Saiba porque fazer autodiagnóstico é perigoso e contraproducente

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A cena não é incomum: uma pessoa começa a sentir uma dor de garganta e logo toma um anti-inflamatório sem nenhuma indicação médica. Esse autodiagnóstico aparentemente inocente pode trazer problemas sérios e resultados opostos ao esperado.

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Na verdade, em um primeiro momento, o anti-inflamatório provavelmente vai resolver o sintoma mais grave, que é a dor. Mas e depois, quando o efeito passar? E o que será que ele está causando o problema? Qual é a origem da dor?

Vamos falar mais sobre o autodiagnóstico neste texto, acompanhe!

O que é autodiagnóstico?

Em poucas palavras, podemos definir o autodiagnóstico como o diagnóstico que uma pessoa faz em si mesma. Ela avalia os seus sintomas e a partir desses dados, suas vivências e possibilidades, define qual é o seu problema de saúde e como resolvê-lo.

No caso da dor de garganta que mencionamos, essa pessoa sente a dor na garganta, recebe o diagnóstico de uma garganta inflamada por causa do seu resfriado e receita para si mesma um anti-inflamatório a cada 8 horas, conforme a indicação da bula do medicamento.

Por que as pessoas o fazem?

Os motivos para que os indivíduos façam esse tipo de diagnóstico em si mesmos (e também em outros familiares) são inúmeros.

Um deles é porque as pessoas acreditam que tenham experiência de vida o suficiente para identificar os sintomas e conhecer os remédios que podem tratar o problema. São anos vivenciando dores de cabeça, musculares,gripes e resfriados, o que leva alguns a pensarem que sabem o suficiente para se automedicar.

Outro motivo que leva as pessoas ao autodiagnóstico é a falta de acesso a médicos e hospitais. Infelizmente, no Brasil, uma consulta com um especialista pode levar semanas para ser agendada. Além disso, o tempo de espera pelo atendimento pode inviabilizar a consulta, principalmente, para pessoas que precisam trabalhar, estudar, cuidar dos filhos ou fazer tudo isso ao mesmo tempo.

Ao não levar os sintomas a sério (o que é mais um motivo de autodiagnóstico), a pessoa acredita que é mais fácil ir à farmácia e resolver o problema da dor em poucos minutos do que passar horas para ter um diagnóstico profissional.

Por fim, a internet, hoje em dia, é uma grande responsável pelos casos de autodiagnóstico. Que atire o primeiro comprimido quem nunca colocouos seus sintomas no Google para descobrir a causa do problema. O buscador é, até mesmo, chamado carinhosamente por muitos de Doutor Google — e abominado pelos médicos, por motivos óbvios.

Quais são os riscos e impactos do autodiagnóstico?

Como não é difícil de imaginar, apesar de ser muito comum, o autodiagnóstico pode ser muito perigoso para a saúde. Não por acaso a venda de antibióticos, hoje em dia, é restringida, feita apenas para pessoas com a receita.

Isso porque as bactérias (que são o alvo dos antibióticos) podem ficar mais resistentes a cada contato com o medicamento — ou seja, a cada vez que tomamos o antibiótico sem necessidade, estamos ajudando a criar superbactérias.

Assustador, não? Confira outros perigos do autodiagnóstico!

Mascarar sintomas

Voltemos mais uma vez para o exemplo da dor de garganta. Você sente a dor e um pouco de febre, acha que é uma inflamação resultante de um resfriado, mas, ainda assim, pergunta ao Doutor Google o que poderia ser.

As respostas vão desde gripe e resfriado até amigdalite, faringite ou refluxo gastroesofágico. O seu autodiagnóstico está pronto e você volta da farmácia com anti-inflamatórios, analgésicos e um xarope que é “tiro e queda”.

Em poucas horas você está se sentindo melhor, sem dor nem febre, e acredita que está melhorando. Mas, na realidade, a raiz do problema continua no seu organismo. Você não tratou a doença, apenas mascarou os sintomas. A dor e a febre sumiram apenas por causa dos medicamentos que tomou.

Atrasar tratamento

Não precisamos dizer que esse autodiagnóstico e automedicação apenas vai atrasar o tratamento correto, já que os remédios vão “sumir” temporariamente, mas a doença não vai sarar com alguns comprimidos para a dor.

A não ser que seja o caso de um resfriado, que naturalmente tem um ciclo próximo de 3 dias. Ou seja, você tomou os medicamentos que não curaram o resfriado, apenas o ajudaram a lidar com os sintomas enquanto a doença seguia o seu ciclo normal.

Ao atrasar o tratamento com a medicação errada, você apenas adiará a ida ao médico — e, quando for, provavelmente a situação estará bem pior, seja pelo maopr período que conviveu com a doença ou porque os remédios que tomou agravaram o quadro.

A partir do diagnóstico correto feito pelo médico, pode ser que você precise de tratamentos mais fortes e invasivos por mais tempo, resultando em um cenário bem pior do que teria sido se tivesse procurado ajuda profissional logo no início dos sintomas.

Intoxicação ou alergia

Em um hospital ou consultório médico, você provavelmente já ouviu a pergunta: é alérgico a algum medicamento. Esse é um cuidado fundamental que devemos ter ao ingerir qualquer tipo de remédio, já que, em um processo alérgico, o nosso sistema imunológico percebe algum componente deste medicamento como estranho ou invasivo, e começa a combatê-lo, causando os sintomas de alergia (que podem, até mesmo, levar à morte).

Já a intoxicação por remédios acontece quando tomamos uma dose muito alta de um medicamento ou, ainda, quando juntamos mais de um remédio ou o tomamos misturado com alimentos ou bebidas.

Os riscos são enormes, e isso pode acontecer com medicamentos simples, como analgésicos e anti-inflamatórios. Apesar das indicações das bulas, é comum administrarmos as quantidades erradas. E o cuidado deve ser redobrado com as crianças, principalmente em relação às doses de medicações.

Por que procurar um médico especialista?

Somente um médico pode ajudar você a descobrir a causa do problema, por meio da análise clínica e também de exames específicos de sangue, imagem, entre outros.

A partir desse diagnóstico, ele vai poder indicar o tratamento mais indicado no que diz respeito aos medicamentos adequados, às dosagens e também aos dias de tratamento — nem a mais, sem necessidade, nem a menos, para que a doença seja combatida até o fim, mesmo com o desaparecimento momentâneo dos sintomas.

Como você viu, o autodiagnóstico é um risco que você e os seus familiares não precisam correr. Ao surgirem os sintomas, não hesite e procure um médico: ainda que seja preciso dedicar um tempo à saúde para uma primeira consulta, você vai ter a segurança de fazer o tratamento correto — e, até mesmo, de descobrir uma doença mais grave no começo, por exemplo.

Esperamos ter ajudado você com este texto! E ainda falando sobre o assunto, você sabe quais são os riscos dos remédios para emagrecer? Vejaporque não fazer este tipo de automedicação!

Revisão técnica: Alexandre R. Marra, pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE).

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