Lagoftalmo: incapacidade de fechar completamente os olhos compromete a visão

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O lagoftalmo pode ter várias causas, mas sempre resulta no mesmo problema: o ressecamento dos olhos, que expõe a córnea ao risco de lesões. No entanto, o sucesso do tratamento depende da identificação da origem da patologia.

O que é lagoftalmo?

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular, há uma história curiosa por trás do termo lagoftalmo, que vem da junção de duas palavras gregas: lagos (lebres) e oftalmos (olhos). Lagoftalmia é a condição patológica em que uma pessoa mantém os olhos sempre abertos, mesmo quando dorme.

Mas, você pode estar se perguntando: “por que essa condição foi batizada de ‘olhos de lebre’?” Porque se acreditava que as lebres dormiam com os olhos abertos, sempre prontas a reagir, o que não é verdade. Já o lagoftalmo é uma realidade que hoje em dia tem tratamento.

Nesta condição, a pessoa não consegue fechar completamente os olhos. Embora possa haver graus variáveis de movimento das pálpebras, o ato de piscar os olhos também não acontece naturalmente.

Sendo assim, o problema é que mesmo uma pequena abertura nas pálpebras ao longo da noite pode secar os olhos. Se a incapacidade de fechar as pálpebras ocorrer apenas durante o sono, fala-se em lagoftalmia noturna.

Quais são as causas do lagoftalmo?

O lagoftalmo pode surgir de várias causas iniciais, que são reunidas nos seguintes grupos: 

  • Infecciosas (herpes, HIV, hanseníase etc.); 
  • Consequência de traumas;
  • Latrogênicas (sequelas de procedimentos cirúrgicos);
  • Neurológicas, tumores, causas metabólicas (diabetes, hipertensão etc.);
  • Intoxicação (medicamentos, drogas etc.);
  • Causas idiopáticas (sem razão aparente).

No entanto, a principal causa do lagoftalmo é a paralisia do nervo facial, que é o responsável pelo movimento da musculatura superficial da face, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular. Quando esse nervo sofre algum tipo de lesão, deixa de estimular a contração da musculatura facial. Isso inclui a capacidade de fechar totalmente o olho no lado da face acometido pela paralisia facial.

O que a pessoa com lagoftalmia deve fazer?

A principal recomendação é procurar um oftalmologista o mais rápido possível. Isso porque o autodiagnóstico e a automedicação são perigosos e inúteis, e só servem para retardar a solução do problema. Com o atendimento médico é possível identificar a causa provável, avaliar o grau de fraqueza de oclusão palpebral, o grau de comprometimento do olho e dar inicio a um tratamento efetivo.

Quais sequelas podem acontecer caso não seja tratado o lagoftalmo?

Quando a lubrificação ocular é prejudicada, a pessoa passa a sentir ardência e sensação de areia no olho, que vai ficando cada vez mais vermelho e irritado. Quando o lagoftalmo não é tratado, com o passar do tempo, a córnea é castigada pela secura advinda da lubrificação insuficiente e se machuca. Surgem lesões em forma de ranhuras conhecidas como ceratite. 

De acordo com informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular, “as ceratites, quando não tratadas, podem evoluir para úlceras e até perfuração do globo ocular. Em casos extremos, podem causar a perda visual e perda do globo ocular. Sequelas menores, como cicatrizes definitivas, também podem acontecer em casos mais graves ou não tratados de maneira adequada.”

Como é o tratamento do lagoftalmo?

Pode ser medicamentoso ou cirúrgico, dependendo da gravidade e da origem do problema. Se for identificada a condição que impede o fechamento total das pálpebras, ela deverá ser tratada. 

É importante manter os olhos hidratados e lubrificados, o que se faz com o uso de colírios e pomadas. Em alguns casos, o médico pode recomendar o uso de fita adesiva (esparadrapo) para forçar o fechamento das pálpebras durante o sono.

Quanto à cirurgia, ela pode ser feita para alterar o movimento das pálpebras ou para torná-las mais pesadas. Todas as formas de tratamento são avaliadas pelo médico levando em conta o quadro do paciente.

A pessoa com lagoftalmo noturna consegue dormir?

Nem sempre o quadro de lagoftalmia noturna impede o sono de qualidade. Entretanto, com o passar do tempo, mesmo que as pálpebras fiquem apenas entreabertas, o ressecamento e a irritação ocular se fazem sentir durante o sono, tornando-o menos reparador. O desconforto provocado pelos olhos ressecados continuará sendo sentido durante o dia.

É possível recuperar o movimento das pálpebras?

Sim, desde que sejam identificadas as causas e as melhores estratégias de tratamento. Quanto mais precoce o tratamento, mais preservada será a saúde dos olhos.

Lagoftalmo e hanseníase

De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 60% dos pacientes com hanseníase apresentam alterações oftalmológicas, sendo que o lagoftalmo é uma das mais frequentes (de 15% a 22%) devido às lesões dos nervos faciais provocadas pela doença. O lagoftalmo paralítico isolado, que atinge apenas o nervo orbicular, é comumente observado em pacientes com hanseníase.

Revisão técnica: Luiz Antônio Vasconcelos, especialista em clínica médica, medicina interna, cardiologia e ecocardiografia. É cardiologista e clínico das unidades de pronto atendimento e do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

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