Como as boas relações podem promover um envelhecimento mais saudável

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Embora a velhice não seja, necessariamente, uma fase limitadora da vida — em que o indivíduo perde sua autonomia ou precisa abrir mão das atividades de que gosta —, ela exige alguns cuidados especiais, sobretudo com a saúde.

Manter uma dieta alimentar equilibrada, abandonar hábitos prejudiciais (como beber em excesso e fumar), seguir uma rotina de práticas físicas e realizar exercícios cognitivos são alguns exemplos de mudanças que o Ministério da Saúde recomenda para um envelhecimento mais saudável. 

Além disso, pesquisas como o Study of Adult Development (Estudo de Desenvolvimento Adulto, em livre tradução), conduzido desde 1938 pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, sugerem a socialização como outro fator bastante benéfico.

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Impacto das relações no envelhecimento

Segundo a pesquisa de Harvard, cultivar bons relacionamentos é um elemento-chave para a longevidade. Bons vínculos com a família, os amigos e a comunidade podem trazer felicidade e satisfação com a vida.

Durante mais de 85 anos, gerações de pesquisadores analisaram as trajetórias de saúde de participantes voluntários, bem como aspectos como seus triunfos e fracassos na carreira e no casamento, por exemplo. E uma das conclusões é que o sucesso nas relações interpessoais influencia poderosamente na saúde.

O efeito da solidão

A solidão estimula o sistema nervoso simpático, que ajusta o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso e estresse físico e psíquico. Quando prolongado, esse efeito pode desencadear uma série de problemas: de distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade, até doenças crônicas, como hipertensão.

A falta de interação social afeta ainda o sistema imunológico, reduz a motivação para práticas saudáveis e, em alguns casos, acelera o declínio cognitivo. Por outro lado, manter laços sociais fortes estimula o funcionamento do sistema nervoso parassimpático, que prepara o corpo para situações de relaxamento, repouso, prazer e contemplação.

Nesse estado, o organismo tende a funcionar melhor e está associado a uma série de benefícios, como uma melhora na imunidade e na respiração. Pessoas com relacionamentos calorosos tendem a sentir dor em menor intensidade e lidar melhor com o estresse. A socialização ainda serve como incentivo para sair de casa, conversar com as pessoas sobre suas preocupações e se engajar em esportes ou atividades como dança, arte e teatro.  

Essas interações estão diretamente ligadas ao aumento da autoestima e à sensação de pertencimento. Pessoas idosas que se sentem valorizadas e amadas mantêm uma mentalidade positiva, que os afasta de comportamentos de risco, como o sedentarismo e o abuso de substâncias prejudiciais.

Tendência de envelhecimento da população

Pensar sobre a saúde dos idosos é essencial a longo prazo. Como destaca o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país vive um fenômeno demográfico de envelhecimento de sua população, acompanhado por uma ampliação da expectativa de vida.

O total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população em 2022, uma alta de 57,4% em relação a 2010, quando esse contingente era de apenas 7,4% do total de pessoas. 

Com isso, o que já foi uma “pirâmide” etária foi se estreitando, à medida que a expectativa de vida subiu para 76,4 anos. E isso deve permanecer pelos próximos anos — projeções do IBGE estimam que, em 2070, cerca de 37,8% dos brasileiros serão idosos, com 60 anos ou mais.

Pirâmide etária do Brasil em 2022 e 2010, por sexo e grupos de idade, mostra envelhecimento populacional e redução da proporção de jovens, segundo o Censo Demográfico do IBGE.
População brasileira por idade e sexo em 2022. Fonte: Censo Demográfico 2022, IBGE

Dicas para viver mais e melhor

Mas o que é preciso fazer para envelhecer bem? Veja quatro dicas:

1. Desconstruir pensamentos etaristas

Com o envelhecimento da população, cada vez mais o tema do etarismo tem ganhado força. Esse tipo de preconceito é baseado na idade do indivíduo, e se manifesta por meio de atitudes e comportamentos discriminatórios contra pessoas de qualquer idade.

No caso dos idosos, o etarismo muitas vezes se apresenta na ideia de que sejam incapazes de aprender coisas novas, ser autônomos e se adaptar às mudanças tecnológicas. Essa visão estereotipada leva à exclusão social, à marginalização e ao enfraquecimento da autoestima, o que pode agravar condições de saúde mental e física já fragilizadas pela idade.

Portanto, desconstruir essas associações é o primeiro passo para um desenvolvimento mais saudável. Vale lembrar que se tornar idoso significa ter vivido em abundância e ter conhecimento a compartilhar com as gerações mais novas. 

2. Ter propósito e objetivos

Junto à desconstrução do etarismo, ter um propósito reafirma ao idoso a ideia de que sua idade não limita seu estilo de vida. Mesmo mais velho, o indivíduo continua sendo um sujeito com gostos particulares, desejos e sonhos.

Dessa forma, desenvolver objetivos claros, seja em relação à carreira, à família, à educação ou mesmo aos hobbies, pode aumentar sua motivação em sair de casa e engajar em atividades. Em alguns casos, isso pode incluir conhecer outras pessoas e praticar exercícios físicos. 

3. Tolerar a imperfeição 

Uma vez que a convivência com amigos, familiares e colegas de trabalho oferece uma rede de apoio vital, que contribui diretamente para a longevidade e qualidade de vida, a habilidade de tolerar a imperfeição nas relações se torna um fator determinante para manter esses laços firmes e saudáveis. Tolerar não significa aceitar comportamentos abusivos ou prejudiciais, mas, sim, aprender a conviver com as diferenças.

A disposição para mostrar compreensão cria uma base sólida para o respeito mútuo e fortalece os vínculos emocionais. Na prática, cria um espaço seguro para o envelhecimento, no qual as relações não se baseiam em perfeições inatingíveis e há menor chance de afastamento social dos outros. 

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