Tudo o que você precisa saber sobre infecção urinária

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Muita gente tem um ou mais conhecidos que já tiveram infecção urinária em algum momento da vida. Afinal, trata-se de um problema de saúde bem comum. Segundo artigo de 2019, da Faculdade de Medicina da USP, ela atinge 7 milhões de indivíduos anualmente.

Mesmo assim, várias pessoas desconhecem quais as causas, se há fatores de risco e como tratar a infecção urinária adequadamente, para que não haja complicações. Por isso, trouxemos este post para ajudar você a conhecer mais sobre esse problema.

Leia com atenção e não se esqueça: ao apresentar sintomas, não perca tempo e marque uma consulta médica. Assim, você é avaliado e faz os exames necessários para um correto diagnóstico e solução da doença!

O que causa infecção urinária?

As causas da infecção urinária estão relacionadas à entrada de bactérias nocivas no trato urinário do ser humano, o que engloba uretra, rins, bexiga e ureteres. Uma vez que ocorre essa entrada, elas passam a se proliferar na região, gerando colônias de bactérias.

Isso vai comprometendo, aos poucos, o funcionamento do sistema urinário e, à medida que evolui, pode provocar múltiplos sintomas. É importante frisar isso porque o surgimento de sintomas é bastante comum, mas não é obrigatório. Em algumas pessoas, a infecção se manifesta de forma assintomática.

“Como há o contágio com essas bactérias?”, você pode estar se questionando. Saiba que há alguns meios. Um dos principais é a falta de higiene íntima, que acaba contribuindo para a manutenção de microrganismos que vêm do trato gastrointestinal (como a Escherichia coli) na região do reto/ânus.

Como o tempo, esses microrganismos podem se espalhar para os órgãos genitais e, deles, para o trato urinário. Outro exemplo, que está bastante interligado ao primeiro, é o uso de peças íntimas (como cuecas, sungas, calcinhas e biquínis) bastante apertadas e com tecidos que dificultam a transpiração da pele, ou mesmo, que retêm o suor por mais tempo.

Quando isso ocorre, a umidade na região aumenta e, com a temperatura elevada do corpo na área, gera o ambiente perfeito para o crescimento de colônias de bactérias. Vale mencionar, ainda, outros fatores que causam esse problema de saúde.

É o caso da baixa ingestão de água no dia a dia. A falta de hidratação adequada reduz o volume de urina, que é importante para a eliminação não só de toxinas, mas também de microrganismos.

Já nos homens, em específico, o aumento da próstata (chamada de hiperplasia prostática) pode ser mais um fator para o desenvolvimento de uma infecção urinária. Isso porque, quando está muito expandida, ela acaba comprimindo a uretra, que é justamente o canal responsável pela eliminação da urina.

Logo, os homens acabam urinando menos e com muito mais dificuldade. Com isso, ficam mais suscetíveis à proliferação de bactérias nessa área.

Quais os tipos de infecção urinária?

A infecção urinária tem alguns subtipos, que são categorizados conforme o local do trato urinário que é mais afetado. Ao todo, são três. Saiba mais sobre cada um deles:

  • uretrite — indica que as bactérias estão concentradas na uretra, que é o primeiro ponto de contato com microrganismos externos, o que vai causar inflamação na região e dificultar não só o ato de urinar, mas também o de ejacular (no caso dos homens);
  • cistite — indica que as bactérias foram da uretra para a bexiga e, agora, acumulam-se nela, causando a desregulação do órgão, o que pode levar à retenção da urina ou à liberação constante da urina que deveria ficar armazenada ali;
  • pielonefrite — indica que a infecção alcançou todas as outras partes do trato urinário, chegando aos ureteres e ao ponto mais alto, os rins. Nesse caso, as dores são frequentes e podem inviabilizar por completo a rotina da pessoa.

Quais os principais sintomas desse problema?

A seguir, reunimos alguns dos sintomas que aparecem com mais frequência durante a infecção urinária. Tome nota de quais são eles, pois esses sinais ajudam você a saber que há algo errado com o seu corpo!

Incontinência urinária

Quando você urina sem intenção de realmente fazer isso, por falta de autocontrole, é preciso atenção. Em algumas pessoas, esse sintoma é mais pontual ao longo do dia. Já em outras, a incontinência é mais intensa e pode gerar situações constrangedoras, devido ao volume de urina que escapa.

Desconforto ao urinar

Além da incontinência, há outro problema frequente relacionado ao ato de urinar: o desconforto que ele gera em quem tem a infecção. Isso porque o trato urinário fica inflamado, em especial, a uretra, que é o canal por onde sai a urina. Por essa razão, a pessoa sente ardência contínua e dores pulsantes enquanto se alivia.

Dores pélvicas

O trato urinário se inflama e fica irritado quando é atacado por bactérias. Isso pode levar a uma hipersensibilização da área, o que vai ocasionar dores na região pélvica ou mesmo na parte inferior do abdômen. Há, inclusive, quem sinta o desconforto de forma irradiada e com pontadas ao fazer determinados movimentos ou se exercitar.

Febre recorrente

Ficar febril é mais um sintoma comum. O motivo é, justamente, a presença e a proliferação das bactérias que causam a infecção urinária.

Enquanto o sistema imunológico tenta combatê-las, nossa temperatura sobe para facilitar esse processo. Afinal, muitos microrganismos não sobrevivem a altas temperaturas.

Mudança na cor da urina

Para concluir, há mais um sinal importante: a mudança na cor da urina. A depender do nível de inflamação interna, que é mais expressiva em quem retarda a busca por tratamento médico, por exemplo, é possível notar que ela apresenta coloração mais escura ou, até mesmo, presença de sangue. Algo que se mantém e até fica mais evidente com o tempo.

Quais são os fatores de risco da infecção urinária?

O primeiro deles é a obesidade, já que ela ocasiona o aumento da micção devido à elevação da pressão no trato urinário — que é fruto do aumento de peso na região abdominal. Ao esvaziar a bexiga de maneira frequente, os cuidados com higiene aumentam.

O diabetes é outro fator que amplia as chances do aparecimento dessa doença, por conta do volume de glicose, que gera disfunção imunológica e altera a composição da urina. Esse é o resultado de um estudo veiculado na Revista Brasileira de Análises Clínicas. Afinal, o excesso da glicose é eliminado por meio dela, e isso abre margem para que as bactérias possam utilizar esse material como fonte de alimento para se reproduzirem.

Outro fator de risco é a menopausa, como mostrado no primeiro artigo mencionado, que foi produzido pela USP. Isso porque ela leva a alterações internas que mudam o microbioma vaginal (também chamado de flora vaginal), o que pode desencadear aumento de bactérias indesejáveis na região e, consequente, contaminação da uretra.

Além dos fatores citados, há a prática de sexo sem proteção. Embora não estejamos falando de uma infecção sexualmente transmissível (IST), a prática de penetração anal, seguida de penetração vaginal, por exemplo, pode transportar as bactérias de um canal para o outro.

Essa situação faz, assim, com que elas cheguem à uretra. Então, a pessoa desenvolve a infecção urinária.

Infecção urinária é transmissível?

Apesar de se tratar de uma infecção, ela não tem potencial de transmissão para os outros. Ou seja, ter proximidade e, até mesmo, contato íntimo não causará contaminações em terceiros.

Porém, vale reforçar que, apesar de não trazer riscos complexos, esse problema não deve ser negligenciado. Afinal, estamos falando da sua saúde.

Por que ela é mais comum em mulheres? 

Artigo veiculado na Revista Associação Médica Brasileira aponta que a infecção urinária atinge com mais frequência as mulheres. O motivo disso é a anatomia do corpo feminino. Por exemplo, a uretra delas é mais curta do que a uretra dos homens, chegando a apenas 1/4 do tamanho da deles — isto é, quatro centímetros.

Como resultado, o canal de passagem até a bexiga se torna mais acessível e rápido para as bactérias. Outro ponto marcante é o fato de a uretra masculina ter uma parte conectada à próstata, órgão inexistente no organismo feminino.

Fora essas diferenças, há uma terceira bastante importante: a uretra feminina fica mais exposta ao contágio de bactérias do trato gastrointestinal, por conta da localização da vagina — que é bem mais próxima ao ânus.

A título de comparação, nos homens, além da área perianal, ainda há a distância da uretra dessa região que é promovida por pênis e testículos. Logo, episódios de má higiene potencializam bem mais a possibilidade de elas contraírem infecção urinária.

Um estudo conduzido por pesquisadores nacionais e veiculado no Brazilian Journal of Health Review mostrou a proporção de casos entre homens e mulheres. É um dado que ajuda a compreender melhor o impacto do que falamos há pouco.

O grupo formado pelos homens tem 14,2%, enquanto o das mulheres concentra a esmagadora maioria: 85,8%. Além disso, ele mostra que, entre o público feminino, 6 a cada 10 mulheres com infecção urinária estão na faixa etária de 13 a 59 anos.

É comum ter infecção urinária durante a gravidez?

A resposta é sim. Isso porque, para além das questões anatômicas que, naturalmente, já proporcionam a ocorrência desse tipo de problema nas mulheres, a gestação traz diversas mudanças no corpo feminino.

Estudo divulgado na revista Acervo Enfermagem apontam que elas estão relacionadas à expansão contínua do útero. Isso altera a posição do trato urinário, além de ocasionar um aumento da pressão na região.

Uma pesquisa elaborada por médicos da USP e da UFSC, publicado na Revista Feminina, reforça isso, mostrando que as disfunções urinárias na gestação são bastante frequentes, especialmente, envolvendo retenção urinária e incontinência urinária.

Esses dois problemas contribuem direta e indiretamente para a proliferação de bactérias, seja pela diminuição do fluxo da urina, seja pela demanda maior de higiene pessoal. É por isso que, durante os cuidados do pré-natal, é comum que os médicos solicitem exames para avaliar a possibilidade dessa infecção.

Afinal, como destaca o primeiro artigo, quando o problema não é tratado e eliminado, ele pode trazer complicações tanto para a mãe quanto para o feto. É o caso de choque séptico, pré-eclâmpsia e parto prematuro. Em quadros mais graves, há até risco de morrer.

Portanto, é fundamental que as mulheres conversem com os profissionais de saúde e tirem dúvidas sobre como proceder se estiverem infeccionadas. Dessa forma, a intervenção ocorre de forma antecipada e planejada para a total segurança da mulher e do bebê.

Como o diagnóstico é feito?

O diagnóstico consiste em duas partes que estão diretamente conectadas entre si. A primeira é a anamnese, que é aquele momento inicial com o médico, quando ele se informa sobre o seu histórico de doenças e você comenta sobre os sintomas que tem vivenciado até aquele momento.

A segunda parte é o seu encaminhamento para a realização de exames em um laboratório ou posto de coleta. A princípio, o exame necessário é o de urina. Afinal, por meio dele, é possível identificar a presença de bactérias e outros parasitas.

No entanto, se o profissional da saúde considerar importante complementar com mais procedimentos, como a realização exames por imagem (como o ultrassom) e de sangue (como o hemograma), ele também fará os respectivos encaminhamentos deles.

Com a confirmação dos exames e a especificação do microrganismo que está afetando a sua saúde, o médico dará início ao seu tratamento da infecção urinária.

Como tratar infecção urinária?

Por estarmos falando de um problema de origem bacteriana, a base do tratamento de infecção urinária precisa ser medicamentosa — isto é, com antibióticos. Porém, a depender das suas queixas, o profissional também pode prescrever anti-inflamatórios e analgésicos para ajudar a aliviar dores, irritações e dificuldades para urinar. Mas não acaba aí.

A razão disso é que o médico também fará recomendações importantes sobre mudanças de hábitos para fortalecer a sua imunidade e evitar quadros de reinfecção. Por exemplo, sobre como se hidratar adequadamente, a importância do usar métodos contraceptivos durante as atividades sexuais, os cuidados de higiene íntima que você precisa adotar etc.

É preciso internação em caso de infecção urinária?

De maneira geral, a resposta é não. Isso porque você faz o tratamento de forma caseira e sem auxílio de terceiros. Basta ter os medicamentos e colocar em prática novos hábitos que ajudam não só a reduzir os sintomas do problema, mas a acabar com as bactérias no trato urinário.

Resumindo: tudo isso, sem precisar permanecer no hospital, dando continuidade à sua rotina e aos seus afazeres. Os casos de internação só serão necessários em quadros clínicos muito agudos envolvendo, por exemplo, o desenvolvimento de pielonefrite.

Como se prevenir contra a infecção urinária?

A prevenção contra a infecção urinária começa com a mudança de hábitos da rotina. Esses pontos, inclusive, são discutidos pelo médico que acompanha seu caso. Veja:

  • redobrar a higiene pessoal para que a área não seja alvo da proliferação de bactérias e cause problemas de saúde — em especial, a ginecológica/urológica;
  • não usar cosméticos, remédios, manipulados ou produtos com substâncias químicas na região íntima sem a devida orientação de médicos especialistas;
  • evitar segurar a urina sem necessidade, pois isso mantém as bactérias mais tempo no trato urinário e pode causar inflamações ou irritações na uretra que vão favorecer a incidência de microrganismos;
  • não compartilhar roupa íntima com outras pessoas, principalmente se elas tiverem sido usadas recentemente. Tenha em mente que elas podem conter bactérias e outros germes que podem afetar sua saúde;
  • não usar duchas higiênicas de terceiros, pois você não tem como assegurar a devida limpeza delas. Logo, esses itens podem conter resquícios de fezes, urina e outras secreções que acumulam microrganismos;
  • hidratar-se adequadamente, o que requer beber água (com um consumo mínimo de dois litros) no decorrer do dia para manter normal o fluxo de urina — algo importante não só para a eliminação de toxinas e microrganismos, mas também na regulação da temperatura corporal.

Além de tudo isso, é importante a realização de consultas e exames de rotina, pois nem todos os problemas de saúde são sintomáticos. Logo, a forma de conseguir ter um diagnóstico e iniciar um tratamento é por meio do atendimento recorrente com profissionais do ramo.

Como deve ser feita a higiene pessoal?

Manter uma boa higiene pessoal é fundamental para prevenir o surgimento, ou mesmo o retorno da infecção urinária. Por isso, trouxemos algumas dicas que vão ajudar a reforçar os seus cuidados íntimos. Fique atento!

Tome banho diariamente

O banho é parte importante da higiene pessoal. Além de remover o sebo da pele e demais impurezas que se acumulam sobre ela ao longo do dia, também tira a oleosidade, o suor e as células mortas. Ou seja, elementos que funcionam como um verdadeiro chamariz para o desenvolvimento de microrganismos.

Portanto, tome banho diariamente. Caso você pratique esportes ou alguma atividade física que faça transpirar muito, vale a pena redobrar o número de duchas. O mesmo pode ser dito para quem mora em cidades mais quentes e abafadas, em que é habitual suar com frequência. Nesses casos, banhar-se mais vezes é necessário.

Use sabonetes neutros

Sabonetes corporais, xampus e produtos afins não devem ser usados na região íntima. Afinal, eles não são produzidos para essa finalidade, podendo desregular o volume de bactérias que ali vivem, provocar ressecamento da pele, causar alergias e irritações etc.

O correto é usar um sabonete neutro adequado para essa área do corpo. Caso você não tenha ideia de qual produto é o mais indicado, sem problemas. Você pode conversar com o médico para ele dar algumas sugestões. As mulheres, por exemplo, podem questionar ao ginecologista. Os homens, por sua vez, ao urologista.

Troque de roupa íntima

Adquira o hábito de trocar de roupas íntimas todos os dias. O ideal, inclusive, é que você substitua elas depois de cada banho. Isso é importante para que essas peças não acumulem bactérias e exponham os seus órgãos genitais a esses microrganismos por longos períodos de tempo.

Além disso, é importante que elas sejam feitas de tecidos leves e transpiráveis, como o algodão. Dessa forma, há menos chances de as roupas ficarem úmidas por conta do seu suor.

Use o papel higiênico após urinar

Homens e mulheres devem utilizar o papel higiênico após urinar para secar o órgão e evitar que ele acabe ficando úmido ou, até mesmo, molhado por conta de gotas de urina que ainda residem na uretra. Algo que, inclusive, pode afetar a peça íntima usada. Isso é importante para não favorecer a má higiene pessoal.

Do contrário, a urina pode se misturar com suor e estimular o crescimento de bactérias, fungos e outros germes. Esses microrganismos vão causar mau odor e até complicações mais inconvenientes, como dermatite de contato, inflamações, descamação etc.

No caso do homem, o uso do papel deve se concentrar na glande. Já na mulher, é preciso redobrar o cuidado. Isso porque o papel deve passar pelo clitóris e cobrir a vagina, mas sem fricção ou uso excessivo de força para não gerar machucados.

Para completar, sempre faça o movimento descendo em direção à área perianal para que o produto não acabe entrando em contato com bactérias locais, levando-as para o seu órgão genital.

Já depois da evacuação, o recomendado é a limpeza com água e sabonete neutro. Para tanto, você pode optar pelo uso do bidê, da ducha higiênica ou, então, por um banho.

A infecção urinária é um problema que causa desconforto físico e pode gerar complicações quando não recebe a devida atenção. Além disso, ela afeta, em especial, as mulheres. Contudo, é uma doença de fácil diagnóstico e tratamento. Inclusive, há muitas ações simples de prevenção que podem ser adotadas por você para evitar o surgimento dela.

Siga as nossas dicas e mantenha uma rotina de visita ao consultório médico. O devido acompanhamento com o profissional é útil não só para lidar precocemente com esse tipo de infecção, mas também para manter a sua saúde sempre em dia.

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Revisão técnica: Marcelo Costa Batista, pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein e professor associado livre-docente da disciplina de nefrologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

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