4 danos pouco conhecidos do cigarro eletrônico à saúde

5 minutos para ler

Os cigarros eletrônicos, também conhecidos pelo termo em inglês vapes (que vem do verbo vaporizar), têm se popularizado cada vez mais, principalmente entre os mais jovens.

Embora sejam frequentemente promovidos como uma opção menos prejudicial do que o cigarro convencional, estudos mostram que o uso desses dispositivos pode representar sérios riscos à saúde. 

Assim como o cigarro, eles contêm substâncias químicas que, quando inaladas, podem afetar os pulmões, o sistema cardiovascular e também prejudicar outras áreas do organismo. Além disso, a venda, a importação, o armazenamento, o transporte e a publicidade de cigarros eletrônicos são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que dificulta a regulamentação de seus componentes.

Em 2024, a Resolução da Diretoria Colegiada RDC n° 855/2024 reforçou também a proibição de uso dos vapes em recintos coletivos fechados, sejam eles públicos ou privados. 

A seguir, conheça quatro perigos pouco conhecidos dos cigarros eletrônicos:

1. Aumento do risco de câncer

Assim como o cigarro comum, o uso das versões eletrônicas eleva a probabilidade de desenvolver câncer. Na verdade, o diagnóstico da doença pode ocorrer quase 20 anos antes do que nos fumantes convencionais. A constatação é de um estudo retrospectivo conduzido por universidades dos Estados Unidos a partir de informações de 154.856 indivíduos, coletadas entre 2015 e 2018.  

Com o cigarro eletrônico, o diagnóstico de câncer aconteceu em média aos 45 anos, contra 63 anos nos fumantes tradicionais. Os adeptos do novo modelo também apresentaram tumores diferentes dos que costumam ser associados ao tabaco: os mais comuns foram câncer cervical, leucemia, câncer de pele e de tireoide.  

Por serem relativamente novos, os dados sobre o impacto na saúde do cigarro eletrônico a longo prazo ainda são limitados, mas já se sabe que não são inofensivos.

2. Piora do desempenho em exercícios

Jovens que fumam cigarro eletrônico têm desempenho similar ao dos adeptos de cigarros tradicionais durante a atividade física. A conclusão é de um estudo feito na Inglaterra com 60 voluntários na faixa dos 20 anos, divididos em três grupos: os não fumantes, os fumantes de vape e os de tabaco — nesses casos, eles fumavam havia cerca de dois anos. 

Os participantes foram submetidos a um exame de espirometria (que avalia a função pulmonar e um teste de bicicleta, para verificar o funcionamento de coração, pulmões e músculos. O fluxo sanguíneo foi monitorado por meio de ultrassom, enquanto os exames de sangue mediram marcadores inflamatórios. 

As conclusões mostram que tanto os fumantes de vape quanto os de cigarro tradicional tiveram pior performance em relação a quem nunca tinha fumado. Eles tiveram mais falta de ar, sinais de fadiga muscular antes do pico do exercício, maior dificuldade na hora de se exercitar e comprometimento da circulação. 

3. Prejuízo à saúde bucal

Os malefícios do cigarro eletrônico não se restringem aos pulmões ou ao coração – eles afetam a boca também. Uma revisão de oito estudos envolvendo quase 32 mil participantes revela que quem tem o hábito de fumar vapes corre mais risco de desenvolver cárie, doenças nas gengivas (como gengivite e periodontite) e inflamações orais em geral. 

Isso acontece porque os cigarros eletrônicos estão relacionados à diminuição do fluxo da saliva, quadro cientificamente chamado de xerostomia. Essa condição aumenta o risco de cáries e doenças periodontais, pois a saliva tem um papel importante no equilíbrio do ambiente bucal e no controle do crescimento das bactérias que provocam esses problemas.

Além disso, os vapes também podem levar a infecções oportunistas, principalmente a candidíase pseudomembranosa (uma infecção fúngica oral, caracterizada pela aparição de lesões com membranas esbranquiçadas no interior da boa). Todos esses problemas são associados aos diversos compostos químicos presentes no vapor dos cigarros eletrônicos e à quantidade de açúcar encontrada nos aromatizadores utilizados nos aparelhos. 

4. Maior risco de uso de maconha e álcool 

Outro malefício pouco conhecido dos cigarros eletrônicos é que eles aumentam o risco de consumir maconha ou álcool em excesso. A constatação é de um estudo feito na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, que avaliou dados de mais de 50 mil jovens entre 13 e 18 anos estadunidenses.

Os resultados apontam que aqueles que fumavam cigarros comuns tinham cerca de oito vezes mais risco de usar maconha, enquanto o vape aumentou essa probabilidade em mais de 20 vezes. O hábito de fumar cigarro eletrônico também multiplicou por cinco a probabilidade de um episódio de abuso de álcool.


Fontes consultadas: Luiza Helena Degani Costa, pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein;  Karla Curado, pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia; Leticia Bezinelli cirurgiã-dentista coordenadora da graduação de odontologia e responsável pelo serviço de odontologia hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein; Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp;. Celso Augusto Lemos Junior, cirurgião dentista especializado em estomatologia e membro do Crosp; Jackeline Giusti, do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

Posts relacionados