O preconceito ainda leva algumas pessoas a pensarem que consultar um especialista em saúde mental é sinônimo de “fraqueza”. No entanto, os cuidados psicológicos são tão importantes quanto a atenção à saúde física, pois eles garantem o bem-estar por uma frente “invisível”, que envolve o processamento dos acontecimentos e a compreensão dos próprios sentimentos.
Sujeitos em todas as fases da vida podem se beneficiar do amparo de psicólogos e psiquiatras, especialmente as crianças e os adolescentes. Nessas fases, os jovens ainda estão em processo de desenvolvimento de personalidade, gostos, emoções e comportamentos, e o auxílio de um profissional pode ajudá-los a superar eventuais obstáculos que apareçam no caminho.
Vídeo: Seu filho precisa de psicólogo? Como funciona a terapia infantil?
Isso inclui, por exemplo, déficits de atenção, separações, eventos traumáticos, dificuldades de socialização, perdas e descobertas sobre si mesmo. Mas como identificar quando é hora de procurar um especialista?
Para responder a essa e outras perguntas, separamos quatro pontos para entender como funciona a terapia infantojuvenil. Conheça, a seguir.
1. Seu apoio é indispensável
Mais do que só reconhecer os sintomas que indicam que a criança precisa de ajuda e estar abertos a buscar um profissional para atendê-la, os pais devem se envolver na terapia. Isso não quer dizer, necessariamente, participar das consultas, mas, sim, apoiar o terapeuta e o filho.
Garantir a assiduidade das sessões e acolher o indivíduo sempre que necessário é essencial para o sucesso do tratamento psicológico. Estigmatizar ou julgar o trabalho em andamento pode prejudicar os cuidados e até mesmo desgastar a relação com o jovem.
2. Preste atenção aos sinais
Quando enfrentam situações de muito estresse psicológico, é comum que grande parte das crianças e dos adolescentes passem a apresentar mudanças bruscas de comportamento. Elas tendem a piorar gradualmente com o tempo.
Na prática, isso quer dizer que alguém muito falante pode começar a ser mais quieto e preferir se isolar, por exemplo. Em outras situações, é possível que os jovens adquiram medos que não tinham antes ou até percam sua autonomia de realizar certas atividades. Uma dependência muito grande dos cuidadores pode ser um sinal de alerta.
A separação dos pais, a perda de um ente querido e mudanças (de cidade, escola, casa etc.) também são questões que devem ser acompanhadas de perto pelos responsáveis.
3. Tem que participar
Geralmente, com adultos e idosos, que têm grande capacidade de expressão, a conversa tende a guiar as sessões com o psicólogo. Contudo, no caso das crianças, especialmente as mais novas, esse pode não ser o caso.
As consultas podem contar com o uso de ferramentas lúdicas, que incluem jogos, brincadeiras e desenhos. O objetivo com essa abordagem é estimular que a criança expresse de maneira mais inteligível o que está se passando com suas emoções.
Cabe aos pais ou responsáveis levar informações sobre o progresso do jovem à medida que as intervenções propostas pela terapia são iniciadas. Isso ajuda o profissional a qualificar o trabalho em andamento e, se necessário, fazer ajustes.
4. Prevenindo outros problemas
Na infância, a terapia consegue, por meio do contato com a criança, ajudá-la a se expressar, dar suporte emocional e construir com ela ferramentas ou hábitos saudáveis para atravessar as adversidades. Tudo isso enquanto ainda promove o autoconhecimento.
Já no público adolescente, a ajuda geralmente tende a se aprofundar no autoconhecimento, no processamento de situações tensas e no desenvolvimento das relações. Ela também combate os efeitos de distúrbios mentais prejudiciais, como a ansiedade e a depressão, muito comuns nos tempos atuais.
Quanto mais cedo a terapia for iniciada, maiores são as chances de fortalecimento mental. Com isso, dificilmente questões cotidianas causarão impactos tão grandes na vida da pessoa. O método também reduz a possibilidade de desenvolver algum tipo de quadro psicológico mais complexo, como pânico e fobia social.
Outro ponto que ajuda é saber qual comportamento esperado para a idade, o que envolve entender quais informações a criança consegue compreender e processar, para além do que adultos podem considerar “normal”.
Revisão técnica: Erica Maria Zeni (CRM 140.238/ RQE 75645 e 756451), clínica geral e médica paliativista do corpo clínico Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Possui graduação e residência Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e residência Medicina Interna pela Universidade de São Paulo (USP). Pós graduação em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium Latinoamerica Medicina Paliativa, Buenos Aires, Argentina.