasia cervical leve, geralmente é adotado o monitoramento contínuo com testes de Papanicolau para verificar se o problema persiste por mais de dois anos e se há risco de evolução para um quadro moderado ou grave.
Além de ser um método diagnóstico, a biópsia em cone por LEEP também pode ser utilizada com finalidades terapêuticas para remover completamente as lesões pré-cancerígenas. Outras abordagens terapêuticas incluem a criocirurgia, eletrocauterização e cirurgia a laser, que são empregadas com o mesmo objetivo.
Atenção aos riscos
Dado que todas as formas de tratamento das neoplasias cervicais moderadas e graves estão associadas a sangramento intenso e possíveis complicações em uma gravidez futura, é crucial que as pacientes esclareçam suas dúvidas com o médico. Em todos os casos, após o tratamento, é necessário realizar exames de acompanhamento, que podem incluir testes de Papanicolau ou um teste de DNA do HPV.
Revisão técnica: Erica M. Zeni, médica da Unidade de Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein. Possui graduação e residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e residência em Medicina Interna pela Universidade de São Paulo (USP). Também possui pós-graduação em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium Latinoamérica Medicina Paliativa, em Buenos Aires, Argentina.