Estamos bebendo mais na quarentena. Fato. A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) divulgou recentemente um crescimento de 38% na venda de bebidas alcoólicas nas distribuidoras e 27% nas lojas de conveniência do país. Mas como ou quando devo me preocupar? Como eu sei se estou bebendo demais? Quais são os riscos? O psiquiatra dr. Alfredo Maluf Neto, do Hospital Israelita Albert Einstein tira as principais dúvidas sobre o tema. Confira!
Por dr. Alfredo Maluf Neto, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein/ CRM-SP 63.466
Por que as pessoas estão bebendo mais na quarentena/isolamento?
A situação de estresse provocada pela pandemia é um fator desencadeante para o abuso de álcool e até dependência. Os transtornos mais prevalentes durante a pandemia são os transtornos ansiosos, depressivos moderados e graves e de estresse pós traumático. Todos podem ter como comorbidade desde o abuso de álcool até a dependência. Sintomas como a insônia, que aparecem ou até pioram neste momento, também podem desencadear um aumento da ingesta de álcool.
Existe um consumo “seguro” para bebidas alcoólicas? Qual é o limite?
Existe uma escala AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) que nos dá parâmetros seguros sobres estes limites. A classificação é basicamente assim:
ZONA I: pessoas que se localizam na zona I geralmente fazem uso de baixo risco de álcool ou são abstêmias. De uma forma geral, são pessoas que bebem menos de duas doses-padrão por dia ou que não ultrapassam a quantidade de cinco doses-padrão em uma única ocasião. A intervenção adequada nesse nível é a educação em saúde para que haja a manutenção do padrão de uso atual.
ZONA II: pessoas que pontuam nesta zona são consideradas usuários de risco. São pessoas que fazem uso acima de duas doses-padrão todos os dias ou mais de cinco doses-padrão numa única ocasião, porém não apresentam nenhum problema decorrente disso. A intervenção adequada nesse nível é a orientação básica sobre o uso de baixo risco e sobre os possíveis riscos orgânicos, psicológicos ou sociais que o usuário pode apresentar se mantiver esse padrão de uso.
ZONA III: nesta zona de risco estão os usuários com padrão de uso nocivo – ou seja, pessoas que consomem álcool em quantidade e frequência acima dos padrões de baixo risco e já apresentam problemas decorrentes do uso de álcool. Por outro lado, essas pessoas não apresentam a quantidade de sintomas necessários para o diagnóstico de dependência. A intervenção adequada nesse nível é a utilização da técnica de intervenção breve e monitoramento.
ZONA IV: pessoas que se encontram neste nível apresentam grande chance de ter um diagnóstico de dependência. É preciso fazer uma avaliação mais cuidadosa e, caso seja confirmado o diagnóstico, motivar o usuário a procurar atendimento especializado para acompanhamento e encaminhá-lo ao serviço adequado
Nota: a presença de níveis diferentes de álcool puro conforme o tipo de bebida revela que, quando uma pessoa bebe uma dose de cachaça, por exemplo, está bebendo a mesma quantidade de álcool presente em uma lata de cerveja ou quando uma pessoa bebe uma garrafa grande de cerveja (600 ml), está bebendo a mesma quantidade de álcool que existe em duas doses de conhaque ou em dois copos de vinho, ou seja, aproximadamente duas doses-padrão.
Dose padrão = uma lata de cerveja ou uma taça de vinho.
Quando o hábito (beber) passa a oferecer riscos à saúde?
A partir da zona 2 estamos falando de usuários com riscos à saúde.
Como identificar se estou bebendo em excesso no isolamento?
A escala trata exatamente desses limites e de parâmetros objetivos. Mas de uma forma geral caso você responda SIM para uma das perguntas abaixo é preocupante. Já caso responda SIM para duas ou mais, procure ajuda!
- Já tentou parar de beber e não conseguiu?
- Se sente incomodado com críticas do quanto bebe?
- Acha que bebe mais do que gostaria?
- Tem que beber logo que acorda para diminuir o mal-estar?
O que fazer caso identifique que estou bebendo em excesso?
É importante procurar ajuda profissional, desde o médico que acompanha previamente a pessoa, ajuda psicológica ou psiquiátrica.