Espinha bífida: conheça os tipos e opções de tratamento 

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A espinha bífida é uma malformação do sistema nervoso central do feto, caracterizada por um desenvolvimento atípico e incompleto da medula espinhal. Se não diagnosticada e tratada ainda durante a gestação, pode levar a quadros de paralisia motora e déficit neurológico. 

Durante o processo de desenvolvimento do feto, é esperado que o tubo neural se feche até a sétima semana de gestação. Quando isso não ocorre, os ossos atrás da coluna não se formam totalmente e, com isso, a medula espinhal pode “sair” por meio dessa abertura anormal, formando um cisto. 

Causa e prevenção 

Ainda não há consenso sobre qual é a causa específica responsável por essa condição. Mas, provavelmente, ela ocorre por uma série de fatores, tais como predisposição genética, uso de certos medicamentos durante a gestação, deficiência de ácido fólico, além de condições maternas como diabetes e obesidade.

Apesar disso, sabe-se que é possível prevenir a doença por meio da ingestão de ácido fólico (vitamina B9) antes e durante a gravidez. Idealmente, a recomendação é que a suplementação comece até três meses antes da concepção. 

A ingestão da vitamina somente depois que o embrião já está se desenvolvendo pode não ser suficiente. Isso porque, às vezes, não dá tempo de repor os estoques do nutriente no corpo da mãe. 

No caso de mulheres que já tiveram filho com espinha bífida ou anencefalia e desejam engravidar novamente, a indicação é que a suplementação do ácido fólico seja em doses maiores. Embora não tenha uma garantia de 100%, estudos apontam que o tratamento preventivo pode ser efetivo contra a recorrência da malformação. 

Vídeo: A espinha bífida pode causar hidrocefalia? 

Tipos de espinha bífida 

Os casos de espinha bífida podem ser divididos em três classificações. Essa separação considera a presença e o material dos cistos. 

  1. Mielomeningocele: trata-se do tipo mais frequente da doença. É caracterizado pelo desenvolvimento de uma bolsa de água, cuja superfície contém o tecido nervoso da medula exposto; 
  2. Meningocele: neste caso, apesar de não haver fechamento da medula, o tecido nervoso não fica exposto. Dentro dos cistos, há apenas meninges, as membranas que revestem o sistema nervoso central;  
  3. Raquisquise: não há fechamento da medula, mas tampouco ocorre a formação de cistos. Com isso, uma parte da espinha fica completamente aberta. 

Sintomas e sequelas 

Além da saliência nas costas pela presença do cisto, bebês diagnosticados com espinha bífida podem apresentar mobilidade reduzida dos membros inferiores (pernas e pés) e problemas na bexiga e no intestino.  

Também pode haver obstrução das estruturas cerebrais responsáveis por levar o líquor formado na cabeça para a medula espinhal. Com isso, o cerebelo (parte do cérebro responsável, entre outras coisas, pela coordenação motora) passa a acumular o líquido e se projetar na parte inferior do crânio. A pressão criada nesse processo pode levar a um quadro de hidrocefalia. 

Diagnóstico 

O diagnóstico de espinha bífida é dado por profissionais da medicina fetal a partir das imagens de ultrassom de rotina. Durante a gravidez, são feitos, no mínimo, três exames, um a cada trimestre: por volta da 12ª semana, da 22ª semana e da 32ª semana. 

Estudos recentes indicam que alguns sintomas indiretos da doença já podem ser percebidos logo no ultrassom de primeiro trimestre. Contudo, a maior parte dos diagnósticos acontece pela análise das imagens do segundo trimestre. Tudo depende da qualidade do equipamento utilizado e do nível de experiência do seu operador. 

Vídeo: Existe tratamento para a espinha bífida? 

Tratamento 

O tratamento para a espinha bífida é sempre cirúrgico. O que muda é o momento em que essa intervenção será feita – antes ou depois do nascimento.  

A cirurgia pós-nascimento oferece poucos riscos à mãe, mas praticamente não há benefícios para o bebê. Por outro lado, uma intervenção ainda na gestação pode levar a uma melhora do quadro clínico e da qualidade de vida do feto no futuro. 

Cirurgia pós-nascimento 

Quando os exames de ultrassom não eram tão comuns e acessíveis, boa parte dos bebês com algum tipo de espinha bífida eram tratados somente após o nascimento. Fora do útero, os médicos conduziam uma cirurgia de fechamento da abertura na medula e retirada do cisto.  

Mas, mesmo que resolvesse a questão de escorrimento de líquor e diminuísse o risco de infecção na região, essa abordagem não oferecia possibilidade de reversão das alterações cerebrais causadas pela má formação. Nesses casos, o cerebelo raramente volta ao normal, então há uma alta probabilidade da criança precisar usar válvula para controle da hidrocefalia. No caso de cirurgia intrauterina, esse risco é reduzido de forma significativa. 

Além disso, quando a cirurgia é feita depois do nascimento, somente 20% dos bebês conseguirão andar – a maioria precisará de algum tipo de auxílio. Se a cirurgia for intrauterina, pelo menos 40% dos bebês conseguirão andar normalmente, o que é uma melhora considerável da qualidade de vida futura da criança. 

Esse é o grande diferencial da cirurgia fetal intrauterina atual. Mesmo que não seja uma cura para a condição, ela permite a proteção dos nervos ainda durante a 25ª ou 26ª semana da gestação. Assim, o feto apresentará apenas sequelas causadas até o momento da intervenção, sem piora do quadro até o nascimento. 

Especificamente em relação ao sistema neurológico, a cirurgia faz com que o cerebelo retome seu formato original. Com isso, o desenvolvimento cerebral torna-se mais típico.


Revisão técnica: Luiz Antônio Vasconcelos, especialista em Clínica Médica, Medicina Interna, Cardiologia e Ecocardiografia. Cardiologista e clínico das unidades de pronto atendimento e do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.   

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