Em novembro de 2024, o Brasil reconquistou o certificado de eliminação do sarampo, perdido em 2019 após um surto que atingiu o país. Contudo, em um mundo cada vez mais globalizado, as viagens internacionais continuam sendo uma das principais vias para a reintrodução de doenças que estavam erradicadas ou sob controle em determinados países.
E o sarampo é um exemplo clássico dessa dinâmica: por ser altamente contagioso, o vírus se espalha com rapidez em populações com baixa cobertura vacinal. Entre todas as doenças infecciosas, o sarampo é a que apresenta a maior transmissibilidade.
O vírus não poupa indivíduos suscetíveis, e a chance de alguém não vacinado se contaminar é enorme. Por isso, em cenários de baixa vacinação, o sarampo é sempre o primeiro a ressurgir e se espalhar com facilidade. A seguir, saiba mais sobre a doença e como se proteger contra ela.
1. O que é o sarampo?
O sarampo é uma infecção viral altamente contagiosa que acomete exclusivamente os seres humanos. Por essa característica, seria facilmente erradicada pela vacinação, caso houvesse adesão por grande parte da população. A doença ocorre em todo o mundo e permanece como uma causa importante de óbito em crianças menores de 5 anos.
2. Como o vírus é transmitido?
O sarampo é causado por um vírus de transmissão respiratória, que se espalha por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Sua facilidade de disseminação e altíssima taxa de contágio preocupam especialistas: uma única pessoa infectada pode transmitir a doença para até 18 outras que não são vacinadas.
Para efeito de comparação, no auge da transmissão, o coronavírus Sars-CoV-2, responsável pela pandemia de Covid-19, tinha uma taxa média de transmissão de cerca de 3,8 pessoas por infectado, quase cinco vezes menos que o sarampo.
3. Quais os sintomas e como a doença evolui?
Após o contato com o vírus, o período médio de incubação varia de seis a 21 dias (em média, são 13 dias), quando o patógeno entra nas mucosas dos olhos ou das vias aéreas da pessoa suscetível. Esse é o chamado período de latência, em que o vírus fica replicando no organismo sem ainda causar a doença.
Em seguida começa o período de pródromo, caracterizado por sintomas inespecíficos, como tosse, coriza, conjuntivite e febre alta (até 40 graus) – muito parecidos com um quadro gripal. Essa fase dura de dois a quatro dias e pode persistir por até oito dias.
O próximo passo da infecção é o surgimento do enantema, ou “manchas de Koplik”, lesões típicas que aparecem na mucosa da boca, perto dos molares, e devem ser procuradas antes do surgimento das manchas da pele. Elas duram entre 12 e 72 horas, e começam a desaparecer com o início da fase exantemática, caracterizada pelo surgimento das manchas/erupções da pele propriamente ditas.
Essas manchas surgem de dois a quatro dias após o início da febre, começando pela face e espalhando de cima para baixo e do centro para a periferia do corpo. Palmas das mãos e plantas dos pés são geralmente poupadas.
Aproximadamente 48 horas após o aparecimento das lesões o paciente começa a apresentar melhora. As lesões mudam para uma cor mais amarronzada, podendo ocorrer descamação. A tosse pode ocorrer por até duas semanas, e a piora da febre entre o terceiro e quarto dias do surgimento das lesões da pele indica a possibilidade de complicações da doença.
A transmissão do sarampo pode ocorrer até cinco dias antes do desenvolvimento do exantema (as erupções na pele) e continua até quatro dias após o aparecimento das manchas da pele. Nesse período, um indivíduo positivo para a doença pode contaminar 90% das pessoas que estão suscetíveis no seu entorno.
4. Quais são as possíveis complicações?
Mais de 90% dos casos de sarampo são considerados benignos. No entanto, a doença provoca um efeito de imunossupressão que compromete significativamente as defesas do organismo. Esse enfraquecimento do sistema imunológico torna o paciente mais vulnerável a outras infecções oportunistas secundárias, aumentando o risco de complicações mesmo após a fase aguda da doença.
Entre as mais comuns estão a pneumonite (pneumonia viral causada pelo próprio vírus), otite média, diarreia intensa e pneumonia bacteriana secundária. Em quadros mais severos, a doença pode levar a danos permanentes, como a perda da visão por lesões na córnea.
Também há risco de complicações neurológicas potencialmente fatais, como a panencefalite esclerosante subaguda, uma condição degenerativa que pode surgir anos após a infecção e leva à morte de forma muito rápida. Há ainda a encefalomielite disseminada aguda, que afeta o cérebro e a medula espinhal.
5. Como é a vacinação?
A vacina tríplice viral é o principal meio de prevenção contra o sarampo. Ela contém vírus vivos atenuados (enfraquecidos), estimulando o sistema imunológico a produzir uma resposta protetora sem causar a doença.
No Programa Nacional de Imunizações (PNI), a estratégia tem como foco a população pediátrica e está indicada em duas doses, uma aos 12 e outra aos 15 meses. Adolescentes e adultos que nunca foram vacinados ou estão com o esquema vacinal incompleto também devem ser imunizados: até os 29 anos, a recomendação é receber duas doses com intervalo de um mês; e entre 30 e 59 anos, uma dose. Em situações de surto, pode ser avaliada a vacinação de crianças entre 6 e 12 meses e maiores de 59 anos.
O principal objetivo da vacina é prevenir a infecção, pois ela traz uma resposta muito robusta de anticorpos. Mas nenhuma vacina é 100% protetora, ou seja, uma pessoa vacinada pode se infectar, mas provavelmente desenvolverá uma forma branda ou até atípica da doença.
Pela sua composição de vírus atenuado, a vacina é contraindicada para pessoas imunodeprimidas. Mas a vacinação da população em geral contribui para a proteção dessas pessoas com contraindicação à vacina, a chamada “imunização de rebanho”, que deve ser mantida acima de 85 a 95% de cobertura vacinal. Quando aplicada nas idades corretas, a vacina do sarampo garante imunidade vitalícia.
6. Além da vacina, como se proteger?
A vacinação é a principal maneira de se proteger contra o sarampo, por isso é importante verificar sua carteira de vacinação. Para quem vai viajar, uma dica é verificar se o país que vai visitar está apresentando surto de sarampo e avaliar o estado vacinal de todas as pessoas que irão junto.
Programe-se para estar totalmente vacinado contra o sarampo pelo menos seis semanas antes da viagem. Se a sua viagem for em menos de duas semanas e você não estiver protegido, ainda assim deverá tomar uma dose, que já oferece 93% de proteção contra a doença.
Fontes consultadas: Emy Akiyama Gouveia, infectologista do Einstein Hospital Israelita; Daniel Jarovsky, infectologista pediátrico do Einstein e secretário do departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo; Renato Kfouri, infectologista pediátrico e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).