Uma picada de abelha pode ser fatal para alérgicos. Em alguns casos, ocorre reação generalizada e pode levar à morte se o socorro não for imediato.
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos cinco anos (até 2022), cerca de 100.000 casos de acidentes por abelhas foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Desses, 303 foram fatais. Os casos têm aumentado ano a ano. Para especialistas, isso ocorre devido à urbanização que faz com que as abelhas migrem do campo para as cidades, ao uso de agrotóxicos, ao desmatamento e à falta de flores que fornecem néctar e pólen.
As picadas podem gerar reações tóxicas e alérgicas. No primeiro caso, as complicações podem ser locais (dor, inchaço e inflamação) ou sistêmicas, como hipotensão, taquicardia e cefaleia. Há ainda a possibilidade de choque, insuficiência respiratória e renal agudas nos casos mais graves, geralmente quando a quantidade de veneno inoculado é grande. Já as reações alérgicas independem da intensidade do ataque.
Quais são as espécies de abelhas?
Existem mais de 400 espécies de abelhas no planeta. No Brasil, são cerca de 300 – somos o país com a maior diversidade de abelhas sem ferrão (ASF) do mundo.
Por aqui, as espécies mestiças de Apis mellifera scutellata (africana) e Apis mellifera ligustica (europeia) são responsáveis por muitos relatos de acidentes.
Uma ferroada pode matar
As reações às picadas de abelha podem variar desde lesões no local da picada até manifestações sistêmicas, como urticária, sintomas respiratórios (falta de ar, chiado no peito), gastrointestinais (náusea, vômitos, dor abdominal) e cardiocirculatórios (taquicardia, pressão baixa, perda de nível de consciência e quedas).
Em pessoas alérgicas, a picada de apenas uma abelha pode ser fatal, pois pode desencadear uma anafilaxia, uma reação alérgica generalizada de instalação rápida e, em alguns casos, fatal.
Essa reação fatal pode ocorrer quando a pessoa já foi picada anteriormente, sem apresentar consequências graves. No entanto, ao longo do tempo, o organismo desenvolve uma resposta alérgica, especificamente uma resposta IgE (imunoglobulina E) contra algum componente do veneno. A imunoglobulina E é um anticorpo crucial em reações alérgicas, combatendo substâncias responsáveis por desencadear alergias recorrentes.
O que fazer em caso de ataque?
A recomendação é se afastar imediatamente do local. Se surgir um enxame, o melhor é correr e se fechar em um cômodo, trancando janelas e portas. Se estiver próximo a um rio ou lago, entre na água. O uso de fumaça também é eficaz para afastar as abelhas. Se houver um extintor por perto, use-o. E, no caso de picadas por várias abelhas, o atendimento médico deve ser imediato.
Como a adrenalina age?
As reações anafiláticas são imprevisíveis, e cada picada de inseto apresenta a possibilidade de desencadear esse problema. Em adultos que já experimentaram uma reação anafilática, há uma probabilidade de 60% de que a reação se repita, e não é possível prever a gravidade.
A injeção de adrenalina constitui a base do tratamento da anafilaxia e deve ser administrada o mais rapidamente possível.
Em alguns países, canetas de adrenalina já estão disponíveis, permitindo que a vítima aplique a medicação em caso de novos incidentes. No entanto, no Brasil, essa opção ainda não está amplamente disponível.
Como é feito o atendimento?
É mais comum não ocorrerem reações graves após uma picada de abelha, manifestando-se apenas dor e inchaço no local da picada. Nesses casos, o médico realiza a limpeza da área, remove o ferrão com o auxílio de uma pinça ou agulha, e prescreve anti-histamínicos e corticosteroides por via oral. Além disso, são recomendadas compressas geladas e outras medicações para aliviar os sintomas.
Para pacientes que apresentam reações sistêmicas graves, após os primeiros socorros, é possível considerar a imunoterapia para dessensibilização. Essa abordagem é baseada em uma vacina de alérgenos, que visa aumentar a imunidade para que o organismo torne-se menos sensível à substância em questão. Esse tratamento requer acompanhamento de um especialista, sendo um processo longo e com custo elevado.
Pioneirismo brasileiro
Pesquisadores do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e do Instituto Vital Brazil (IVB), no Rio de Janeiro, desenvolveram um soro antiapílico para o veneno de abelhas africanizadas. O Brasil é o único país do mundo a produzir esse tipo de soro, que está em fase final de testes e que, depois da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), poderá ser disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Como evitar acidentes?
Para evitar problemas, nunca provoque abelhas ou mexa em um ninho, pois elas se sentirão ameaçadas e podem atacar. Em casos de formação de colmeias em residências, o proprietário deve acionar um apicultor especializado para a remoção do foco. Nos casos mais críticos, acione o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193. E lembre-se: as abelhas são muito importantes para o planeta, portanto, nunca as mate.
Revisão técnica: João Roberto Resende Fernandes, médico do pronto atendimento e corpo clínico, preceptor da residência em Clínica Médica do Hospital Israelita Albert Einstein.