Pasta com flúor faz mal? Conheça 17 mitos e verdades sobre a cárie 

9 minutos para ler

As doenças bucais, embora amplamente preveníveis, ainda representam um grande problema de saúde pública: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que as condições orais afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo. As lesões de cáries não tratadas, por exemplo, são as mais comuns, de acordo com o Relatório Global de Status de Saúde Oral da OMS. 

Publicado em 2022, o documento aponta que a prevalência das doenças orais continua crescendo globalmente, sobretudo devido à exposição insuficiente ao flúor (no abastecimento de água e nos produtos de higiene oral, como cremes dentais), além do acesso precário a serviços de saúde bucal e maior consumo de alimentos com alto teor de açúcar. 

A boa notícia é que a cárie é uma doença prevenível e tratável. A seguir, conheça os principais mitos e verdades sobre o assunto:

1. A cárie é uma doença

VERDADE. As lesões de cárie acontecem a partir do biofilme que se forma pela adesão de bactérias na superfície dos dentes. Trata-se de uma doença crônica e multifatorial. Considerá-la uma doença é importante para entender que ela pode ser controlada. 

2. O açúcar é o único causador da cárie

MITO. O açúcar é o principal combustível para que as bactérias envolvidas no desenvolvimento da cárie façam com que a doença progrida, mas não o único. O ingrediente doce contribui para a formação do biofilme dental, que nada mais é do que a agregação das bactérias aderidas à superfície do dente, formando uma placa. Com isso, essas bactérias excretam ácidos que desmineralizam a estrutura do dente e levam à formação de cavidades ou lesões de cárie. 

E o vilão não é apenas o açúcar usado para adoçar comidas e bebidas, mas sim qualquer alimento rico em carboidrato, que vai ser metabolizado na boca e virar açúcar. Além disso, a qualidade e a frequência da higiene bucal também podem contribuir para a formação das lesões, uma vez que a escovação atua na desorganização dessas bactérias.

3. A saliva ajuda a evitar cárie

VERDADE. Nossa saliva tem um papel importante no equilíbrio fisiológico da boca e no controle da progressão da cárie. Suas funções são: fazer a limpeza mecânica e desorganizar o acúmulo de bactérias nos dentes, além de manter o pH da boca em um nível neutro. 

4. Idosos tendem a ter mais cáries

MITO. Pessoas idosas naturalmente têm uma diminuição do fluxo salivar, mas isso não significa mais facilidade para desenvolver lesões de cárie. Para um idoso ter cárie vai depender dos mesmos fatores de risco de qualquer outra pessoa: ingestão de açúcar e a frequência e qualidade da escovação.

5. Toda cárie provoca dor 

MITO. A lesão começa bem pequena, como uma manchinha branca, muitas vezes imperceptível, que vai evoluir e abrir uma cavidade. Enquanto essa lesão está na parte mais externa do dente (que é o esmalte), em geral, a pessoa não sente nada. Esse é o estágio em que a lesão é reversível. 

Quando a cárie progride e começa a atingir os tecidos mais profundos do dente (a dentina), chegando mais perto da polpa, a pessoa começa a ter algum tipo de sintoma. Masisso não é regra: há quem desenvolva uma cárie mais profunda e não sinta nada.

6. O tratamento da cárie sempre envolve fazer restauração

MITO. A cárie pode paralisar e parar de avançar se a pessoa passar a escovar corretamente os dentes, usar o fio dental e manter uma alimentação adequada, com higienização bucal frequente. 

Nesses casos, em que a cárie ainda está no começo, um dos tratamentos indicados é a fluorterapia – que pode ser por meio de um creme dental ou de um tratamento no consultório para conseguir remineralizar aquela mancha. 

7. Quem usa aparelho vai ter cárie 

MITO. Usar aparelho nos dentes torna mais difícil a higienização adequada. O próprio aparelho acaba retendo mais alimentos em locais que as bactérias conseguem ficar depositadas para proliferar e formar o biofilme. Mas não é porque usa aparelho que a pessoa vai ter cárie. A orientação é que esses pacientes tenham cuidados redobrados. 

8. A menopausa é fator de risco para o surgimento da cárie 

MITO. O desenvolvimento da cárie não tem nenhuma relação com alterações hormonais, sejam elas da menopausa, da gestação ou qualquer outra. Os cuidados para evitar o surgimento da lesão são os mesmos, sejam em uma mulher jovem, na menopausa ou idosa. 

9. Todo mundo vai ter cárie pelo menos uma vez

MITO. Apesar de ser muito frequente, nem todo mundo vai desenvolver o problema. A fluoretação da água, por exemplo, foi uma das estratégias de saúde pública que ajudaram na redução de pessoas com lesões de cárie no Brasil e no mundo. 

Além disso, a oferta de produtos de higiene bucal nos postos de saúde e a inclusão das equipes de saúde bucal na estratégia de Saúde da Família no Sistema Único de Saúde (SUS) são medidas essenciais para ampliar o acesso a dentistas. Também existem no mercado diversas marcas e valores de produtos de higiene bucal, o que é positivo como medida de prevenção.

10. A cárie tem cura 

VERDADE. A doença de cárie tem cura a partir do momento em que o paciente trata as lesões e consegue de forma efetiva mudar seus hábitos alimentares e de higiene.

11. Após ser tratada, a cárie não volta 

MITO. A cárie é uma doença crônica e controlável, e é possível evitar que apareçam novas lesões. Mas, se em algum momento o paciente parar de higienizar os dentes corretamente e tiver alguma alteração, pode ser que ela volte.

12. O flúor ajuda a prevenir a cárie

VERDADE. O flúor tem um papel protetor para os dentes. Uma vez que ingerimos água fluoretada e utilizamos creme dental fluoretado, os íons de flúor ficam disponíveis na saliva. Dessa forma, o flúor consegue se incorporar à estrutura dental, deixando-a mais resistente à desmineralização. Ele age como um reforço para que a desmineralização não aconteça tão facilmente. 

13. O uso de pasta com flúor faz mal para a saúde 

MITO. Vários estudos e evidências científicas comprovam os benefícios do flúor para a saúde dos dentes, desde que ele seja usado nas doses recomendadas: para uma criança com até 4 anos, a quantidade de creme na pasta deve ser do tamanho de um grão de arroz; para quem tem mais de 4 anos, do tamanho de uma ervilha. A concentração de flúor no creme dental deve ser de pelo menos 1.000 partes por milhão (ppm).

O flúor, principalmente aquele presente na pasta de dente, pode ser prejudicial somente se for ingerido em excesso — o que não é comum. Por isso é importante um responsável sempre acompanhar a criança durante a escovação para garantir que a quantidade de pasta colocada esteja de acordo com o recomendado e evitar que a criança engula pasta de dente em excesso.

Um dos possíveis prejuízos – apenas para as crianças – é o desenvolvimento da fluorose, que são manchas brancas estriadas nos dentes, que se desenvolvem no período em que eles estão erupcionando. Essas manchas não causam nenhum outro tipo de prejuízo à saúde, é apenas uma questão estética. Entre as estratégias de tratamento estão clareamento dental, microabrasão ou restaurações. 

14. Escovar os dentes previne cárie

VERDADE. Essa é uma das principais estratégias de prevenção para o desenvolvimento da cárie: fazer uma boa escovação, de maneira eficiente, pelo menos duas vezes por dia, com a pasta fluoretada, é o suficiente para garantir a proteção contra a cárie. 

O movimento da escovação tem que ser suave, a ponto de não causar nenhum tipo de trauma na gengiva – por isso, a escova precisa ter cerdas macias. Não é preciso colocar força no movimento, apenas fazer o suficiente para desorganizar as bactérias do biofilme. 

15. Usar enxaguante bucal regularmente previne cárie

MITO. Se a pessoa já usa um creme dental fluoretado, não tem necessidade de usar um enxaguante bucal de rotina para prevenção da cárie. Em alguns casos, é recomendado o uso de enxaguantes bucais com um princípio ativo específico (como a clorexidina) para o tratamento de doenças gengivais, e não da cárie. O uso é limitado, em torno de 15 dias. 

16. A cárie é um problema de saúde pública

VERDADE. A cárie é considerada um problema de saúde pública por ser uma doença multifatorial e social – estudos apontam que, além dos fatores de risco convencionais (como açúcar e higienização), ela tem relação também com as condições socioeconômicas da família, grau de escolaridade da mãe, cultura, comportamentos, conhecimento, entre outros. Dessa forma, o acesso ao serviço de saúde é fundamental para a prevenção e o controle da doença. 

17. Antibiótico causa cárie

MITO. É muito comum a crença de que crianças que tomam antibiótico têm dentes mais fracos e com mais lesões de cárie. Embora alguns medicamentos contenham açúcar, o principal problema nesse caso costuma ser falta de higienização — seja porque esse cuidado ficou de lado enquanto o pequeno esteve doente, seja porque o hábito precisa ser melhor incorporado na rotina familiar.


Fontes consultadas: Aline Moreno Ferreira Campos, cirurgiã-dentista e professora do curso de especialização Odontologia em Saúde Coletiva: Ênfase em Saúde da Família e Comunidade, do Ensino Einstein; Bruna Fronza, cirurgiã-dentista e professora doutora da disciplina de Odontologia Preventiva e Restauradora aplicada à Dentística e Cariologia, do curso de Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE). 

Posts relacionados