Quais medicamentos a mulher que amamenta pode usar e quais exigem cautela?

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A amamentação é fundamental para a saúde de um recém-nascido. O leite materno contém todos os nutrientes necessários para promover o crescimento saudável da criança, além de ajudar no processo de fortalecimento do seu sistema imunológico. No entanto, quando as lactantes precisam fazer uso de algum tipo de medicamento, muitas se veem em meio a um dilema: afinal, o que é seguro tomar?

É comum que as mulheres precisem utilizar algum tipo de remédio no pós-parto. Mas o receio de prejudicar o filho faz com que muitas não façam o tratamento corretamente ou interrompam o aleitamento sem necessidade.

Embora a maioria dos medicamentos seja considerada compatível com a lactação, alguns demandam monitoramento junto a um médico. Por isso é tão importante que as lactantes estejam atentas sempre ao tipo de substância que estão consumindo e saibam os principais grupos de risco. Conheça alguns deles:

1. Fármacos que atuam no sistema nervoso central

Os medicamentos psiquiátricos e neurológicos estão entre os que mais merecem atenção:

  • Antidepressivos e estabilizadores do humor: remédios como fluoxetina e sertralina são geralmente seguros, mas a doxepina exige cautela por provocar sonolência excessiva, dificuldade respiratória e até apneia em recém-nascidos. O carbonato de lítio, usado no tratamento do transtorno bipolar, pode causar intoxicação grave, já que o bebê tem baixa capacidade de excreção renal;
  • Antiepilépticos: dependendo da dose, substâncias como fenobarbital e primidona podem acumular-se no organismo da criança, causando sedação, letargia e prejuízos ao desenvolvimento neurológico. No caso do ácido valproico e da carbamazepina, há relatos de toxicidade hepática em lactentes. Por isso, só devem ser usados com acompanhamento médico;
  • Neurolépticos (antipsicóticos): alguns, como a clozapina, estão associados a sonolência, hipotonia e risco de agranulocitose (redução grave das defesas do sangue) no bebê.

2. Analgésicos e anti-inflamatórios

A dor e a febre são queixas comuns no puerpério, mas nem todos os analgésicos são iguais em termos de segurança nessa fase:

  • Analgésicos comuns: paracetamol e ibuprofeno são considerados seguros. A dipirona (metamizol) tem restrições em alguns países, mas no Brasil costuma ser recomendada por médicos. Na dúvida, fale com um profissional de saúde;
  • Analgésicos opioides: com supervisão, a morfina pode ser utilizada em doses controladas e por curtos períodos, mas a codeína e a meperidina devem ser evitadas. Essas substâncias podem causar depressão respiratória, sonolência intensa e até intoxicação no lactente, especialmente em recém-nascidos;
  • Medicamentos contra enxaqueca: derivados do ergot, como a ergotamina, podem provocar náusea, vômito, convulsões e intoxicação no bebê, além de reduzir a produção de leite.

3. Antimicrobianos

Antibióticos como as penicilinas e as cefalosporinas são seguros e costumam ser prescritos no pós-parto, mas outros merecem atenção, principalmente a depender da idade do bebê e da duração do uso, por exemplo. São eles:

  • Cloranfenicol: pode causar anemia aplástica e a “síndrome do bebê cinzento”, um quadro grave com colapso circulatório;
  • Tetraciclinas (como doxiciclina): podem prejudicar a formação óssea e manchar os dentes em desenvolvimento;
  • Sulfonamidas: apresentam risco de icterícia grave (kernicterus) em recém-nascidos, especialmente prematuros;
  • Fluoroquinolonas (como ciprofloxacino): podem afetar cartilagens em desenvolvimento.

4. Fármacos cardiovasculares

O tratamento de hipertensão ou arritmia também exige cautela:

  • Amiodarona: acumula-se no organismo da criança, podendo causar disfunção da tireoide e atraso no desenvolvimento neurológico;
  • Estatinas (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina): contraindicadas porque faltam estudos em lactantes e há risco de interferir no metabolismo lipídico do bebê;
  • Diuréticos potentes (como furosemida em altas doses): em altas doses, podem reduzir a produção de leite, portanto, exigem acompanhamento médico.

5. Imunossupressores e quimioterápicos

Medicamentos usados no tratamento de câncer e doenças autoimunes, como ciclofosfamida, metotrexato e ciclosporina, estão entre os mais perigosos. Eles podem comprometer a medula óssea, reduzir as defesas imunológicas do lactente e até afetar o crescimento celular. Nesses casos, a amamentação é geralmente contraindicada.

6. Outros

Retinoides orais, como a isotretinoína, têm contraindicação absoluta durante o aleitamento. Já radiofármacos, caso do iodo radioativo, exigem suspensão temporária ou definitiva da amamentação.

Orientação é fundamental

A decisão sobre suspender ou não a amamentação deve ser feita caso a caso, considerando aspectos como a idade do bebê, a dose do produto, a duração do tratamento e a possibilidade de usar alternativas mais seguras. 

A maioria dos medicamentos é compatível com a lactação — apenas uma pequena parcela (cerca de 1% a 4%) realmente exige a suspensão do aleitamento. Consulte sempre um médico especializado para saber como proceder. 

Alessandra Bedin Pochini, Ginecologista e nutróloga do Einstein Hospital Israelita, CRM 90562 / RQE 0023/2020 / RQE 193831

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