Mudanças frequentes de humor, impulsividade e instabilidade nas emoções e nos relacionamentos estão entre as características do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A pessoa com esse diagnóstico geralmente apresenta hipersensibilidade em suas relações e um medo intenso de abandono.
Indivíduos com borderline têm um padrão de personalidade que se mostra diferente da maioria das pessoas. Vivem relacionamentos intensos e instáveis com características impulsivas, rompantes ou oscilações de humor muito bruscas e intensas. Com isso, surgem problemas de relacionamentos interpessoais e de autoimagem.
Apesar de não existirem dados sobre sua prevalência no Brasil, estima-se que entre 1,5% e 3% da população mundial sofra desse transtorno de personalidade, que afeta tanto homens quanto mulheres. Acredita-se também que esse número possa estar subestimado, uma vez que muitos casos permanecem sem o diagnóstico correto.
Como é realizado o diagnóstico?
O psiquiatra é o profissional médico que deve analisar o histórico e o padrão de funcionamento que acompanha a pessoa desde a adolescência até o momento atual, incluindo suas vivências.
Para chegar ao diagnóstico correto, é necessário que o psiquiatra crie um vínculo de confiança com o paciente para entender melhor todo o processo, suas emoções, medos e angústias. A entrevista com familiares e amigos próximos também pode ser incluída no processo, auxiliando na busca pelas informações necessárias.
É importante saber diferenciar os sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline dos efeitos do uso de drogas ou mesmo de problemas de identidade, comuns na infância e adolescência.
Para realizar o diagnóstico correto de Borderline, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais indica que o paciente deve apresentar pelo menos cinco de nove características apontadas:
- Esforços desesperados para evitar algum episódio de abandono real ou imaginário;
- Padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, com alternância entre extremos de idealização e desvalorização da outra pessoa;
- Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si;
- Impulsividade em, no mínimo, duas áreas potencialmente autodestrutivas, como gastos excessivos, sexo desprotegido, abuso de substâncias ilícitas, direção irresponsável no trânsito ou compulsão alimentar;
- Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou automutilantes;
- Instabilidade afetiva em decorrência de uma acentuada reatividade de humor;
- Sentimentos duradouros de vazio;
- Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la;
- Pensamentos paranoicos transitórios associados a episódios de estresse ou sintomas dissociativos intensos, como problemas de memória, identidade, emoção, percepção, comportamento e senso de si.
Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, melhor para o paciente. A partir dos 14 anos, já é possível identificar os sintomas e investigar os possíveis fatores ambientais (relações, traumas, hábitos de vida etc.) que possam estar contribuindo para o desequilíbrio das emoções.
Quais as características e os sintomas?
Um dos sintomas mais significativos do TPB é o medo intenso de abandono, abrindo espaço para sentimentos de pânico ou raiva que podem ser desencadeados por situações cotidianas normais, como um atraso na resposta de um amigo a uma mensagem, por exemplo. Ao se sentirem rejeitadas, essas pessoas reagem de forma intensa e, por vezes, agressiva.
A recorrência de comportamentos, gestos e ameaças suicidas ou automutilantes é também parte dos sintomas apresentados por pessoas com TPB. Outra característica é a dinâmica dos seus relacionamentos, que tendem a ser instáveis e intensos, oscilando entre extremos de idealização e desvalorização. Em outras palavras, essas pessoas mudam rapidamente de opinião em relação aos outros.
Um traço marcante é a mudança brusca da percepção de si mesmo e da própria identidade, o que leva a mudanças frequentes de objetivos, valores, opiniões, carreira e até grupos de amigos. Com muita frequência, relatam sentir um “vazio crônico”. Apresentam humor instável, oscilando entre irritabilidade, ansiedade, tristeza e alegria, com alterações que podem durar poucas horas ou até mesmo alguns dias.
Quais as causas e os fatores envolvidos?
As causas ou fatores envolvidos no surgimento do Borderline são variados, desde predisposição genética a episódios estressantes na infância. São muito recorrentes no histórico desses pacientes situações traumáticas, como abusos físicos, verbais e sexuais, com negligência por parte de pais e/ou cuidadores.
Episódios como a separação ou a morte de um dos pais, especialmente durante os primeiros anos de vida, ou o nascimento de um irmão ou irmã, podem servir como gatilhos emocionais. Embora, à primeira vista, essas separações e mudanças possam parecer insignificantes, elas têm efeitos profundos em indivíduos que já possuem alguma predisposição genética para o transtorno.
Tratamento, remissão e manejo dos sintomas
Apesar do estigma e do desconhecimento geral, os avanços nas pesquisas, terapias e medicamentos indicam grandes chances de sucesso, seja na remissão dos sintomas ou no seu gerenciamento.
Embora a psicoterapia seja o principal tratamento reconhecido para o paciente borderline, a maioria dos métodos traçados contempla o uso de medicamentos.
Apesar de ainda não existir um único remédio que trate todos os aspectos do TPB, a medicação é útil para amenizar os sintomas associados (como antidepressivos para depressão) e domar características autodestrutivas, como a impulsividade.
O prognóstico atualmente é mais positivo do que se pensava algumas décadas atrás, mas ainda não existe uma cura definitiva para todos os indivíduos com transtorno borderline.