Vitamina D: toda criança e todo adolescente deve suplementar? Entenda

5 minutos para ler

A atual recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é de que toda criança e todo e adolescente suplemente vitamina D até os 18 anos. Até outubro de 2024, a sugestão era fazer essa complementação apenas até 1 ano de idade. 

A ideia é evitar a deficiência da substância nessa faixa etária, o que pode levar a condições como o raquitismo (ossos fracos e deformidades esqueléticas), infecções respiratórias e problemas na saúde óssea.

A seguir, tire suas dúvidas sobre a suplementação nesses grupos.

De onde vem a vitamina D?

Cerca de 90% da vitamina D é obtida pela síntese cutânea após exposição solar; os outros 10% vêm de fontes alimentares. Mas, segundo a SBP, os ingredientes que mais fornecem esse nutriente não fazem parte da dieta habitual dos brasileiros: são peixes de água fria, como atum, arenque e salmão, além de óleo de fígado de bacalhau e fígado de boi. 

Apesar de existirem alimentos fortificados com vitamina D, como leites e cereais, sua ingestão é insuficiente para que as crianças atinjam os níveis necessários.

Qual a função dessa vitamina?

No organismo, a vitamina D tem como principal função regular os níveis de cálcio e fósforo no sangue, o que é essencial para a saúde óssea. Além disso, ela tem demonstrado outros efeitos, relacionados às funções musculares e imunológicas. 

Qual nível é considerado saudável?

Não existe um consenso internacional sobre os níveis considerados deficientes — cada sociedade médica adota uma referência. A SBP considera como “deficiência” a concentração abaixo de 20 ng/mL e “deficiência grave” aquela menor do que 12 ng/mL. 

Atualmente, a recomendação é de ingestão diária de 600 UI para crianças acima de 1 ano de idade e adolescentes. No caso de bebês que ainda não fizeram o primeiro aniversário, a indicação é de 400 UI. Lembrando que toda suplementação deve ser feita com supervisão médica. 

A região onde estou faz diferença?

Apesar de o Brasil ser um país predominantemente ensolarado, com sol na maior parte do ano, a deficiência de vitamina D por aqui é um problema. Um estudo brasileiro, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), avaliou resultados de quase 414 mil dosagens de vitamina D em crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, coletadas entre janeiro de 2014 e outubro de 2018. O déficit da vitamina foi constatado em 12,5% das amostras. 

Os efeitos regionais e a sazonalidade foram bastante evidentes. O estudo aponta, por exemplo, que 36% das crianças que moram na região Sul estavam com deficiência dessa vitamina no inverno e 5% apresentavam deficiência grave. 

Toda criança deve dosar?

Justamente pelas questões sazonais e regionais, a SBP não recomenda sair dosando vitamina D em todo mundo. Isso porque há muitos fatores que influenciam: depende da cor da pele (quanto mais escura for, menos a pessoa absorve a vitamina D); varia conforme o estágio da puberdade; muda de acordo com a composição de gordura corporal; depende se a dosagem foi feita em meses de inverno ou de verão e conforme a localização geográfica da criança, que interfere na incidência dos raios ultravioleta. 

Assim, cabe ao pediatra avaliar individualmente se o paciente estaria em risco de hipovitaminose para pedir ou não a dosagem da vitamina. Se o médico sabe que aquela criança pratica esportes ao ar livre, por exemplo, não terá que suplementar porque ela se expõe ao sol o suficiente para atingir níveis saudáveis. Mas, caso o pequeno não fique ao ar livre nem tenha uma alimentação rica nos alimentos específicos, a suplementação pode ser indicada sem necessariamente dosar a vitamina. 

E atenção: em casos de suspeita de alguma doença renal, hepática ou autoimune, o pediatra deve pedir a dosagem para saber quais são os níveis e suplementar o suficiente. 

Quais os riscos de suplementar sem orientação?

Não é recomendado administrar a vitamina D em crianças e adolescentes sem o acompanhamento de um pediatra. Ao contrário dos nutrientes hidrossolúveis, cujo excesso no organismo é liberado na urina, a vitamina D faz parte do grupo dos lipossolúveis, que só se dissolvem em gordura. Isso significa que, quando consumida além da conta, ela pode se acumular no nosso corpo e causar danos à saúde. 

A hipervitaminose D leva à hipercalcemia (excesso de cálcio no organismo), que pode causar náuseas, vômitos, fraqueza e, em casos graves, problemas renais. Isso não deve ocorrer com a dose recomendada pela SBP, mas muitas pessoas tomam doses bem maiores do que a sugerida pela entidade.


Fontes consultadas: Thomaz Couto, pediatra e professor médico da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein

Crésio Alves, endocrinologista, presidente do Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

Posts relacionados