Embora seja um problema considerado ainda raro (ou seja, com baixa incidência na população em geral), a Síndrome de Tourette pode impactar de forma significativa a vida e o convívio social de quem tem a doença. Isso ocorre devido aos tiques motores e vocais característicos dessa condição.
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Logo, é fundamental reconhecer os sinais de manifestação dessa condição, de modo a garantir aos seus portadores o acompanhamento e o tratamento adequados. Dessa forma, propicia uma melhor qualidade de vida para o indivíduo e todos aqueles que o cercam. Para saber mais sobre o assunto, prossiga com a leitura!
O que é Síndrome de Tourette?
A Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsicológico associado a uma variedade de alterações em padrões emocionais e relativos aos comportamentos. É caracterizada, sobretudo, pela presença de tiques motores e vocais, que geralmente, começam na infância e persistem por mais de um ano.
O nome da doença é uma referência ao médico Giles de La Tourrette. Ele era aluno do também médico Marc Gaspard Itard que, em 1825, descreveu o quadro da Marquesa de Dampierre.
Ela apresentava justamente os tiques e comportamentos que compõem o diagnóstico do quadro. Em 1884, ao observar nove pacientes, Tourette aperfeiçoou a descrição da síndrome que teria seu nome.
Por muito tempo, a Síndrome de Tourette foi considerada uma espécie de maldição para quem sofria com ela. Felizmente, isso mudou. Contudo, pacientes com a condição ainda podem sofrer dificuldade de integração social adequada, principalmente, na infância e na adolescência, o que afeta o desenvolvimento psicossocial desses indivíduos.
Dessa forma, sem o acompanhamento adequado, pode se tornar crônica, com a intensificação dos sintomas, bem como o surgimento de outros transtornos emocionais e de personalidade.
Quais sãos os principais sintomas da Síndrome de Tourette?
Os tiques são a principal manifestação da Síndrome de Tourette. Em média, eles parecem atingir mais de 80% das pessoas com a condição. Eles são caracterizados como movimentos anormais, rápidos, súbitos e sem propósito, que podem ser simples ou complexos. Por outro lado, eles são atenuados em situações que exigem atenção ou em períodos de repouso.
Entre as principais manifestações desses tiques motores, estão piscar os olhos, franzir a testa contrair outros músculos do rosto ou de outras partes do corpo e balançar a cabeça. Eles podem, ainda, estar relacionados ao toque e à movimentação de objetos próximos, que geralmente, envolvem ações mais complexas e que podem ser confundidas com atos intencionais.
Em relação aos tiques vocais, os mais frequentes e simples são fungar e coçar a garganta. Já entre os mais complexos estão o uso involuntário de palavras obscenas (coprolalia) ou a repetição de um som ou palavra emitido por outra pessoa (ecolalia).
Tanto tiques motores quanto vocais podem ser suprimidos por alguns instantes, mediante algum esforço da pessoa. Por outro lado, a supressão pode provocar um comportamento exacerbado em seguida. No mais, a síndrome de Tourette está associada, também, a quadros de ansiedade, fobia social e compulsão.
As causas da Síndrome de Tourette não são bem estabelecidas. Porém, acredita-se que seu desenvolvimento esteja atrelado a fatores genéticos e relativos ao desenvolvimento neurobiológico.
Como é feito o diagnóstico da Síndrome de Tourette?
Não existe nenhum exame laboratorial ou de imagem que confirme ou descarte uma suspeita de Síndrome de Tourette. Dessa forma, o diagnóstico é clínico. Com isso, a partir da avaliação profissional, o quadro deve obedecer aos seguintes parâmetros:
- Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, não necessariamente, ao mesmo tempo;
- Tiques que ocorrem diversas vezes ao dia, quase todos os dias, geralmente, em ataques, ao longo de mais um ano, com início antes dos 18 anos;
- Nenhuma perturbação deve ser reflexo do uso de qualquer substância ou decorrente de outras condições médicas (como a Síndrome de Huntington).
O diagnóstico deve se preocupar em diferenciar a Síndrome de Tourette de outras condições que geram comportamentos estereotipados, que podem ser confundidos com os tiques. Além disso, é preciso considerar as manifestações como reflexo do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Qual é o tratamento para Síndrome de Tourette?
A progressão da Síndrome de Tourette pode ter impacto significativo no convívio social do individuo que sofre com a doença. Medidas necessárias se tornam urgentes para minimizar esses desconfortos. Apesar disso, a doença não tem cura.
Em geral, mediante avaliação da condição do portador do momento do diagnóstico, podem ser combinadas intervenções farmacológicas (ou seja, a prescrição de determinados medicamentos) e psicológicas.
A introdução dos medicamentos tem como intuito aliviar e controlar certos sintomas. Ela deve ser feita sempre mediante análise cuidadosa, ponderando o impacto de eventuais efeitos colaterais diante dos benefícios que podem ser alcançados com a prescrição.
Em relação ao suporte psicológico, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) costuma ser a alternativa mais indicada. Ela permite que sejam adotadas técnicas para mudar padrões de pensamento e comportamento do paciente. Entre as estratégias utilizadas, está a exposição com prevenção de resposta (EPR) ou o treinamento de reversão de hábitos (TRH).
Na primeira, o paciente é exposto de forma progressiva a estímulos, ao mesmo tempo em que suprime respostas obsessivas. Já na TRH, o paciente é instruído a interromper o comportamento obsessivo que leva ao tique. Com isso, o indivíduo aumenta a percepção sobre seu comportamento disfuncional e consegue substituí-lo e amenizá-lo.
A orientação do profissional de psicologia é essencial não apenas para o paciente, mas também, para familiares, que podem receber aconselhamento sobre como lidar com os sintomas.
Quais as especialidades médicas envolvidas no acompanhamento dessa condição?
A abordagem da Síndrome de Tourette deve ser feita de modo multidisciplinar. Dessa forma, pediatrias, neuropediatras, neurologistas, psiquiatras e psicólogos costumam ser os profissionais capacitados para lidar com a condição.
Como a doença se manifesta antes dos 18 anos, pais e cuidadores devem ficar atentos a qualquer alteração no comportamento motor de crianças, já que o diagnóstico precoce evita problemas e facilita a integração à vida escolar, amenizando prejuízos ao desenvolvimento. No sentido oposto, ações de repreensão e constrangimento devido aos tiques podem prejudicar ainda mais o quadro.
Embora rara, parece haver um crescimento no diagnóstico da Síndrome Tourette. Parte disso se deve ao maior conhecimento sobre a condição. De qualquer forma, vale ficar atento a qualquer indicativo da presença do distúrbio e procurar ajuda especializada sempre que necessário.
Saiba mais sobre o papel do Psiquiatra e de que forma os profissionais do Hospital Israelita Albert Einstein atuam na área.
Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).