Ejaculação precoce: quando ela é preocupante? Entenda

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A ejaculação precoce é uma das disfunções sexuais masculinas mais comuns e, ao mesmo tempo, uma das que mais gera dúvidas e constrangimento. Embora episódios isolados possam ocorrer em qualquer fase da vida sexual sem indicar um problema, o quadro se torna relevante quando passa a ser persistente e capaz de comprometer a autoestima, a vida afetiva e a qualidade de vida.

Segundo entidades internacionais de referência, como a International Society for Sexual Medicine (ISSM), a ejaculação precoce é caracterizada quando ocorre de maneira repetida em menos de um a dois minutos após a penetração, associada à dificuldade de controlar o orgasmo e ao sofrimento emocional ou relacional. 

Isso significa que não se trata apenas de medir o tempo, mas de considerar o controle do prazer e, principalmente, os impactos psicológicos e sociais envolvidos.

Quando é um problema de saúde

Nem sempre ejacular mais rápido é sinal de disfunção. Muitos homens podem ter episódios ocasionais ligados a fatores como estresse, cansaço ou até uma relação sexual mais intensa. O que define a ejaculação precoce como um problema é a persistência desse padrão, a falta de controle e a insatisfação gerada.

Quando a situação se torna recorrente e começa a causar frustração, baixa autoestima ou dificuldades no relacionamento, é sinal de que há algo além da variação normal. Nesses casos, procurar um urologista ou especialista em saúde sexual é fundamental para investigar a origem e propor um tratamento adequado.

Existem dois tipos de ejaculação precoce

Do ponto de vista médico, a ejaculação precoce pode ser classificada em dois tipos: a primária é aquela presente desde o início da vida sexual. Nesses casos, o indivíduo nunca conseguiu manter um controle adequado sobre o momento da ejaculação, o que sugere fatores relacionados a sensibilidade peniana, alterações neuroquímicas (principalmente na regulação da serotonina) e até predisposição genética.

Já a secundária surge após um período em que a vida sexual era considerada normal. Nesses casos, a dificuldade de controlar a ejaculação costuma estar associada a outras condições clínicas ou psicológicas que se instalam ao longo da vida. É justamente nesse grupo que inflamações e doenças desempenham papel importante. 

Mas como diferenciá-las?

Ejaculação precoce primária

  • Sensibilidade peniana aumentada: alguns homens apresentam maior resposta aos estímulos físicos, o que acelera o reflexo da ejaculação desde a primeira relação sexual;
  • Alterações neuroquímicas: falhas na regulação da serotonina no sistema nervoso central dificultam o controle da resposta sexual, reduzindo o tempo até o orgasmo;
  • Predisposição genética: fatores hereditários podem aumentar a vulnerabilidade, fazendo com que a ejaculação precoce acompanhe o homem ao longo da vida.

Ejaculação precoce secundária

  • Doenças e inflamações: condições como prostatite podem alterar a sensibilidade da região genital, enquanto o hipertireoidismo e a disfunção erétil também favorecem a perda de controle;
  • Questões psicológicas: ansiedade de desempenho, estresse crônico, insegurança ou dificuldades no relacionamento podem desencadear ou perpetuar o problema;
  • Experiências negativas: situações traumáticas ou episódios anteriores de insatisfação sexual podem criar um ciclo de tensão e acelerar a resposta ejaculatória;
  • Fatores combinados: em muitos casos, elementos físicos e emocionais se sobrepõem, como quando uma doença desencadeia o quadro e a ansiedade passa a influenciar na ejaculação precoce.

Estudos epidemiológicos indicam que entre 20% e 30% dos homens apresentam ejaculação precoce em algum momento da vida, reforçando que se trata de uma condição frequente, e não de algo raro ou incomum.

Impactos na autoestima e nos relacionamentos

Mais do que uma dificuldade de desempenho, a ejaculação precoce pode ter repercussões amplas. Para o homem, é comum o surgimento de sentimentos de inadequação, frustração e baixa autoestima que, quando persistentes, aumentam o risco de ansiedade e até depressão.

No âmbito conjugal, a insatisfação sexual pode provocar afastamento, conflitos e queda na intimidade. O parceiro ou a parceira pode interpretar o problema como desinteresse, o que gera ainda mais tensão no relacionamento.

Esses impactos reforçam a necessidade de compreender a ejaculação precoce como uma questão de saúde, que envolve aspectos físicos, emocionais e sociais. Tratar o problema não significa apenas prolongar o tempo da relação, mas também recuperar a confiança, a conexão e o bem-estar do casal.

Quais tratamentos estão disponíveis

O tratamento da ejaculação precoce evoluiu muito nas últimas décadas e hoje apresenta altas taxas de sucesso. A abordagem mais eficaz costuma ser multimodal, ou seja, combinando diferentes estratégias que atuam tanto no corpo quanto na mente.

Entre as opções estão:

  • Técnicas comportamentais e sexuais: auxiliam o homem a reconhecer os sinais do orgasmo iminente e a desenvolver maior controle sobre o momento da ejaculação;
  • Psicoterapia e terapia sexual: fundamentais para lidar com fatores emocionais, como ansiedade de desempenho, dificuldades de comunicação e inseguranças;
  • Medicação: inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), em doses adaptadas, ajudam a aumentar o tempo até a ejaculação. Além deles, anestésicos tópicos podem reduzir a sensibilidade peniana em casos específicos.

As principais diretrizes médicas, como as da American Urological Association (AUA) e da European Association of Urology (EAU), recomendam a integração dessas abordagens. Essa combinação não só melhora os resultados clínicos, mas também reduz o risco de recaídas.

Quando procurar ajuda?

A ejaculação precoce só passa a ser considerada preocupante quando se torna um quadro persistente e recorrente, causando impacto negativo na autoestima, no bem-estar emocional ou na vida sexual. Se o homem percebe que perdeu o controle sobre a ejaculação de forma frequente, que o tempo até o orgasmo é sempre muito curto e que isso gera frustração, é hora de procurar um médico.

Embora seja comum, a ejaculação precoce ainda carrega tabus que levam muitos homens a adiar a busca por ajuda. Essa demora pode ampliar os impactos emocionais e afetar a vida sexual e afetiva. Procurar um especialista é fundamental para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, aumentando as chances de recuperação da qualidade de vida.

É importante lembrar que o tratamento é seguro, acessível e adaptável a cada caso. Muitos homens alcançam resultados satisfatórios em poucas semanas, especialmente quando combinam mudanças comportamentais, psicoterapia e uso de medicamentos sob orientação médica.


Revisão técnica: Leonardo Borges, urologista e especialista em saúde sexual masculina (CRM-SP 116.068).

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