O que pode estar por trás da infertilidade feminina? Conheça fatores e tratamentos

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Entende-se como um quadro de infertilidade quando uma pessoa apresenta a incapacidade de obter uma gestação após 12 meses de tentativas, com relações sexuais frequentes e sem uso de métodos contraceptivos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 17,5% de toda a população adulta mundial — um em cada seis indivíduos — sofre com essa condição.

Tanto os homens quanto as mulheres podem sofrer com a infertilidade. Estima-se que, dentre os casais heterossexuais que desejam engravidar, em 40% dos casos a dificuldade para a gestação ocorre por fatores ligados ao homem e em outros 40% pela mulher. Por isso, a importância de se investigar ambos os parceiros tentantes.

Especificamente sobre a infertilidade feminina, suas causas podem ser decorrentes de diferentes fatores. Conheça os principais:

1. Alterações morfológicas 

Em relação à morfologia do trato reprodutor, existem causas tubárias ou uterinas. Formatos anormais das tubas, podem dificultar o caminho do espermatozoide em direção ao óvulo.

Estima-se que até 10% das mulheres vão apresentar dificuldade para engravidar por alterações em sua cavidade uterina, como pela presença de malformações, miomas e pólipos.

2. Problemas ovulatórios

Caracterizado pela dificuldade de ovulação da paciente. Se o óvulo não amadurecer corretamente ou o processo ocorrer em uma data inadequada, há prejuízo nas chances de gravidez. A síndrome dos ovários policísticos é uma das condições ovulatórias de infertilidade mais conhecidas. 

3. Alterações cervicais

Esse ponto refere-se a problemas na região do colo do útero. Normalmente, trata-se de alguma infecção bacteriana que dificulta a migração do espermatozoide. 

4. Fatores genéticos

Características genéticas também podem causar infertilidade. Modificações no arranjo dos cromossomos podem dificultar a fecundação ou, em alguns casos, levar a abortos espontâneos.

5. Doenças

Algumas doenças são responsáveis por impedir a gestação. A endometriose é uma delas. Ela pode atrapalhar a gravidez em vários aspectos: piorar a qualidade do óvulo, interferir no processo de ovulação, distorcer a anatomia das tubas, prejudicar a migração do espermatozoide e dificultar a implantação do embrião fecundado no interior do útero.

O contágio por algumas bactérias causadoras de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como Chlamydia sp., Neisseria sp. e Mycoplasma genitalium, também pode levar a quadros de infertilidade. Esses patógenos instalam-se e inflamam colo, útero, endométrio e tubas.

6. Idade

Dado que toda mulher nasce com um número finito de óvulos, à medida que envelhece, sua quantidade de gametas diminui a cada novo ciclo menstrual. Conforme o avançar da idade, os óvulos também ficam menos saudáveis.

A menor quantidade e qualidade das células reprodutivas faz com que a fecundação fique mais difícil e, caso seja formado um embrião, ele esteja mais suscetível a alterações cromossômicas, malformações e abortos.

8. Tratamento oncológico

Os tratamentos oncológicos, em geral, podem trazer como consequência uma diminuição da reserva de óvulos da mulher. Algumas quimioterapias estão especialmente relacionadas à diminuição da reserva ou ainda à indução da menopausa precoce. Na mesma lógica do envelhecimento, essa menor quantidade de células pode dificultar a fertilidade. 

Vídeo: Infertilidade feminina – o que é, causas e tratamentos

Quando procurar um médico?

Geralmente, a recomendação é que mulheres com menos de 35 anos, sem sintomas ou fatores de risco para infertilidade, esperem 12 meses antes de buscar ajuda para engravidar. Se a pessoa tiver entre 35 e 40 anos de idade, essa janela cai para seis meses de tentativas. Por sua vez, caso a mulher já tenha mais do que 40 anos, é indicado que ela procure orientação médica logo que decidir tentar engravidar.

Diagnóstico da infertilidade

Além da anamnese, alguns exames podem ajudar os médicos a diagnosticarem um quadro de infertilidade:

Histerossalpingografia

Neste exame, o laboratório introduz um cateter bem fino no colo do útero e injeta contraste iodado. O instrumento, então, é manipulado em direção ao útero e às tubas. Com um máquina de raio-X, são capturadas imagens dos tecidos, que podem indicar alterações na anatomia. 

Ultrassom pélvico e transvaginal

A ultrassonografia do sistema reprodutor feminino também consegue mostrar alterações no útero, a presença de miomas e pólipos, além de problemas como endometriose e adenomiose. O exame também pode apontar como está a reserva ovariana.

Teste de dosagem hormonal

Por meio da verificação das dosagens de hormônios como o estrogênio e a progesterona, o médico pode entender o padrão de ovulação e, assim, notar quaisquer inconsistências durante esse processo.

Tratamento 

Existem duas principais abordagens para tratar a infertilidade. A primeira diz respeito aos cuidados direcionados especificamente aos problemas identificados. Isso significa que, se a condição responsável pela infertilidade for uma alteração hormonal, por exemplo, o tratamento será a normalização desses hormônios. 

A outra abordagem diz respeito à implementação da reprodução assistida. Esses tratamentos vão desde as técnicas mais simples até as mais complexas, que exigem a intervenção de fármacos e procedimentos médicos avançados. Conheça algumas delas:

Coito programado

A relação sexual programada tem como primeira etapa a indução da ovulação por medicação oral ou injetável, de forma diária ou a cada dois dias. Com o apoio de exames de ultrassom, a equipe médica define o momento exato da ovulação para orientar o melhor período de casal ter relação sexual.

Inseminação artificial

Nesse caso, a mulher também faz uso de indutores da ovulação e tem seu ciclo menstrual acompanhado por exames de ultrassom. O encontro dos gametas feminino e masculino é feito artificialmente, por meio da introdução desse material de forma assistida. 

Os espermatozoides inseminados podem ser tanto do cônjuge, que vai colher as amostras em laboratório, cerca de uma hora antes do procedimento na parceira, quanto de um doador em banco, que será descongelado. Feita a inseminação, a mulher ainda deve fazer uso de medicação à base de progesterona. Cerca de duas semanas depois, testes de farmácia já conseguem determinar se há gravidez.

Fertilização in vitro 

Na técnica de fertilização in vitro, a fecundação dos óvulos pelo encontro com os espermatozoides acontece fora do corpo da mulher, em laboratório. Aqui, os gametas podem ser do próprio casal ou doados.

Caso opte-se pelo uso dos óvulos da mulher, eles serão retirados em um procedimento de ambiente cirúrgico, em que a paciente receberá uma sedação leve. Por meio de um ultrassom transvaginal e um pequeno furo no ovário, é possível aspirar os óvulos, produzidos após a indução da ovulação.

Em laboratório, os óvulos fecundados crescem por aproximadamente cinco dias antes da inseminação no útero. Estima-se que até isso acontecer, a única célula já tenha se multiplicado e atingido pelo menos 120 unidades. 

Normalmente, a paciente permanece acordada e consciente na transferência do embrião. 

Esse procedimento se assemelha a um exame de papanicolau, com a introdução de um pequeno cateter. 

Prevenção

A melhor forma de prevenção contra a infertilidade é por meio de consultas regulares com um ginecologista. Esses profissionais estão atentos a quaisquer sintomas ou fatores de risco à saúde ginecológica e reprodutiva.

Preservar-se contra infecções sexualmente transmissíveis pelo uso de preservativos também é essencial. Manter a qualidade de vida adequada, com alimentação balanceada, prática de atividade física e sem fumar ou exagerar no consumo de bebidas alcoólicas, também é recomendado.

Considerar o congelamento de óvulos também é uma parte importante na prevenção de problemas futuros com infertilidade. Sugere-se uma consulta com ginecologista para entender possibilidades e ser orientada sobre elas. Essa técnica é especialmente importante para mulheres que não pretendem engravidar nos próximos anos. A melhor idade para a coleta de óvulos seria entre 30 e 35 anos, mas a decisão é individualizada. 


Revisão técnica: Erica Maria Zeni, médica da Unidade de Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein. Possui graduação e residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e residência em Medicina Interna pela Universidade de São Paulo (USP). Também possui pós-graduação em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium Latinoamérica Medicina Paliativa, em Buenos Aires, Argentina.

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