O dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel (DIU-LNG) é um método contraceptivo hormonal de longa duração. Além de prevenir a gravidez com eficácia de 99%, ele também costuma ser indicado para tratar sangramento menstrual intenso e endometriose.
Desenvolvido em plástico flexível no formato de um pequeno “T”, o DIU-LNG contém o medicamento hormonal levonorgestrel, o mesmo encontrado na “pílula do dia seguinte”. No dispositivo, a substância é liberada diretamente no útero pelo período de cinco ou oito anos, a depender da quantidade em sua formulação: 19,5 mg ou 52 mg, respectivamente.
A presença do hormônio no útero o estimula a engrossar o muco cervical, dificultando a entrada dos espermatozoides, além de afinar o endométrio. Esse “afinamento” impede que o espermatozoide atinja as trompas e, consequentemente, fecunde o óvulo. A maioria das mulheres mantém a função ovulatória, mas em casos raros esse processo também é interrompido.
Como o dispositivo suprime o crescimento do tecido endometrial fora do útero, ele se torna uma opção viável para mulheres diagnosticadas com endometriose que têm contraindicação ao uso de contraceptivos orais combinados (COCs) – os comprimidos anticoncepcionais tomados diariamente. Isso inclui, por exemplo, pessoas com histórico de trombose venosa profunda (TVP), diabetes, cardiopatias, doença hepática ou embolia pulmonar.
Implante e manutenção
A inserção do DIU-LNG deve ser feita em consultório médico, preferencialmente durante o período menstrual, antes da ovulação. O procedimento pode causar cólica, sangramento leve e tontura, mas esses efeitos tendem a passar em poucos minutos.
Estima-se que seu efeito contraceptivo comece a funcionar após uma semana da colocação. Recomenda-se ainda retornar ao médico cerca de quatro a seis semanas depois do procedimento para verificar o sucesso da inserção, de preferência por meio de um exame de ultrassom.
Para maior segurança, a indicação é apenas tentar sentir mensalmente a presença dos fios do DIU na abertura do colo do útero e realizar os exames pélvicos e papanicolau anualmente.
Especialmente nos primeiros meses desde o procedimento, existe uma pequena chance do dispositivo se deslocar ou até mesmo sair do útero. Caso isso ocorra, marque uma consulta para a realização de um novo procedimento, e não se esqueça de adotar outro método contraceptivo para evitar a gravidez até a substituição do DIU.
Lembrando que o método não previne contra infecções sexualmente transmissíveis, então o uso de preservativo ainda é indicado.
Efeitos colaterais
Como todo medicamento, o DIU-LNG pode causar efeitos adversos, que diminuem com o tempo. Os mais comuns incluem:
- Cólica;
- Dor pélvica ou menstrual;
- Acne;
- Sensibilidade mamária;
- Ganho de peso;
- Alterações de humor;
- Dor de cabeça;
- Náusea;
- Inchaço abdominal.
Vale destacar que, enquanto o dispositivo intrauterino estiver instalado, a menstruação pode se tornar irregular, especialmente no primeiro semestre desde o procedimento.
Na prática, isso pode se traduzir em períodos mais longos. Em boa parte dos casos, o sangramento pode parar totalmente. Mais raramente, também é possível que a pessoa manifeste sintomas como:
- Dor intensa na pelve ou durante o sexo;
- Corrimento vaginal com odor forte;
- Feridas genitais;
- Febre;
- Calafrio;
- Icterícia (pele ou olhos amarelados);
- Desmaio;
- Enxaqueca severa;
- Dormência;
- Fraqueza repentina;
- Confusão;
- Problemas de visão;
- Sensibilidade à luz.
Se isso ocorrer, deve-se procurar atendimento médico. Caso seja necessário, acione o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) pelo número 192.
Contraindicações
O DIU-LNG é contraindicado a pessoas alérgicas ao levonorgestrel, bem como aos materiais utilizados na produção do dispositivo. Isso pode incluir silicone, sílica, prata, bário, óxido de ferro e polietileno.
Ele tampouco deve ser utilizado por gestantes. Se permanecer no local durante a gravidez, o DIU pode causar infecção grave, aborto espontâneo, parto prematuro ou ainda a morte da mãe.
Devido à maior vulnerabilidade aos possíveis efeitos colaterais, certas pessoas devem verificar com o médico a segurança do tratamento com o medicamento se apresentarem históricos de:
- Câncer de mama, útero ou colo do útero;
- Mioma;
- Sangramento vaginal anormal;
- Infecção não tratada da vagina ou no colo do útero;
- Doença inflamatória pélvica (DIP);
- Qualquer condição que afeta o sistema imunológico, como leucemia, HIV ou doença hepática;
- Problema nas trompas de Falópio;
- Aborto ou gravidez atípica;
- Cardiopatias, como derrame, pressão alta, doença da válvula cardíaca ou ataque cardíaco;
- Dor de cabeça frequente;
- Problema de coagulação sanguínea;
- Convulsão.
DIU-LNG no SUS
O método foi oficialmente incorporado ao SUS em 2025, por meio das Portarias nº 41 e 43, após recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
A medida amplia o leque de opções de planejamento reprodutivo e representa um avanço também para o tratamento da endometriose. A doença inflamatória, caracterizada pelo crescimento do endométrio, afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Só no Brasil, o SUS registrou mais de 260 mil atendimentos a pacientes com esse problema entre 2023 e 2024, de acordo com o Ministério da Saúde.
É importante frisar, porém, que a oferta nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) não é imediata, e ainda depende de etapas administrativas e logísticas, como a capacitação de equipes e a aquisição dos dispositivos. Por isso, não há prazo definido para o início da sua distribuição gratuita.
Até lá, o SUS continuará oferecendo outras opções de tratamento para a endometriose e métodos contraceptivos Dentre eles, os anticoncepcionais orais combinados, os medicamentos análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que diminuem a inflamação típica da endometriose, e os anti-inflamatórios e analgésicos para o controle da dor.
Revisão técnica: Alessandra Bedin Pochini (CRM 90562/RQE 0023/2020/RQE 193831), ginecologista e nutróloga do Einstein Hospital Israelita.