Saiba por que não se deve beijar um bebê recém-nascido

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Beijar um bebê é uma demonstração de carinho comum em certas culturas. No entanto, apesar da intenção amorosa por trás desse gesto, ela pode representar riscos à saúde dos pequenos – especialmente nos primeiros meses de vida.

O sistema imunológico de um recém-nascido ainda não está completamente desenvolvido. Isso significa que a criança tem mais dificuldade em combater bactérias, vírus e outros agentes patogênicos que podem ser transmitidos pelo contato direto, como o beijo. 

Até o quarto mês de vida, o bebê tem um sistema imune menos potente, que ainda não é capaz de gerar uma resposta imunológica específica e seus mecanismos de defesa ainda não tão eficientes.

Transmissão por gotículas

Grande parte das infecções é transmitida por gotículas de saliva ou por contato direto. Por isso, beijos no rosto, mãos ou pezinhos podem ser perigosos. Isso porque o bebê frequentemente leva essas partes do corpo à boca, aumentando o risco de contaminação. E mesmo quando o adulto não apresenta sintomas, pode transmitir doenças respiratórias, como a influenza

Muitos vírus podem ser contagiosos até dois dias antes dos primeiros sintomas aparecerem. Um exemplo preocupante é o vírus do herpes simples, que pode ser passado mesmo sem sinais visíveis. 

Quando ativo, ele causa bolhas nos lábios e, se transmitido ao bebê, pode gerar complicações graves como o herpes ocular. Essa infecção nos olhos pode provocar dor, desconforto e, em casos mais sérios, danos permanentes à visão, incluindo cegueira. 

Também é nos primeiros quatro meses que os bebês são mais propensos a infecções bacterianas por pneumococos ou Haemophilus. Com os avanços na vacinação, porém, o cenário mudou, reduzindo a gravidade e a frequência da infecção por essas bactérias nessa faixa etária. 

Então, ninguém pode beijar um bebê?

Não é bem assim. Beijos e carinhos dos pais e cuidadores são essenciais para o desenvolvimento emocional e o fortalecimento dos laços afetivos com a criança. O contato físico ajuda o bebê a se sentir amado, protegido e seguro – sentimentos fundamentais para sua saúde mental e futura capacidade de se relacionar. 

Mas é preciso estar atento. Quando os pais ou cuidadores estiverem doentes, mesmo que seja apenas um resfriado leve, o ideal é redobrar os cuidados: usar máscara, lavar as mãos com frequência e evitar o contato próximo. 

Outro ponto importante diz respeito a familiares e amigos que vão visitar o pequeno. Para esses casos, recomenda-se fazer uma reflexão: beijar, pegar no colo ou abraçar é um gesto que beneficia a quem? Se a resposta for apenas ao visitante, então ele não deve acontecer.

Pais, cuidadores e amigos também devem estar atentos ao fato de que, embora os recém-nascidos recebam vacinas desde os primeiros dias de vida, essas imunizações só começam a fazer efeito após algumas semanas. A proteção completa se fortalece após os dois primeiros ciclos de vacinação, geralmente concluídos por volta do quarto mês de vida. É nesse ponto que o sistema imunológico do bebê se torna mais competente.

Embora seja natural querer mimar e oferecer carinho a uma criança, é preciso agir com responsabilidade para garantir que essa demonstração de amor não comprometa a saúde dela.


Fonte consultada: Débora Ariela Kalman, pediatra do Einstein Hospital Israelita 

Texto originalmente publicado na Agência Einstein

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