Do nascimento até por volta dos 30 anos de idade, os músculos de uma pessoa podem facilmente crescer e se fortalecer por meio de estímulos físicos, como exercícios na academia. Depois, a tendência é de que o corpo comece a perder massa muscular, se não seguir sendo estimulado.
A longo prazo, essa diminuição progressiva e generalizada que acomete o sistema musculoesquelético pode ser classificada com um quadro de sarcopenia. Esse transtorno, caracterizado por uma perda acelerada de massa, força e função muscular, pode levar a episódios de dor esquelética, aumento do risco de quedas, entre outros prejuízos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a condição costuma ser mais prevalente entre os idosos – embora não seja restrita a eles. No Brasil, atinge de 5% a 13% das pessoas com idades entre 60 e 70 anos; entre aqueles com 80 anos ou mais, a incidência varia de 11% a 50%.
O que está por trás da sarcopenia?
Em geral, a sarcopenia tem causas naturais, decorrentes dos próprios processos biológicos de envelhecimento. Isso porque, com o avançar da idade, diminui a quantidade e o tamanho das fibras musculares, assim como também cai a concentração de hormônios essenciais para a manutenção e o rejuvenescimento do tecido muscular. É o caso, por exemplo, da testosterona, do estrogênio, do hormônio do crescimento humano (HGH) e da insulina-1 (IGF-1).
Além disso, acredita-se que alguns fatores podem contribuir ainda mais para o desenvolvimento da sarcopenia. Isso inclui manter um estilo de vida sedentário, sem uma rotina regular de exercícios físicos, sobretudo os de resistência, e ter uma dieta desequilibrada, com baixa ingestão de proteínas, vitaminas e minerais.
Também há casos nos quais a preexistência de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, câncer e hipertensão, favorece o surgimento desse problema muscular. Daí a importância de seu tratamento correto, para evitar quaisquer complicações prejudiciais.
Manifestações típicas
Uma vez que a sarcopenia tem como traço mais típico a fraqueza muscular, a doença pode se manifestar das seguintes formas:
- Perda de resistência;
- Maior dificuldade para realizar atividades cotidianas;
- Andar lento;
- Problemas para subir escadas;
- Falta de equilíbrio;
- Quedas recorrentes;
- Diminuição do tamanho dos músculos;
- Menos força;
- Piora da coordenação motora.
Como saber se é sarcopenia
A partir da suspeita de sarcopenia, o mais indicado é buscar atendimento com um clínico geral ou um profissional especializado em geriatria e gerontologia. Para investigar o quadro, é comum que o médico conduza anamnese e avaliações físicas, com testes de aplicação de força dos braços e das pernas.
Conheça três deles:
Teste de preensão manual
O paciente é solicitado a apertar um dispositivo que mostra quanta força ele consegue aplicar com uma mão de cada vez. Esse número é considerado um bom indicador de sua força geral.
Teste de sentar e levantar da cadeira
Aqui, o médico pede para a pessoa sentar e se levantar da cadeira quantas vezes conseguir em 30 segundos. A ideia é que ela não use os braços para se apoiar em objetos próximos ou no próprio corpo. Esse é um teste de força nas pernas.
Teste de velocidade de caminhada
Este exame avalia o tempo gasto para o indivíduo caminhar de um ponto a outro em sua velocidade normal. Geralmente, utiliza-se um espaço de 4 metros de distância.
Em certos casos, também podem ser solicitados exames de imagem complementares para confirmação do diagnóstico. Eles podem incluir ressonância magnética, tomografia computadorizada, absorciometria de raios-X de dupla energia e análise de impedância bioelétrica.
Dá para tratar e prevenir?
Mesmo sendo considerada uma doença crônica, sem cura, a sarcopenia é gerenciável por meio de tratamentos que aliviam e desaceleram a progressão dos sintomas. Esses cuidados também são compreendidos pelas autoridades de saúde como formas de prevenção.
De acordo com o Ministério da Saúde, a melhor forma de evitar o problema é por meio de mudanças no estilo de vida. Isso passa por ter uma alimentação saudável, sempre que possível, associada à prática de exercícios físicos.
Um programa típico de treinamento de força pode incluir exercícios com pesos livres ou aparelhos de musculação e faixas elásticas de resistência. Também é possível envolver os chamados exercícios de peso corporal.
Na dieta, o foco deve ser em alimentos ricos em valor energético, proteínas, vitaminas e sais minerais. Alguns exemplos desses grupos são:
- Proteínas: carnes, ovos, leite, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico e soja) e oleaginosas (castanhas, nozes e amendoim);
- Carboidratos: milho, aveia, arroz, macarrão, batata, inhame, quinoa, mandioca, cará e pão;
- Gorduras: azeite, oleaginosas, abacate e coco;
- Vitaminas: leite, peixes, ovos, fígado, castanhas e manteiga.
Em alguns casos específicos, é possível que seja necessário o uso de medicamentos para reposição hormonal ou suplementos alimentares. A decisão, porém, cabe apenas ao médico responsável. O acompanhamento com especialistas de outras áreas, como nutricionistas e profissionais de educação física, também pode ser recomendado.
Revisão técnica: Alexandre R. Marra (CRM 87712), pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE)