Afinal, como prevenir o risco de afogamentos? Com a chegada das férias e das altas temperaturas, curtir mais passeios em praias, piscinas, rios e cachoeiras pode ser algo muito agradável.
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No entanto, é preciso dobrar os cuidados ao brincar na água, pois o risco de afogamentos também aumenta. Segundo dados de 2020 da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), a cada uma hora e meia um brasileiro morre afogado.
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Considerando o tempo de exposição, o afogamento tem um risco 200 vezes maior de morte do que acidentes de transporte, por exemplo. Isso se dá por conta da lesão cerebral ocasionada pela falta de oxigênio.
Principais riscos de afogamentos
Ela geralmente começa após cinco minutos de oxigenação inadequada e, esta é a principal causa de morte em afogamentos. Estima-se que cerca de 20% das vítimas não fatais sofrerão danos neurológicos que resultam em sequelas a longo prazo.
“Muitas vítimas de afogamento sofrem lesões neurológicas que limitam a recuperação funcional e podem deixar sequelas permanentes. Cerca de 10 segundos são suficientes para que uma criança fique submersa dentro de uma banheira. Apenas dois minutos são suficientes para que ela perca a consciência. Se ela ficar de quatro a seis minutos submersa, pode ter complicações mais graves e danos permanentes no cérebro”, alertou a neurologista Rejane Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Essas lesões isquêmicas primárias podem ser reversíveis em crianças que recebem ressuscitação e tratamento adequados, mas também podem deixar sequelas como alteração de memória, distúrbios do movimento, distúrbios de coordenação, entre outros.
“Alguns minutos a mais da falta de tratamento podem evoluir para o coma vegetativo e até para a morte cerebral”, ressaltou Tânia Zamataro, pediatra membro do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e também do Hospital Israelita Albert Einstein.
Presença de água nas vias aéreas
O afogamento geralmente ocorre de forma silenciosa e rápida. A vítima se debate para tentar manter as vias aéreas fora da água, submerge e emerge várias vezes até o momento que acaba inspirando o líquido pelas vias aéreas involuntariamente. Então, a água atinge os pulmões, causando o prejuízo imediato das funções respiratórias.
“Ao entrar nos pulmões, independente se for água doce ou salgada, haverá uma mudança na estrutura e nas funções pulmonares. O órgão não conseguirá mais realizar as trocas gasosas de maneira adequada e a diminuição do oxigênio no organismo vai afetar todos os órgãos, incluindo coração e cérebro”, explicou Zamataro.
Além disso, o relatório anual da Sobrasa aponta que o tempo dentro de casa aumentou devido à pandemia e ao distanciamento social imposto no período, assim como o maior acesso às áreas de lazer aquático.
Por isso, em 2020 foram registradas mais mortes por afogamento —especialmente entre crianças de 1 a 9 anos. Esse levantamento também mostra que crianças pequenas se afogam mais em piscinas residenciais, enquanto as com mais de 10 anos e também adultos, costumam se afogar mais em águas naturais como mares, rios, represas e lagos.
Como prevenir afogamentos
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria das mortes por afogamento ocorre em países de média e de baixa renda e poderia ser prevenida com cuidados e atitudes simples. Abaixo, seguem algumas orientações:
- Não deixe o bebê ou a criança sozinhos na banheira, piscina, ou qualquer reservatório de água nem por um instante;
- Crianças abaixo de 4 anos ou as maiores que não têm habilidade completa para nadar precisam ficar a um braço de distância de um adulto que esteja dentro da água e que saiba nadar adequadamente;
- Não deixe baldes, bacias ou outros recipientes com água ao alcance de crianças;
- Se usar piscinas portáteis, esvazie e desmonte depois do uso;
- Não deixe nenhum atrativo, como brinquedos, próximo a piscinas, reservatórios ou recipientes com água que possam atrair a criança;
- Não confie em boias ou outros dispositivos de flutuação que não seja o colete salva-vidas. O colete deixa a criança numa posição com a cabeça e o rosto fora da água;
- Qualquer transporte ou esporte aquático deve que ser feito com o colete;
- Não permita que as crianças utilizem objetos de modismo (como caldas de sereia) sem que haja certificação e confirmação de segurança;
- Não permita que as crianças nadem em piscinas em que não haja proteção nos ralos contra a sucção;
- Mantenha tampa de vaso sanitário sempre abaixada;
- Ensine seu filho que não se deve fazer brincadeiras arriscadas na água, como dar caldo ou fingir afogamento;
- Instale barreiras de acesso com pelo menos 1,5 metro de altura com portão que possa ser fechado;
- Ensine a criança a nadar.
5 elos para o resgate e sobrevivência
Segundo Zamataro, existe uma “cadeia de sobrevivência” do afogamento. São cinco elos que devem ser feitos para nortear o atendimento do afogado e reduzir o risco de morte ou de sequelas:
O primeiro elo é a prevenção (evitar que o afogamento ocorra); o segundo é o reconhecimento do afogado: ao perceber alguém se afogando, peça para alguém ligar 193 (Bombeiros) ou 192 (Samu) para avisar o que está acontecendo, onde é o incidente, quantas pessoas estão envolvidas e pedir ajuda.
Já o terceiro elo é o fornecimento de objeto de flutuação para o afogado, já que a falta de oxigênio é a pior coisa que pode acontecer: “jogue uma boia, corda, galhos, pedaços de isopor, o que for possível para ajudar a pessoa a se manter com a cabeça fora da água”, diz a pediatra.
O quarto elo é a remoção da vítima da água, lembrando que o socorrista deve evitar entrar na água se não for seguro. Por fim, o quinto é instituir rapidamente a ventilação boca a boca ou boca-nariz na pessoa que não está respirando.
“Fazer isso rapidamente aumenta em 4 vezes a chance de sobrevivência sem sequelas”, frisa Zamataro.
A neurologista Rejane Macedo ressalta que complicações mais graves causadas por edema cerebral e pela elevação da pressão intracraniana às vezes podem ser observadas dentro de 24 horas após a lesão, o que mostra a gravidade do problema:
“Muitos dos sobreviventes permanecerão gravemente comprometidos neurologicamente e, consequentemente, serão um grande fardo para sua família e sociedade pelo resto de suas vidas. A educação da comunidade é a chave para a prevenção de afogamentos e suas graves consequências”, explica a especialista.