Qual a importância das amizades na saúde de crianças e adolescentes?

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Em tempos primitivos, estar sozinho significava ficar mais vulnerável às ameaças externas, que iam desde eventos climáticos a ataques de predadores. Nesse sentido, a socialização apareceu como um comportamento evolutivo muito benéfico à sobrevivência da espécie humana. Não à toa, é algo que praticamos até hoje.

Mais do que uma característica biológica, a vida compartilhada em comunidade se tornou um aspecto fundamental no desenvolvimento emocional, social e até mesmo físico de um indivíduo. Daí a importância das amizades e das chamadas “tribos”. Essas relações, porém, mudam conforme se envelhece. Por isso, são tão diferentes na infância e na adolescência.

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Brincar para crescer

Na infância, a amizade se dá de forma instintiva e descomplicada. Crianças se aproximam com naturalidade, sem exigências profundas. Uma brincadeira, um objeto compartilhado ou uma gargalhada bastam para uma conexão começar a se desenvolver.

Essas relações costumam ser mais momentâneas, ligadas a contextos específicos, como a escola, a rua ou o parque. Contudo, por trás da leveza dessas interações, há um verdadeiro processo de desenvolvimento em curso. Brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega ou faz de conta estimulam o corpo, o cérebro e as emoções. 

Durante um simples passeio na praça, a criança aprende, ainda que intuitivamente, a esperar sua vez, lidar com frustrações, pedir desculpas e celebrar vitórias. Basicamente, esses são os primeiros contatos com o mundo para além da família, e cada experiência ajuda a moldar a maneira como o jovem se relaciona com os outros e consigo.

Chegada à adolescência

A transição para a adolescência marca uma mudança radical no jeito de fazer e viver amizades: a espontaneidade infantil dá lugar à cautela; o medo do julgamento, a vergonha e a sensação constante de inadequação tornam os adolescentes mais seletivos e, muitas vezes, mais inseguros na hora de se abrir a novos laços. 

Por outro lado, os amigos passam a ter um papel crucial na vida, em espaços que antes eram ocupados pelos pais e responsáveis. São eles que vão ouvir os desabafos, validar gostos, guardar segredos e ajudar a construir uma identidade que já não gira apenas em torno das personalidades do núcleo familiar.

Esse período é caracterizado pelo afastamento natural dos pais e responsáveis. Isso não é sinal de rebeldia nem desprezo, mas, sim, de autonomia em formação. A adolescência é uma fase em que a pessoa busca se diferenciar para se entender como sujeito. Nesse processo, as tribos funcionam como espelhos e bússolas.

Na prática, isso pode ocasionar uma série de mudanças. À medida que os gostos, valores e interesses evoluem, não é incomum que as amizades da infância deixem de fazer sentido ou deem lugar a outras relações que conversem melhor com o momento atual.

Mesmo que esperado, existe a possibilidade dessa movimentação de rompimento levar a frustrações. Para um adolescente, perder um amigo pode ser tão impactante quanto o fim de um namoro – e deve ser tratado com a mesma seriedade pelos adultos à sua volta.

Papel dos pais e responsáveis

Em meio ao turbilhão da adolescência, o desafio dos pais e responsáveis é encontrar o equilíbrio entre estar presente e respeitar o espaço do jovem. A proximidade precisa ser genuína, mas sem tomar a frente de nenhuma ação, tampouco invadir sua privacidade.

A escuta ativa é uma ferramenta poderosa. Ouvir de verdade o que os adolescentes têm para compartilhar, sem julgamentos apressados ou críticas, os ajuda a entender e nomear os próprios sentimentos. 

Além disso, certas atitudes fazem toda a diferença:

  • Acolher com empatia os momentos de tristeza pelo fim de uma amizade;
  • Estimular passeios e encontros com amigos;
  • Oferecer caronas e abrir a casa para receber os colegas;
  • Incentivar a participação em atividades extracurriculares, como esportes, dança, teatro ou música, que favorecem o surgimento de novos vínculos;
  • Ajudar a fortalecer a autoestima, sem comparações ou cobranças excessivas.

No entanto, apesar da importância de manter uma relação aberta e afetiva com os filhos, é fundamental lembrar que os pais não devem tentar ocupar o lugar dos amigos. Há um limite saudável entre companheirismo e autoridade. 

A figura parental deve ser, antes de tudo, uma referência, que ofereça segurança, limites e orientação. Tentar igualar-se emocionalmente a um “amigo” pode gerar confusão para o adolescente, que ainda precisa de adultos estáveis para se apoiar ao longo do seu desenvolvimento.

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