Cirurgia torácica robótica, em que casos é aplicável e quais os benefícios

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A introdução de técnicas de cirurgia robótica reforça que esse avanço da Medicina veio para ficar. Pouco a pouco, tende a ganhar cada vez mais espaço nos ambientes cirúrgicos, em diferentes especialidades. Nesse contexto, a cirurgia torácica robótica merece destaque, beneficiando pacientes e profissionais de saúde.

Para esclarecer os principais pontos a respeito desse tema e tirar dúvidas comuns sobre as aplicações desse recurso, bem como os cuidados necessários, vamos contar, neste texto, com o apoio do Dr. Ricardo Mingarini Terra. Ele é cirurgião geral e torácico, além de coordenador da Pós-Graduação em Cirurgia Torácica Robótica do Hospital Israelita Albert Einstein.

Afinal, o que é cirurgia torácica robótica?

Em termos gerais, uma cirurgia robótica é um procedimento em que todos os movimentos e manobras são conduzidos por cirurgião por meio de um joystick (ou seja, um controle), e executados a partir de um robô. Tudo isso faz dessa opção uma técnica minimamente invasiva, das mais modernas entre as disponíveis atualmente, em especialidades que vão da urologia a ginecologia.

A cirurgia torácica robótica segue o mesmo princípio, aplicado a intervenções realizadas na região do tórax. Ela pode ser empregada em doenças que demandem intervenção cirúrgica convencional. Por outro lado, esse tipo de procedimento não pode ser realizado por qualquer profissional.

Pacientes que são submetidos a cirurgias torácicas robóticas se beneficiam de incisões muito menores do que procedimentos convencionais, que precisam de uma abertura muito maior. O console à disposição do cirurgião controla os braços robóticos proporcionando uma visão em três dimensões, com alta definição ao longo de todo o procedimento.

Além disso, os movimentos são “filtrados” pelo equipamento, evitando a interferência dos tremores das mãos do cirurgião. De forma adicional, outros dispositivos reforçam a segurança do procedimento. Um deles “bloqueia” qualquer movimento sempre que o cirurgião tira seu rosto da tela de controle do console, por exemplo.

É claro que as cirurgias robóticas não são o primeiro procedimento minimamente invasivo da história da Medicina. É o que já acontece nas laparoscopias, por exemplo, em que câmeras e hastes são inseridas no paciente por meio de pequenas incisões. Contudo, nas cirurgias robóticas, quem fica ao lado do leito são os instrumentos (ou seja, o robô), enquanto o profissional controla o equipamento pelo console.

Que profissionais podem indicar e conduzir a cirurgia torácica robótica?

Como reforça Terra, “apenas cirurgiões torácicos devem conduzir as cirurgias robóticas do tórax”. Além da habilitação para intervenções nessa região do corpo, o responsável pelo procedimento deve ter capacitação prévia reconhecida para intervenções com o suporte robótico”.

Nessa capacitação, o profissional passa por treinamentos e testes teóricos e práticos que permitem a ele operar o robô utilizado na cirurgia, um equipamento sensível e sofisticado.

Para quais problemas é indicada a cirurgia torácica robótica?

A cirurgia torácica robótica é indicada para doenças que exijam intervenção cirúrgica. Desse modo, Terra aponta que o recurso pode ser empregado em quadros como:

  • Ressecção pulmonar em casos de câncer de pulmão;
  • Metástases pulmonares;
  • Nódulos pulmonares;
  • Bronquiectasias e lesões congênitas do pulmão;
  • Ressecção do timo e de tumores e cistos do mediastino;
  • Miastenia gravis;
  • Timoma, cistos e outros tumores do mediastino;
  • Ressecção de tumores nos brônquios e na traqueia;
  • Ressecção de tumores da parede do tórax;
  • Ressecção da primeira costela em pacientes com síndrome do desfiladeiro torácico;
  • Cirurgia do diafragma em pacientes com hérnia ou eventração diafragmática.

Quais os benefícios para o paciente?

Sem dúvida, os próprios pacientes são os maiores beneficiados pela utilização dos recursos de robótica na cirurgia torácica. Ao permitir um procedimento minimamente invasivo, com incisões pequenas, essa opção leva a uma recuperação mais rápida, com menos dor, sangramentos e uma chance reduzida de complicações, devido ao menor trauma provocado pela cirurgia e pela menor possibilidade de infecções.

Além disso, como reforça o especialista, a cirurgia robótica torácica permite também uma atuação “mais precisa devido à destreza dos instrumentos robóticos e à visão tridimensional, o que torna mais simples até os procedimentos mais complexos de serem realizados por videotoracoscopia, ampliando a possibilidade do uso da cirurgia minimamente invasiva”.

O procedimento feito com o auxílio robótico também pode trazer benefícios estéticos, uma vez que as cicatrizes são menores, sendo imperceptíveis em inúmeros casos. No mesmo sentido, a formação de aderências e tecidos cicatriciais é consideravelmente menor em uma cirurgia robótica torácica.

Quais as vantagens do procedimento robótico para médicos e profissionais da saúde?

A grande extensão dos benefícios para os pacientes não exclui as vantagens que médicos e demais profissionais de saúde podem obter graças à adoção da cirurgia torácica robótica. De acordo com Terra, essa opção “facilita o procedimento, diminuindo a taxa de conversão para cirurgia aberta. Pela sua melhor ergonomia, cansa menos o cirurgião, que fica mais disposto, apesar de procedimentos sequenciais”.

A estabilidade e a nitidez das imagens também promovem maior eficiência e precisão no procedimento, graças a uma localização certeira da área da cirurgia e de todas as estruturas que passarão pela intervenção. No mais, em muitos casos, a configuração do robô dispensa a necessidade de um segundo cirurgião, otimizando os recursos humanos disponíveis.

Quais os principais cuidados no pós-operatório?

De forma geral, o pós-operatório de cirurgia torácica robótica é similar a um procedimento convencional. Ou seja, ela envolve o controle da dor, o monitoramento do dreno e a mobilização precoce, em que o paciente é estimulado a levantar e andar depois de determinado período após o procedimento.

“O paciente deve sair do leito e fazer a fisioterapia respiratória o mais breve possível. A cirurgia robótica, por ser menos invasiva, permite acelerar esse processo”, destaca Terra.

A cirurgia robótica torácica é uma inovação significativa, capaz de revolucionar o cuidado diante de diferentes doenças que exijam intervenção cirúrgica, trazendo benefícios para médicos e pacientes. Com a implementação das redes 5G, as telecirurgias são outra possibilidade no horizonte, ainda que isso exija capacitações adicionais, tanto dos profissionais quanto das instituições hospitalares.

Agora, que tal aproveitar e ler um conteúdo com um panorama completo dos avanços das cirurgias robóticas?

Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).

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