A dermatite atópica é uma doença crônica e hereditária, caracterizada por uma inflamação da pele que pode levar ao aparecimento de lesões e causar coceira. Essa condição não é contagiosa, mas se acredita que tenha uma natureza genética, já que a recorrência entre pessoas da mesma família costuma ser comum.
Os episódios podem ser desencadeados por uma série de fatores, como reações alérgicas a pelos de animais de estimação ou atrito da pele com certas peças de roupas. Em alguns casos, até o estresse em excesso pode engatilhar uma crise.
Vídeo: “Dermatite atópica – 10 coisas que você precisa saber sobre a condição”
Veja, a seguir, 10 pontos para entender melhor esse quadro clínico:
1. Não é um problema estético
A dermatite atópica é uma doença inflamatória crônica. Isso significa que seus sintomas permanecem por toda a vida, embora possam se manifestar de forma mais ou menos intensa com o tratamento correto.
Assim, por mais bem cuidada que a pele esteja, ela ainda pode ter uma sensibilidade maior a fatores externos. A coceira, por exemplo, pode ser tão intensa e persistente que chega a interferir no sono e nas atividades diárias da pessoa.
2. Pele seca vai além da falta de água
Indivíduos diagnosticados com dermatite atópica geralmente apresentam a pele mais ressecada. Porém, o problema é bem mais profundo do que apenas um caso de desidratação.
A questão central reside na falta de lipídios produzidos pela pele, que funcionam como um selo protetor, impedindo a perda de água. Sem essa camada oleosa, a água evapora com facilidade, deixando a pele vulnerável a produtos irritantes, microrganismos e alérgenos.
3. Cada caso é único
A predisposição genética é importante, mas não determinante para a gravidade do caso. Em uma mesma família, é comum que um irmão tenha sintomas leves e outro sofra crises intensas de dermatite atópica.
Isso acontece porque a doença é influenciada por fatores imunológicos, ambientais, hormonais e até psicológicos. Consequentemente, os tratamentos indicados para lidar com um quadro podem não surtir os mesmos efeitos em outro.
4. Certos fatores agravam a doença
Suor excessivo, mudanças climáticas bruscas, banhos muito quentes, uso de sabonetes abrasivos e fricção mecânica (como pelo uso de buchas e esponjas) são gatilhos conhecidos para o ressurgimento das lesões ou sua piora. E até fatores emocionais, como uma noite maldormida ou episódios de estresse, podem piorar o quadro.
5. Banho quente é um problema
A água quente dissolve a gordura protetora da pele, removendo até 70% dessa barreira em um único banho. Além disso, a fricção com buchas e esponjas agride ainda mais a pele, aumentando o risco de inflamação. Por isso, dermatologistas recomendam que quem sofre com dermatite atópica prefira banhos com água morna, além de reduzir o tempo sob o chuveiro e usar sabonetes suaves.
6. A doença pode se manifestar desde cedo
O início da doença pode ocorrer ainda na primeira infância, já por volta dos 2 ou 3 meses de vida. Mas isso não é regra; a dermatite também pode surgir na infância, adolescência ou fase adulta.
Vale salientar, no entanto, que quanto mais precoce e extensa for a manifestação, maior o risco de persistir e ser grave na vida adulta, pois a inflamação prolongada altera de forma duradoura a barreira cutânea. Se identificar sintomas em seu filho, busque um médico especialista.
7. Impacto do clima
O clima influencia de duas formas distintas na dermatite atópica. De um lado, o calor e a umidade aumentam o suor, que pode irritar a pele e estimular a coceira; durante o ato de coçar, a pele fica mais exposta a bactérias, favorecendo infecções. Já no tempo frio e seco, a baixa umidade do ar contribui para ressecar a pele.
8. A coceira vira um ciclo vicioso
A coceira leva a mais coceira, e esse círculo é difícil de interromper. Quando a pessoa se coça, a pele engrossa e se torna mais áspera e rachada (processo chamado liquenificação), o que libera mais substâncias inflamatórias.
Essas substâncias, por sua vez, aumentam a sensação de coceira, perpetuando o ciclo. É por isso que as terapias modernas tentam justamente bloquear os mediadores químicos que alimentam esse processo.
9. O tratamento está avançando
Esforços recentes demonstram que diferentes grupos étnicos apresentam variações no perfil genético e nas células inflamatórias envolvidas na doença. Com isso, surgem medicamentos direcionados (as chamadas terapias-alvo) que bloqueiam moléculas específicas ligadas à coceira e à inflamação.
Essa abordagem personalizada pode ajudar a reduzir efeitos colaterais provocados pelo problema. Esse caminho possivelmente representa uma nova era no manejo da dermatite atópica.
10. Cuidados diários ajudam a prevenir crises
O manejo da dermatite atópica exige uma rotina rigorosa, que inclui:
- Banhos rápidos, de três a sete minutos, com água morna;
- Uso de sabonetes sintéticos, formulados para peles sensíveis e que limpam sem remover toda a barreira lipídica;
- Hábito de hidratação diária e logo após o banho, para “selar” a umidade;
- Aplicação de pomadas com corticoides ou antibióticos, somente sob supervisão médica, respeitando a dose e o tempo de uso indicados pelo profissional.
Revisão técnica: Alexandre R. Marra (CRM 87712), pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE)