O acidente vascular cerebral (AVC), popularmente chamado de “derrame”, tem como principal característica a interrupção do fluxo de sangue para o cérebro. Trata-se da segunda maior causa de morte no Brasil. Só em 2023, foram mais 110 mil casos de AVC fulminante (isso é, que culminaram em falecimentos), segundo a Central de Informações do Registro Civil.
A condição é dividida em dois tipos:
AVC Isquêmico (AVCI)
É o tipo de AVC mais comum, representa cerca de 80% dos casos. Acontece quando ocorre uma obstrução dos vasos sanguíneos dentro do cérebro causada por um coágulo ou por depósitos de gordura (aterosclerose).
Esses bloqueios levam a uma diminuição do fluxo de sangue e, eventualmente, ao infarto de algumas regiões, o que mata os tecidos. Entre suas principais causas estão os problemas cardiológicos e das artérias (em especial, nas carótidas e vertebrais).
AVC Hemorrágico (AVCH)
Associado aos 20% dos casos restantes, o AVC hemorrágico é ocasionado pela ruptura dos vasos sanguíneos do cérebro. Esse processo de derramamento de sangue é o que atribui o popular nome “derrame” à doença.
Sua causa costuma ser a hipertensão arterial, principalmente se ela for mal controlada. Nesses episódios, o sangue pode “vazar” para dentro do cérebro, em um caso conhecido como “hemorragia intracerebral”, ou ficar nas camadas que recobrem o órgão (meninges), onde é chamado de “hemorragia subaracnóidea”.
Vídeo: Quais as causas do derrame?
Fatores de risco
Os fatores de risco para AVC são divididos entre “modificáveis” e “não modificáveis”. Os primeiros dizem respeito a questões de saúde que podem ser controladas para evitar consequências em longo prazo, por meio de mudanças de hábitos, uso de medicações e realização de procedimentos. Os demais são aspectos biológicos que, mesmo com acompanhamento médico, permanecem imutáveis.
Saiba mais sobre cada um deles:
Fatores de risco modificáveis
- Hipertensão arterial
- Colesterol elevado (dislipidemia)
- Sedentarismo
- Diabetes
- Tabagismo
- Arritmias cardíacas
Fatores de risco não modificáveis
- Sexo biológico;
- Idade
Estudos indicam que os homens têm maior risco de sofrer AVC. Da mesma forma, mesmo que a doença possa ocorrer em pessoas de diferentes idades — de crianças a idosos —, são os indivíduos mais velhos que estão mais suscetíveis à condição. Normalmente, são esses grupos de pessoas que carregam mais fatores de risco não tratados.
Sintomas
Diferentemente de outras doenças, é raro que o AVC cause dor física Seus sintomas, exceto em casos muito graves, costumam ser sutis e aparecer de forma súbita. Por isso, não são incomuns relatos de pacientes que descobrem tempos depois que sofreram um AVC.
Alguns dos principais sintomas são:
- Paralisia ou perda de sensibilidade de um lado do corpo
- Paralisia facial
- Dor de cabeça intensa
- Dificuldade para falar
- Dificuldade para compreender informações
- Tontura súbita
- Sonolência excessiva
- Dificuldade visual em um ou em ambos os olhos
Diagnóstico
A identificação rápida dos sintomas é o primeiro passo para o diagnóstico de um AVC. O tempo é uma questão chave nesses casos, pois quanto maior a janela entre o surgimento dos sintomas e o início do tratamento, maior a lesão cerebral.
Exames de imagem, em especial a tomografia computadorizada da cabeça, são indicados para confirmar o diagnóstico da condição. Eles também servem para detectar a área do cérebro afetada pelo derrame, bem como se foi isquêmico ou hemorrágico.
Eletrocardiograma, ecocardiograma, ultrassom doppler de carótidas, doppler transcraniano e outros exames também podem ser solicitados pela equipe médica de forma complementar. Eles têm como finalidade investigar a causa da ocorrência.
Tratamento
Com o diagnóstico de AVC, o tratamento pode ser iniciado. A depender do seu tipo, isquêmico ou hemorrágico, a abordagem muda.
No caso do AVCI, se houver tempo hábil (de até quatro horas e meia), geralmente o tratamento se dá a partir de medicamento trombolítico, administrado direto na veia. O objetivo é dissolver o coágulo sanguíneo que está entupindo a artéria cerebral e causando a isquemia. Mudanças de estilo de vida, controle dos fatores de risco e uso de anticoagulantes também devem ser indicados.
Mais complexo, o tratamento do AVCH exige que a pessoa seja internada em uma unidade com capacidade de monitorização neurológica especializada. O tratamento pode ser cirúrgico ou clínico, a depender do volume da lesão, da localização e da condição clínica do paciente.
Em ambos os casos, a reabilitação é indicada logo que o paciente deixa de apresentar riscos de piora neurológica ou clínica. Geralmente, esse processo de recuperação das sequelas é lento e exige uma equipe multiprofissional, composta por especialistas de fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem e terapia ocupacional.
Revisão técnica: João Roberto Resende Fernandes, médico do Pronto Atendimento e Corpo Clínico, especialista em Clínica Médica do Hospital Israelita Albert Einstein.