Pacientes que ainda estão em crescimento e desenvolvimento do sistema musculoesquelético também podem apresentar fraturas, assim como ocorre nos adultos.
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Essas lesões podem ocorrer após acidentes com maior energia, como atropelamentos ou quedas de bicicleta, ou ainda por traumas leves, como a queda de uma altura pequena ou o simples fato de se defender de uma bola com a mão, por exemplo.
O que muda em relação aos adultos?
Diversos fatores fazem com que o padrão das fraturas em pacientes ainda em crescimento seja diferente quanto ao tipo e ao tratamento em relação aos adultos. Alguns desses fatores são listados abaixo:
As crianças possuem uma menor densidade mineral óssea que os adultos, ou seja, na sua composição, há uma menor quantidade relativa de cálcio e outros minerais. Isso torna os ossos mais elásticos, o que lhes permite deformar com maior facilidade.
É por essa razão que as crianças podem apresentar lesões exclusivas (Figuras 1, 2 e 3). Somente no esqueleto ainda em desenvolvimento, os ossos podem amassar, entortar ou trincar com grande deformação sem que percam totalmente a integridade.
A membrana que é responsável pelo crescimento em espessura, parte da nutrição e da inervação dos ossos é chamada de periósteo, e é tão mais espessa quanto mais nova é a criança. Este é um dos motivos pelos quais as fraturas em crianças menores são mais estáveis, precisando de menos fixação cirúrgica, e se consolidam (colam) mais rapidamente.
Por último e mais importante, os ossos de indivíduos com esqueleto imaturo apresentam regiões chamadas de “fise”, cartilagem fisária ou, simplesmente, cartilagem de crescimento. Elas são responsáveis pelo crescimento em comprimento dos ossos, e consequentemente dos membros.
No caso específico das fraturas, as fises são importantes pois podem ser lesadas em algumas fraturas, levando a deformidades ou encurtamento no membro acometido.
Por outro lado, é por causa das cartilagens de crescimento que ocorre um fenômeno bom, chamado “remodelação óssea”.
Remodelação é o nome dado à tendência dos ossos de crianças e adolescentes de voltar ao formato original após uma fratura com desvio.
Quais são os sintomas?
Nestes pacientes, o quadro clínico é semelhante ao adulto, com dor e deformidade no local acometido. No entanto, ele tende a ser mais brando que nos adultos, ou seja, há menos dor em geral, e o membro fraturado pode ser inclusive utilizado com pequenas limitações funcionais.
Como fazer o diagnóstico?
O exame de raios-x pode ser muito difícil de ser interpretado e muitas vezes até insuficiente, devido ao osso não estar totalmente mineralizado e ser menos “visível” por este exame. É primordial que o exame seja interpretado por um especialista.
Qual é o tratamento de uma fratura?
Essa é uma das partes onde existem mais lendas e boatos na área de ortopedia pediátrica, e por isso é tão importante a avaliação de um especialista.
Isso ocorre porque alguns desvios de fratura, que não seriam aceitáveis em adultos, são passíveis de tratamento com gesso em pacientes mais jovens.
Mais frequente ainda, por outro lado, são aqueles que acreditam que todas as fraturas podem ser tratadas sem intervenção, somente com imobilização, levando a um resultado sempre positivo.
No entanto, isso não é verdade, pois há fraturas que não toleram certos desvios, sobretudo quando envolvem as regiões próximas às articulações ou acometem diretamente as cartilagens de crescimento. Nestes casos, os ossos devem ser reduzidos (colocados de volta ao lugar) e eventualmente fixados por meio de cirurgia, pois podem levar a resultados inadequados no caso de tratamento incorreto.
Por diversos fatores, as fraturas em crianças costumam ter um bom prognóstico (boa evolução) após o tratamento, com algumas exceções. Acredita-se que por estarem menos sujeitas a traumas de grande impacto, utilizarem imobilização por menor tempo e apresentarem o fenômeno da remodelação, a gravidade das fraturas é menor e há um menor comprometimento das estruturas ao redor, preservando mais a função do membro acometido.
Eventualmente pode ser necessária reabilitação com fisioterapia ou terapia ocupacional, mas esta não é a regra, já que muitos estudos já demonstraram que, para algumas lesões, o resultado sem a realização de fisioterapia pode ser melhor do que com ela.
Em situações como essa, procure um médico imediatamente, pois ele saberá como cuidar dos próximos passos.
Revisão técnica: Fernando A. D. Oliveira, médico ortopedista e traumatologista pediátrico pela FMRP- USP, pós-graduado em medicina esportiva pela Unifesp e médico do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.