O envelhecimento é um fenômeno mundial: em aproximadamente três décadas, o número de pessoas idosas será equivalente ao de crianças no mundo todo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a pirâmide etária já começou a inverter: em 2022, pela primeira vez, os idosos deixaram de ser a menor fatia da população – agora, representam 15,8% dos brasileiros, superando os jovens entre 15 e 24 anos (14,7%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diante desse cenário, é cada vez mais importante a busca pelo envelhecimento saudável e por mais qualidade de vida. A seguir, conheça 10 cuidados com a saúde que toda pessoa idosa deveria ter:
1. Ter uma alimentação equilibrada
Uma dieta balanceada é essencial para o envelhecimento saudável. A alimentação da pessoa idosa deve ser variada, priorizando ingredientes in natura (verduras, legumes, feijão, arroz, raízes, ovos e carnes) ou minimamente processados. Essas pessoas devem consumir o mínimo possível de ultraprocessados, aqueles produtos com adição de açúcar, gordura, corantes e conservantes.
Quando comprar alimentos industrializados, a recomendação é sempre preferir aqueles com menos itens nas listas de ingredientes. Ao olhar o rótulo, lembre-se de que os componentes aparecem em ordem de maior para menor quantidade. Isso significa que se “açúcar” é o primeiro da lista, por exemplo, ele é o principal ingrediente daquele produto.
Nessa fase da vida, a ingestão proteica também deve receber mais atenção. Isso porque, com o envelhecimento, ocorre um prejuízo na manutenção e formação de massa muscular. Também é preciso estar atento a possíveis casos de déficit nutricional. Vários fatores podem impactar no apetite das pessoas idosas — como doenças, medicamentos, sensação de solidão e até mesmo as alterações de paladar e olfato que ocorrem durante o envelhecimento.
2. Manter-se hidratado
A ingestão adequada de água é essencial para o funcionamento do nosso organismo. O consumo insuficiente de líquidos por pessoas idosas pode levar a quadros de desidratação, além de aumentar o risco de infecções urinárias, insuficiência renal, constipação, confusão e delírio. O Ministério da Saúde recomenda a ingestão de pelo menos 2 litros (seis a oito copos) de água por dia, preferencialmente no intervalo das refeições.
Mas diversos fatores podem impedir que essa meta seja atingida pelos idosos. Entre eles, doenças crônicas, demência, dificuldades motoras ou de comunicação e incontinência urinária. Há também alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento que podem afetar a percepção de sede.
3. Fazer atividade física regularmente
A atividade física engloba qualquer movimento corporal que resulta em gasto de energia – isso inclui caminhar, subir escadas e realizar tarefas domésticas, por exemplo.
Já o exercício físico é algo específico, planejado, estruturado e repetitivo, com o objetivo de melhorar ou manter a aptidão física. Em geral, é realizado em sessões determinadas, com foco em força, resistência, flexibilidade ou saúde cardiovascular. O ideal para o idoso é unir tanto a atividade física quanto o exercício regular.
Manter-se fisicamente ativa tem vários benefícios para a pessoa idosa:
- Proporciona aumento de massa muscular, força e potência;
- Melhora a composição corporal e reduz a gordura visceral;
- Diminui os marcadores de estresse oxidativo;
- Previne doenças crônicas, como diabetes e hipertensão;
- Promove bem-estar, reduzindo a ansiedade e a depressão;
- Ajuda a preservar a função cognitiva e a memória;
- Preserva a autonomia nas atividades diárias;
- Aumenta a interação social.
4. Evitar quedas
As quedas são uma preocupação significativa para os idosos e podem ter consequências graves, como fraturas, hospitalização e perda de independência. Entre as causas do maior risco de cair nessa idade estão as alterações físicas decorrentes da perda de força muscular, equilíbrio e coordenação; condições de saúde que afetem a mobilidade e a visão; e uso de medicações, já que alguns remédios podem causar tontura.
Uma das formas de prevenir quedas é a realização de exercícios de força e equilíbrio, além de manter um ambiente seguro em casa, livre de obstáculos, com tapetes antiderrapantes e boa iluminação. Com a supervisão profissional, é possível identificar riscos individuais e ajustar os treinos, garantindo segurança.
5. Manter consultas e exames médicos em dia
Nem todo mundo envelhece da mesma forma. Por isso, toda recomendação de exames e consultas deve ser individualizada, levando em consideração a saúde geral do paciente. Uma dica para quem está entrando na “terceira idade” é passar por uma consulta no mínimo uma vez por ano. É nessa consulta clínica que o indivíduo deve conversar com o médico e expor possíveis queixas, além de ser indagado sobre problemas relacionados a cognição, humor, atividade física, alimentação, sono, memória e hábitos de vida.
Além do encontro com o médico, também podem ser indicados exames laboratoriais ou de imagem que possam trazer informações importantes sobre a saúde daquele indivíduo. Exames como colonoscopia, mamografia e outros de prevenção oncológica também podem ser considerados.
6. Atenção com o uso de medicações
Os efeitos adversos de medicações podem afetar mais a população idosa, principalmente aqueles de saúde mais frágil. Nessa idade, as pessoas podem ter mais de uma doença crônica, o que aumenta os riscos da interação medicamentosa.
Daí porque é muito importante o acompanhamento de um médico geriatra, que poderá fazer uma avaliação otimizada das medicações: se elas estão sendo usadas da forma correta, na dose certa, se o objetivo foi alcançado e se não há interação entre elas.
7. Manter atividade social
Quando se fala em saúde da pessoa idosa, é preciso pensar além do tratamento de doenças. Estimular a participação em atividades sociais é essencial para o bem-estar emocional e físico. Sem contar que melhora a autoestima e a sensação de pertencimento.
Estudos mostram que idosos que se envolvem em atividades sociais regularmente tendem a ter uma saúde mental mais robusta e uma maior longevidade. Esses compromissos podem incluir desde encontros informais até eventos planejados, como festas, aulas de costura e bordado, sessões de cinema e caminhadas em grupo.
8. Cuidar da saúde mental
Muitas vezes, a saúde mental da pessoa idosa pode ser negligenciada no atendimento médico – seja porque o paciente não se sente confortável em falar sobre ela, seja porque o profissional também não se aprofunda nessas questões. Mas a própria OMS diz: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade.”
A saúde mental engloba tanto aspectos de cognição/memória quanto os de ansiedade/depressão. Quando se avalia a cognição e a memória de uma pessoa idosa, é preciso buscar entender se ela apresenta algum tipo de problema nesse sentido, já que o principal fator de risco para o surgimento de demências é a idade.
Quando se avalia a existência de ansiedade e depressão, que são bastante comuns na terceira idade, é preciso redobrar a atenção. São transtornos que envolvem perda de qualidade de vida e os tratamentos medicamentosos existentes são eficazes.
9. Caderneta de vacinação em dia
A vacinação de pessoas com mais de 60 anos é muito importante pelo fato de que as doenças infecciosas costumam ser mais graves nessa faixa etária, assim como a mortalidade em decorrência dessas condições.
O Ministério da Saúde disponibiliza alguns imunizantes de rotina para essa faixa etária dentro do Programa Nacional de Imunizações (PNI). São eles: a vacina contra influenza (gripe), que deve ser tomada anualmente; dupla bacteriana (difteria e tétano); hepatite B; febre amarela (para quem estiver em situação de risco) e Covid-19. A SBIm e a SBGG têm um calendário específico de vacinação recomendado para pessoas com mais de 60 anos.
10. Atenção também à saúde da boca
Com todos os cuidados de prevenção e promoção de saúde bucal, as pessoas idosas estão envelhecendo com mais dentes. Por isso, é essencial manter os cuidados com a saúde bucal diariamente, de forma adequada e adaptada às possíveis limitações que surgem com o avançar da idade.
Muitos problemas bucais podem acontecer ou exacerbar nessa fase de vida, como doença periodontal, xerostomia, que pode ser acompanhada por redução do fluxo salivar e sua capacidade protetora, além de lesões de cáries e infecções oportunistas.
A saúde da boca também está diretamente relacionada com a saúde geral e sistêmica. Vários estudos têm demonstrado a associação entre doença periodontal e diabetes, cardiopatias e demências, por exemplo.
No caso de quem usa prótese dentária, a higienização do aparelho deve ser realizada de duas a três vezes ao dia, com escova extra macia e pasta não abrasiva ou sabão neutro, para evitar ranhuras na sua superfície. Outras opções são solução de hipoclorito de sódio 2% ou pastilhas específicas.
Após os 60 anos, as idas ao dentista devem ficar mais frequentes, a cada quatro ou seis meses, para que seja feita uma avaliação periódica. É importante lembrar que as medicações de uso contínuo e as doenças sistêmicas devem ser sempre informadas ao profissional dentista para que o tratamento seja completo e adequado para cada paciente.
Fontes consultadas: Isabella Ballalai, infectologista e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); Larissa Fidelis da Silva, profissional de educação física e especialista em fisiologia do exercício e treinamento resistido para idosos do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação; Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG); Letícia Bezinelli, cirurgiã-dentista, coordenadora da graduação de Odontologia e responsável pelo serviço de odontologia hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mariana Staut Zukeran, nutricionista, doutora em ciências e coordenadora da Pós-Graduação de Nutrição em Gerontologia da Faculdade Einstein.